5 de Outubro na cidade-berço

5 de Outubro na cidade-berço

O Norte Atlântico de Portugal sempre foi a minha parte preferida do País, tanto pelas suas paisagens verdejantes ao longo de todo o ano, como pelas gentes que ali habitam e fazem daquela zona uma das mais acolhedoras de toda a Península Ibérica.

A nossa actividade leva-nos a todo o território nacional (continuamos à espera que construam uma ponte para as ilhas; depois já será possível vendermos comida tailandesa aos nossos amigos insulares…), mas na maioria das vezes andamos mais pelo Sul. O grande forte de oferta de eventos com comida de rua é Lisboa e o Algarve, pelo que as nossas deslocações a norte de Coimbra são esporádicas.

No ano passado apenas fizemos um evento a norte, mais precisamente em Vila do Conde. Ora, este ano, Vila do Conde já aconteceu por alturas do São João e desde aí não tínhamos planos para subir acima de Coimbra. Contudo, no final do Verão fomos convidados para irmos a Paredes de Coura, lá em cima quase em Espanha, com o objectivo de participarmos numa convenção vegetariana que se realiza há já um par de anos, a “CouraVeg”. Aceitámos um tanto a medo mas acabou por ser uma excelente surpresa, não só a nível financeiro como em termos de experiência pessoal. A quem gosta do conceito “vegan” aconselhamos a conhecer este evento, que reúne em Paredes de Coura especialistas de todo o mundo durante três dias.

Logo após a experiência em Paredes de Coura, dado que fomos obrigados a cancelar um mega-evento em Lisboa, acabámos por ser convidados para um outro na cidade-berço, Guimarães.

Se em Paredes de Coura estivemos praticamente sozinhos, em Guimarães fomos encontrar meia-dúzia de colegas que conhecemos em Vila do Conde. Em Portugal a actividade do Street Food está muito segmentada entre Norte e Sul. Os operadores a norte de Coimbra raramente se aventuram pelo Sul, e a sul da cidade dos estudantes raramente seguem para Norte. A principal razão são os custos relacionados com as deslocações, pois estas acabam por pesar bastante no orçamento. Felizmente, dado que a nossa base não está nem no Norte nem no Sul, mas sim no Centro de Portugal, acabamos por ir a ambos os lados.

Na nossa mente tínhamos a ideia de que o evento de Guimarães não era dos melhores, mas como já havíamos abastecido o food truck para irmos para Lisboa, o que não veio a acontecer, falámos com o promotor da iniciativa que tem base no Porto e há mais de um ano andava atrás de nós. À semelhança de tudo o resto na vida, também neste sector de actividade devemos ajudar-nos uns aos outros, pelo que considerámos ser este o momento ideal e assim juntar o útil ao agradável. Numa sexta-feira de madrugada lá partimos rumo à cidade de Guimarães.

Como seria de esperar, o acolhimento foi do mais caloroso possível por parte dos nossos colegas de profissão, dos promotores e de todos os que nos visitaram durante o fim-de-semana. Regressámos a casa no Domingo à noite, de coração cheio e a carteira não tão cheia… A juntar a tudo isto, o convívio extravasou a mera labuta e na última noite acabámos todos juntos numa mesa cheia de tailandeses e as suas respectivas famílias, sendo que de uma delas faz parte um macaense radicado em Guimarães desde os anos noventa. Combinámos voltar a encontrar-nos dentro em breve. A NaE conhecia a mulher deste macaense, também ela tailandesa, pelo que eu já ouvira falar deste casal. Há já vários meses que não falavam tanto de Macau e das memórias que têm dessa terra na língua portuguesa. A última vez que o fizeram foi com o administrador do Macau Daily Times, Kowie Geldenhuys, na Praia das Maçãs. Só que a má língua foi mais em Inglês…

IMPRESSÕES

Não conhecia bem Guimarães! Passei pela cidade duas ou três vezes mas nunca tinha estado na zona do castelo. Ficámos bem no centro e todos os dias, de manhã e à noite, percorríamos quase dois quilómetros entre o local do certame e o parque de estacionamento para autocaravanas, localizado junto do edifício do teleférico. Nos três dias que ali estivemos fomos percorrendo as ruas centenárias com as suas casas excelentemente preservadas, o que me fez sentir em casa. Até cheguei a sentir que tinha voltado aos anos em que vivi na Guarda, tais as parecenças entre as duas cidades. Sei que nada têm a ver uma com a outra, mas a zona mais antiga, com as ruas escuras e apertadas, e as varandas quase a tocarem-se, fez-me lembrar a Judiaria na cidade dos três “efes”. Casas de granito, imponentes e de ar austero, mas inseridas num ambiente acolhedor que cativa quem por ali deambula.

O facto de estarmos a trabalhar não permitiu conhecer melhor a cidade, pelo que ficou combinado entre nós que iremos voltar para conhecermos com pormenor alguns recantos que ficaram na retina. Penso que cada ruela e cada beco têm com certeza uma história bem interessante que ajuda a explicar o nascimento de Portugal.

O segundo dia coincidiu com o 5 de Outubro, data que infelizmente deixou de ser feriado. Que pois dizer de líderes que não lutam para que esta data volte a ser celebrada com a importância que tem: 5 de Outubro de 1143, assinatura do Tratado de Zamora depois da conferência de paz entre D. Afonso Henriques e o seu primo D. Afonso VII de Leão e Castela. É o dia da independência de Portugal e do início da Dinastia Afonsina. O que faz de Portugal o país mais antigo da Europa!

Pessoalmente, considero o 5 de Outubro de 1143 a data mais importante da História de Portugal. Mas isso sou eu….

João Santos Gomes

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