BEATIFICAÇÃO DO PADRE NAZARENO LANCIOTTI

BEATIFICAÇÃO DO PADRE NAZARENO LANCIOTTI

Mártir em nome da Fé e dos Princípios Cristãos

Nazareno Lanciotti, o missionário transalpino nascido em Roma que durante três décadas se dedicou a anunciar o Evangelho nas florestas e regiões mais pobres do Brasil, e especialmente a proteger os jovens das mais diversas formas de escravatura que lhes eram impostas pelos proxenetas e traficantes de droga, será proclamado bem-aventurado.

Vinte e quatro anos após o seu assassinato – “viemos matá-lo porque há muito que nos incomoda”, estas foram as últimas palavras que o padre Nazareno Lanciotti ouviu antes de ser morto a tiro na sua casa paroquial em Jauru, no Estado brasileiro de Mato Grosso, em Fevereiro de 2001 –, o Papa Francisco acabaria por reconhecer o seu martírio durante uma audiência com o prefeito do Dicastério das Causas dos Santos, cardeal D. Marcello Semeraro, no passado dia 14 de Abril.

Ordenado sacerdote a 29 de Junho de 1966, com 26 anos, Nazareno Lanciotti desempenhou múltiplos cargos pastorais em diversas igrejas de Roma ao longo de cinco anos. Em 1972, ao inteirar-se da existência do “Operação Mato Grosso” – movimento jovem de voluntariado que surgiu em 1967 –, optou juntamente com outros jovens italianos por a ele se associar, tendo partido pouco depois para a América do Sul onde lhe seria confiado o cuidado da paróquia de Jauru, na diocese de Cáceres, a Oeste do Brasil, na fronteira com a Bolívia.

Graças ao trabalho gratuito de milhares de jovens italianos a OMG actua no Peru, Equador, Bolívia e no Brasil, prestando apoio a cerca de cem missões católicas. Para os membros desse movimento o trabalho gratuito em prol dos mais desfavorecidos é “uma maneira construtiva e educativa” de ocupar “o seu tempo livre”, prestando serviço ao próximo.

Em declarações à agência noticiosa FIDES, o padre Enzo Gabrieli, postulador da causa de canonização do padre Nazareno Lanciotti, lembra a realidade difícil com que o missionário se confrontou, pois o seu trabalho pastoral “estendia-se por muitas comunidades espalhadas na floresta”. Porém, Lanciotti não desanimou e, no dorso de uma mula, chegou a Jauru, povoação que viria a transformar-se, “graças à sua paixão e fé”, numa cidade-jardim em redor da igreja paroquial de Nossa Senhora do Pilar. A profunda devoção à Virgem Maria do padre italiano, a centralidade da Eucaristia no seu trabalho missionário e a sua devoção ao Papa estiveram na origem de todo o trabalho realizado em Jauru, que rapidamente se tornou o centro das actividades diocesanas. Entre as suas primeiras acções, o padre Nazareno decidiu construir um sanatório: o missionário cedo se apercebeu das muitas mães que morriam durante o parto e das muitas crianças que perdiam a vida devido a doenças bastante comuns. O hospital mais próximo ficava a duzentos quilómetros de distância, mas com o passar do tempo este sanatório tornou-se um verdadeiro hospital católico que hoje funciona dentro da rede nacional.

Ao cuidado do corpo, o padre Nazareno acrescentou o cuidado do espírito, construindo cerca de quarenta capelas na floresta para servir os muitos fiéis espalhados pelas aldeias por ela disseminadas. Junto à igreja paroquial foram criadas várias “células periféricas” onde se realizavam (e ainda se realizam) orações diárias, mesmo na ausência do missionário.

Em 1987, Nazareno Lanciotti aderiu ao Movimento Sacerdotal Mariano e, um ano depois, foi nomeado Director Nacional para o Brasil. Nessa função realizou frequentes viagens por todo o País para organizar cenáculos de oração com os sacerdotes e membros do movimento “Operação Mato Grosso”. Além de construir um lar para idosos, uma escola para os mais novos e um pequeno Seminário (onde surgiram as primeiras dez vocações locais), Lanciotti trabalhou para travar o tráfico de droga e a prostituição. Todos os sábados à noite organizava actividades para entreter os jovens e alertá-los para os perigos: «A Adoração Eucarística, o Terço e a Devoção à Virgem salvá-los-ão», dizia ele.

É claro que a actividade do missionário gerou muito descontentamento no seio “do mundo e do submundo do crime” que logo o marcaram como alvo a abater.

O martírio de Nazareno Lanciotti ocorreu pouco depois das 9:00 horas da noite de um dia normal da semana, quando dois homens de rosto tapado invadiram a casa paroquial onde o missionário jantava com os seus colaboradores e alguns convidados. Apontando uma arma aos presentes, exigiram dinheiro e perguntaram onde ficava o cofre. O padre Nazareno tranquilizou-os; ofereceu-se para ajudar e os presentes colocaram tudo o que tinham em cima da mesa. Mas os assassinos tinham apenas um objectivo: matar Lanciotti. Os próprios, aliás, antes de lhe darem um tiro na cabeça, revelaram que estavam a mando de “certas figuras locais que estavam bastante incomodadas com as acções da Igreja e do missionário”.

Os dois assassinos fugiram, deixando o dinheiro em cima da mesa, e a polícia local – cuja sede se encontrava a algumas centenas de metros da reitoria – só visitou o local do crime no dia seguinte. O padre Lanciotti foi levado, primeiro, para o hospital de Cuiabá, depois para o hospital Siro-Libanês de São Paulo, onde faleceu a 22 de Fevereiro de 2001, com 61 anos de idade.

“Havia um sistema perverso em vigor antes do assassinato, ao qual o seu trabalho pastoral se estava a opor”, concluiu o Dicastério das Causas dos Santos.

Joaquim Magalhães de Castro

LEGENDA: Padre Nazareno Lanciotti, à direita

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