A divina autenticidade de Jesus de Nazaré
O director d’O CLARIM, padre José Mario Mandía, publicou recentemente na edição inglesa (online) um pequeno apontamento sobre traços da singularidade de Jesus de Nazaré enquanto fundador religioso. Trata-se de uma reflexão dominical, em parte dirigida aos católicos de Xangai. Jesus foi único na sua essência, missão e legado, numa dualidade entre o humano e o divino: verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
O padre José Mario Mandía inicia a reflexão levando-nos à passagem da leitura de Jesus no Templo, do livro de Isaías, onde afirma ser o cumprimento da profecia messiânica: «Hoje cumpriu-se esta passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir» (Lucas 4:16-21).
Jesus é verdadeiramente único, vinca o padre Mandía: “É o único homem, único fundador de uma religião, que poderia afirmar que as pessoas tinham falado da sua vinda, séculos antes de ele nascer”. Nesta linha de pensamento, o sacerdote cita o arcebispo D. Fulton J. Sheen: “Sócrates não teve ninguém que previsse o seu nascimento. Buda não teve ninguém para o pré-anunciar e à sua mensagem ou dizer o dia em que ele se sentaria debaixo da árvore. Confúcio não tinha o nome da sua mãe e a sua terra natal registados, nem foram dados aos homens séculos antes da sua chegada, para que, quando chegasse, os homens soubessem que ele era um mensageiro de Deus. Mas, com Cristo, foi diferente. Por causa das profecias do Antigo Testamento, a sua vinda não foi inesperada. Não havia previsões sobre Buda, Confúcio, Lao-tze, Maomé, ou qualquer outra pessoa; mas havia previsões sobre Cristo” (The Only Person Ever Pre-Announced, capítulo 1 do livro Life of Christ).
Esta não foi a única afirmação que Jesus fez, explica o padre Mandía: “Ele também afirmou ser divino. Nenhum outro fundador religioso o fez. É por isso que os líderes judeus queriam-no morto. Ele até usou o nome de Deus como revelado a Moisés. Em João 8:58, diz aos judeus: ‘Em verdade, em verdade vos digo, antes que Abraão fosse, Eu Sou’. Agora compare isto com Êxodo 3:14: ‘Deus disse a Moisés: «Eu Sou Aquele Que Sou». E ele [Deus] disse: «Dizei isto ao povo de Israel, Eu Sou[YHWH]enviou-me até vós»’. Em todos os quatro Evangelhos, Jesus afirma cerca de 42: ‘Eu Sou’. Incrível, não é? É por isso que CS Lewis disse que Jesus ou era Deus, ou ‘um lunático’, ou ‘ele seria o diabo do inferno’ [Mere Christianity]. Muitas pessoas chamam a este trilema o argumento: ‘Lunático, Mentiroso ou Senhor’, ou ‘Louco, Mau ou Deus’”.
No entanto, o nosso director lembra que Jesus não era apenas um “discurso”. Ele apresentou provas sobre quem realmente era. O padre Mandía destaca que algumas dessas provas são os seus milagres – curas instantâneas, multiplicar recursos (o milagre dos pães e dos peixes), controlar o estado do tempo, ressuscitar os mortos; estes entre tantos outros. Aqui é de salientar, como refere o sacerdote, que estes milagres não foram vistos por uma ou duas, mas na sua maioria, por multidões de pessoas. “Os Evangelhos registam 38 milagres de Jesus, incluindo o mais espectacular de todos: a sua própria ressurreição. Jesus ressuscitado foi visto certa vez por cerca de quinhentas pessoas que também o tinham visto sofrer e morrer nas mãos dos romanos”, aponta.
Os evangelistas Marcos e João relatam que Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena, logo de manhã, e a outra Maria (Marcos 16:9; João 20:14-18; Mateus 28:9-10). As mulheres são as primeiras testemunhas da ressurreição do Senhor. Pela tarde, antes de aparecer aos Onze, Jesus encontra-se com dois discípulos a caminho de Emaús (Lucas 24:13-35; Marcos16:12-13). Já de noite, no Cenáculo – a sala usada para a Última Ceia –, Jesus aparece ao grupo dos Onze (João 20:19-23).
