Cardeal D. Joseph Zen falou em Roma, a’O CLARIM, sobre as negociações entre a China e a Santa Sé

Vaticano não deve ceder em demasia.

O cardeal D. Joseph Zen considera que o Vaticano não deve ceder de forma excessiva às pretensões de Pequim, sob pena de perder a sua própria identidade.

Recentemente, o Papa Francisco disse ser «inaceitável que seres humanos sejam perseguidos e mortos devido à sua crença religiosa», pois «toda a pessoa tem o direito de professar o seu credo religioso livremente e sem restrições».

Em entrevista a’O CLARIM, D. Joseph Zen, bispo emérito de Hong Kong, afirmou: «Sabemos que querer controlar as nomeações episcopais sempre foi uma reivindicação do Governo chinês. Recentemente, o Santo Padre falou disso com grande cautela. Por isso, ficámos tranquilos. Todavia, em Novembro [último] houve notícia de que dois bispos legítimos foram convidados a abrir caminho a duas pessoas ilegítimas, uma das quais excomungada. Isto preocupa-nos. Será trágico para a Igreja na China».

«Durante muitos anos foi dito para se resistir, para se ser fiel, mas agora dizem para se fazer a rendição! Para quê então, se um lado se rende sem conseguir nada, pois este Governo chinês sente-se forte, poderoso e tem meios económicos? Parece a rendição dos fracos às mãos dos mais fortes… Mas a realidade é que temos tanta força na Igreja, ou seja a força espiritual», frisou o cardeal Zen.

Segundo explicou, «é realmente difícil entender» o que se está a passar, dado que «a Igreja não pode ver o que lhe querem dar (…) o Governo quer controlar tudo». Neste sentido, foi categórico: «Estamos a dar tudo. É incompreensível».

«Se o Vaticano ordenar uma rendição, provavelmente, após anos de lutas e privações, alguns irão aceitar; a rendição é fácil. Mas haverá aqueles que vão continuar a opor-se ao facto de uma Igreja independente ser objectivamente cismática. A palavra “cisma” é evitada por misericórdia dos Papas. Como pode alguém dizer que o progresso é forçar todos a entrarem nessa Igreja cismática? Incrível, simplesmente incrível», reforçou o cardeal Zen, que no passado dia 12 de Janeiro foi recebido pelo Papa Francisco em Roma, tendo-lhe manifestado, durante a audiência, algumas preocupações sobre a Igreja Católica na China continental.

O Vaticano negou, entretanto, qualquer “divergência de pensamento e de acção entre a Santa Sé e os seus colaboradores na Cúria Romana”, em relação ao diálogo desenvolvido com a China.

Num depoimento divulgado na passada terça-feira, o director da sala de Imprensa da Santa Sé, Greg Burke, realçou que “o Papa está em constante contacto com os seus colaboradores, em particular com a Secretaria de Estado do Vaticano”, sendo “informado de forma detalhada e fiel sobre a situação da Igreja Católica na China e do diálogo em curso”. O porta-voz do Vaticano salientou que esta é uma matéria que Francisco “acompanha com especial atenção”.

Pedro Daniel Oliveira com Aurelio Porfiri e ECCLESIA

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