A aspiração à liberdade, tão querida ao homem contemporâneo, contém em si algo de muito nobre e justo, pois o ser humano foi criado para dominar sobre a criação e não para ser escravo.
Daí haver em nós uma necessidade irreprimível de absoluto e de infinito que nos impele a fugir do sombrio, do fechado e confinado que nos limita, procurando uma maior largueza de movimentos, cada vez mais amplos e ilimitados.
A liberdade é uma constante no coração do Homem e, longe de ser uma quimera, é um horizonte sem fim, sem finitude ou limite, porque é um estado de alma.
Esta atracção pela liberdade leva-nos a uma busca incansável de mais amor sabendo que ambos são o requisito da felicidade.
O autêntico amor tudo transfigura pois acrescenta uma nota de transcendente às coisas banais, dilata a estreiteza em que estamos encerrados e rompe a barreira da opressão ou da falta de liberdade.
Face a algo pessoal ou vivencial que nos desagrada, a melhor reacção possível será a da aceitação livre, de dizer sim a uma realidade aparentemente negativa, para de algum modo a poder tornar positiva, mesmo com dor, mas sempre com esperança.
Trata-se de confiar e aceitar a realidade, não com desânimos, e muito menos com amargura, mas com capacidade de transformar, melhorar e rentabilizar as situações mais adversas.
O homem não pode ser apenas um resultado das suas circunstâncias, mas é, antes de mais, o que são as suas opções livremente tomadas, se as souber acrescentar ao que é, no limite do seu ser.
A realidade concreta da existência pode ter a dimensão do nosso ideal, do sonho e do imaginável e estes não têm fim.
O segredo da nossa liberdade está em nós: só podemos transformar a realidade se a aceitarmos, e só podemos melhorar os outros se, primeiro, nos tivermos corrigido e aperfeiçoado a nós próprios.
Ninguém pode dar o que não tem, nem exigir o que não é. Logo, com toda a tranquilidade a que o realismo espiritual nos conduz, devemos semear a esperança e lançar mão à interminável tarefa de restaurar a nossa liberdade, sem desânimos, tristezas ou maus humores, mas abrindo o coração de par em par para que, nele, a liberdade possa reinar sem restrições de qualquer ordem.
A liberdade humana possui uma grandeza inaudita, não podemos mudar tudo à nossa volta, mas podemos dar-lhe um sentido, mesmo ao que, aparentemente, não o tem.
Somos sempre senhores do desenrolar da nossa vida, os protagonistas da nossa existência e esta terá o valor que lhe conferirmos e nela vamos descobrindo.
Graças à nossa liberdade, tudo se pode revestir de significado positivo e ser motivo de crescimento interior. Nada é banal ou vulgar, porque tudo pode ter a dimensão superior que lhe soubermos dar.
O mal existe mas nós temos a liberdade de o rejeitar ou de o vencer na abundância de bem.
Ser livre não é fazer o que se quer, mas conseguir crescer, optando pelo bem e pelo melhor. Apesar dos inúmeros obstáculos que nos oprimem, ser livre é acreditar que para além do efémero relativo existe um imenso e amplo espaço de liberdade sem fim, que todo o nosso ser anseia por encontrar e na liberdade do Amor Absoluto ser feliz para sempre.
Susana Mexia
Professora