Para além dos milagres que Jesus realizou, o padre Mandía acentua que outra prova da sua natureza divina são as profecias. Algumas delas sobre si mesmo: que ele será – deve ser (não “poderá ser”) – negado, traído; que ele deve (não “deverá”) sofrer, morrer… e ressuscitar! “Fez previsões sobre os seus próprios apóstolos, como um iria negá-lo, outro iria traí-lo, enquanto os outros iriam dispersar-se quando ele fosse preso, e como eles viriam de novo a ele. Predisse o futuro de Jerusalém, como seria destruída (foi de facto destruída pelos romanos no ano 70 d.C.)”, destaca ainda.
As palavras de Jesus levadas a acções, conclui o padre José Mario Mandía, “lembram-nos as seguintes palavras no início da Bíblia: ‘E Deus disse: Faça-se a luz; e houve luz. [Génesis 1:3]. Deus falou, Deus fez. Jesus falou, Jesus fez. Isto não é tão revelador!”.
A AUTENTICIDADE DAS ESCRITURAS
Os acontecimentos descritos nas Sagradas Escrituras são muitas vezes acreditados pelo próprio autor, como o fez João Evangelista: «Este é o discípulo que deu testemunho destas coisas e que as escreveu. E nós sabemos que o seu testemunho é verdadeiro» (João 21:24).
Por tudo o que Jesus fez à sua dimensão divina, disse e pregou, tendo-se revelado como o verdadeiro Messias anunciado no Antigo Testamento, é preciso crer na autenticidade das Sagradas Escrituras e nos eventos descritos. Até porque, a verdade que proclamam, tem sido por vezes questionada no meio académico. Há quem defenda que nos primeiros séculos os Evangelhos nem tinham o nome do evangelista atribuído. Alegando também que pelas inúmeras cópias que foram feitas ao longo dos séculos e em diversas regiões, que o verdadeiro testemunho e relato foi-se alterando e perdeu-se. Uma dessas figuras controversa é o agnóstico académico Bart Ehrman.
Numa linha contrária aos pressupostos ateístas, o professor de Teologia e investigador das Sagradas Escrituras, Brant Pitre, escreveu o livro The Case for Jesus – The Biblical and Historical Evidence for Christ (“O Caso de Jesus – A Evidência Bíblica e Histórica para Cristo”). Na obra, em síntese, Pitre dá respostas fundamentadas defendendo a autenticidade dos Evangelhos e a divindade de Cristo.
Segundo o autor, ao olharmos para as provas históricas reais, encontramos algo bastante diferente: os quatro Evangelhos são de facto antigas biografias greco-romanas, baseadas no testemunho ocular dos alunos de Jesus e dos seus seguidores, e escritas durante a vida dos Apóstolos.
Sobre a questão da falsa atribuição dos Evangelhos, Pitre refere que então haveria uma intenção explicita de lhe dar grande autoridade e não se escolheria nem Marcos, nem Lucas, que não foram testemunhas oculares. Dessa forma, teriam atribuído esses Evangelhos, porventura, a Pedro, a André, ou até mesmo ao próprio Jesus. Por outro lado, dado os inúmeros manuscritos existentes, teríamos cópias dos Evangelhos até com diferentes autorias o que não acontece.
Brant Pitre mostra porque é que os primeiros cristãos – todos cristãos judeus – vieram a acreditar que Jesus de Nazaré era de facto o Messias judeu há muito esperado. Refere que a resposta gira em torno das duas expressões favoritas de Jesus: “o Reino de Deus” e o “Filho do Homem”. No livro The Case for Jesus, defende que ambas as expressões são extraídas directamente do livro de Daniel. E vai mais longe ao afirmar que as profecias de Daniel foram interpretadas pelos judeus do primeiro século, não só predizendo a vinda do Messias, mas também dando uma linha temporal para quando ele chegaria.
A autenticidade – histórica e factual – de Jesus se ter revelado como Deus está no coração da sua obra, assim o afirma com emoção Brant Pitre, académico e investigador fervoroso na fé.
Miguel Augusto