O desafio de amar os nossos inimigos
O nosso Evangelho deste Domingo é de Lucas (6, 27-38), e fala-nos de amar os nossos inimigos. Sabemos que amar o próximo como a si mesmo é suficientemente exigente. Por isso, amar o nosso inimigo é certamente muito mais exigente.
Os pregadores da nossa Igreja têm-nos recordado que, se formos verdadeiros cristãos que compreendem as Escrituras, podemos amar o nosso inimigo, aconteça o que acontecer. Mas não é difícil amar alguém que nos magoa assim tanto? Esta é agora a luta que todos nós temos de enfrentar se quisermos segui-Lo. “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos maldizem, orai pelos que vos maltratam”. É isto que Deus nos está a dizer. Então, como é que podemos seguir o Evangelho de Lucas? Amar o nosso inimigo significa que temos de tentar não fazer coisas más. Se o nosso inimigo nos atira uma pedra, temos de atirar um pão em troca. Isto significa que temos de ser pacientes e não nos deixarmos levar pela tentação da vingança.
Se a história de David, na nossa primeira leitura de hoje, nos parece historicamente longínqua, remetamo-nos então para uma história mais contemporânea. É a história de uma mãe cujo único filho foi morto a tiro, mas que acabou por perdoar incondicionalmente o assassino do filho.
A mãe tinha 59 anos de idade na altura em que a história foi escrita, em 2011. Em Fevereiro de 1993, um rapaz de vinte anos foi morto com um tiro na cabeça por um jovem de dezasseis anos chamado Israel, após uma discussão numa festa. Israel, que estava envolvido com drogas e gangues, foi julgado como adulto e condenado a 25 anos e meio de prisão. Cumpriu dezassete anos antes de ser libertado. Actualmente, vive de novo no bairro onde cresceu – ao lado da mãe do jovem que assassinou. A mãe do rapaz, que foi baleado, disse que inicialmente queria justiça e ver Israel preso pelo que tinha feito. Afirmou: «– O meu filho tinha desaparecido; eu estava zangada e odiava este rapaz. O assassínio foi como um tsunami. Como mãe, estava chocada, incrédula e cheia de ódio. Queria que ele fosse enjaulado como o animal que era».
Depois de muito rezar, assumiu um compromisso impensável: decidiu fundar um grupo de apoio e aconselhou mães cujos filhos tinham sido assassinados, encorajando-as a estender a mão às famílias dos seus assassinos, que eram vítimas de outro tipo. «– A dor é a dor, não importa de que lado se está», disse em certa ocasião. O compromisso foi ainda mais profundo quando perguntou se poderia encontrar Israel na prisão estadual. Explicou que se sentia compelida a ver se havia uma forma de perdoar o assassino do seu filho. No início, o jovem assassino recusou, mas nove meses depois mudou de ideias. Israel revelou que ficou chocado com o facto de a mãe do rapaz que ele matou querer encontrar-se com ele. Depois disso, passaram a encontrar-se regularmente. Com a graça de Deus, os dois tornaram-se amigos íntimos, uma situação que ela atribui às suas fortes crenças religiosas, mas diz que também tem um motivo egoísta: «– A falta de perdão é como um cancro. Come-nos de dentro para fora. Não se trata da outra pessoa, eu, perdoar-lhe não diminui o que ele fez. Sim, ele matou o meu filho, mas o perdão é para mim». A mãe até usa um colar com um medalhão de duas faces – de um lado estão fotografias suas e do filho; do outro, uma fotografia de Israel. Israel admite que ainda se debate com a situação extraordinária em que se encontra. Depois de ter sido libertado da prisão, visita prisões e igrejas para falar sobre o perdão e a reconciliação. A mãe do rapaz assassinado junta-se frequentemente e os dois contam a sua história em conjunto.
Esta mãe que perdoa é para nós um modelo do Pai celeste que nos perdoa, apesar de ter crucificado o seu Filho único. Ela ensina-nos que se um inimigo que comete um crime tão hediondo como matar um filho único pode ser perdoado, então muitas das razões pelas quais ainda consideramos os outros como nossos inimigos podem ser facilmente perdoadas. Finalmente, ela ensina-nos que o perdão é para o bem de quem perdoa.
Assim, se nos sentirmos demasiado incapazes de amar os nossos inimigos, voltemo-nos para Deus, que nos amou primeiro, mesmo quando não somos realmente dignos do seu amor. Se tivermos vontade de julgar os outros, lembremo-nos da misericórdia de Deus para com todos os seus filhos, bons ou maus. Do mesmo modo, quando mal pudermos dar o nosso dinheiro ganho com dificuldade, lembremo-nos de como Deus foi tão generoso connosco.
Perdoemos, pois, aos nossos inimigos e o amor por eles fluirá nos nossos corações.
Pe. Leonard Dollentas