Lições essenciais para celebrar o Natal em família
O Quarto Domingo do Advento convida-nos a reflectir sobre a profunda ligação entre a vinda do Salvador e a vida familiar. O Evangelho de São Mateus relata que «estando Maria, sua mãe, prometida em casamento a José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo» (Mt., 1, 18) e que «José, sendo um homem justo e não querendo expô-la à desonra pública, pensou deixá-la sem que ninguém soubesse a razão» (Mt., 1, 19). Quando o anjo do Senhor aparece a José em sonho, ele recebe a missão de acolher o Menino Jesus como seu filho, proclamando: «Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos pecados» (Mt., 1, 21). Esta passagem, embora breve, contém três lições essenciais para a família que se prepara para celebrar o Natal: fé incondicional, acolhimento generoso e esperança transformadora.
José representa o modelo cristão de fé que aceita o inesperado. Ao receber a mensagem divina, ele não questiona, mas «fez o que o Anjo do Senhor lhe tinha ordenado» (Mt., 1, 24). Para as famílias de hoje, esta confiança implica abrir-se ao plano de Deus, mesmo quando parece desafiar a lógica humana. A preparação para o Natal, portanto, começa com a reza familiar, pedindo-se ao Espírito Santo que ilumine os corações e revele a vontade divina nas decisões quotidianas – seja na escolha de presentes, na decoração da casa ou na organização da Ceia. Da mesma maneira que Jesus nasceu numa família, Ele quer continuar a ser celebrado numa família de fé.
Ao aceitar Maria e o Menino, José transforma a sua casa num santuário onde Deus habita. A Igreja sempre ensinou que a família é a primeira célula da sociedade e a primeira escola de fé (Catecismo da Igreja Católica n.º 2207). Assim, o Advento chama-nos a tornar o lar num espaço de hospitalidade para Cristo. Pequenos gestos – como reservar um momento para juntos ler a Sagrada Escritura, entoar os hinos do Advento ou partilhar um pão abençoado – criam um ambiente em que a presença de Jesus se torna real. Tudo isto, naturalmente, não substitui a participação na Santa Missa e a preparação do coração por meio do Sacramento da Confissão.
A promessa do anjo a José – «Ele salvará o seu povo dos pecados» – aponta para a Salvação que nasce da Encarnação. Cada família, ao celebrar o Natal, tem a oportunidade de renovar o compromisso de viver segundo o Evangelho. Tal significa deixar para trás hábitos que nos afastam da Graça (como deixar arrefecer a fé) e adoptar atitudes que nos convertam, tornando-nos mais próximos de Deus, promovendo a caridade, a reconciliação e a justiça. O Advento, portanto, não é apenas um período de preparação externa, mas também um convite à conversão interior que se reflecte nas relações familiares.
A preparação para o Natal deve começar no coração de cada membro da família. A prática do exame de consciência diário, recomendada por São João da Cruz, ajuda a reconhecer as “pequenas mortes” que nos impedem de receber Cristo plenamente. Ao final de cada dia, pergunte-se: “Hoje, que atitudes abriram espaço para o amor de Deus? Onde ainda preciso mais de abrir para o acolher?”. Esta disciplina espiritual, aliada à participação nos Sacramentos – especialmente na Confissão e na Missa do Advento – fortalece a Graça que nos capacita a viver o Natal como um verdadeiro encontro com o Salvador.
Ao concluir o Advento, a família deve percepcionar três mudanças concretas:
Comunhão renovada – um vínculo mais profundo entre pais e filhos, sustentado pela oração e pelos Sacramentos.
Serviço ao próximo – a prática de obras de caridade (como doação de alimentos, visita a idosos e apoio a famílias carentes) torna-se parte integrante da celebração natalina.
Esperança viva – a certeza de que Cristo habita no lar transforma a perspectiva de futuro, permitindo que cada desafio seja enfrentado com confiança na Providência Divina.
Em síntese, o Quarto Domingo do Advento revela-nos que a vinda de Cristo não é um evento distante, mas uma realidade que se incorpora à vida familiar. Ao imitar a fé de José, ao acolher Maria e o Menino como membros da própria casa e ao deixar que a esperança do Salvador transforme os nossos corações, a família torna-se verdadeiramente “a casa do Senhor”. Que este Natal seja, assim, a celebração de um amor que nasce na simplicidade de um lar e se expande pelo mundo inteiro.
Pe. Daniel Ribeiro, SCJ

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