Dia do Bom Pastor
O 4.º Domingo de Páscoa é considerado o “Domingo do Bom Pastor”, pois todos os anos a Liturgia propõe, nesse Domingo, um excerto de João 10, no qual Jesus é apresentado como “Bom Pastor”, tal como é sugerido também na Segunda Leitura. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus coloca para reflexão nesse Domingo.
O Evangelho apresenta Cristo como “o Pastor”, cuja missão é libertar o Rebanho de Deus do domínio da escravidão e levá-lo ao encontro da Salvação, apresentada sob a metáfora da plenitude da vida nas “pastagens verdejantes”. É uma espécie de alerta contra os falsos pastores, cujo objectivo é só aproveitar-se do Rebanho em benefício próprio, e não o conduzir às boas pastagens. Jesus, como Bom Pastor, propõe-se guiar e levar a bom termo essa missão, observando e respeitando zelosamente a identidade, individualidade e liberdade das ovelhas do Seu rebanho.
O Bom Pastor é assim uma perícope (ou seja, um excerto bíblico seleccionado para leitura, sobretudo litúrgica), extraída de João 10, 1-21 na qual Jesus aparece como o «bom pastor» que dá a vida pelas Suas ovelhas. A mesma metáfora pode ser vista no Salmo 23 (22). Nos Evangelhos, a imagem do “Bom Pastor” aparece sempre na alusão a Jesus que não se pode permitir perder nenhuma das Suas ovelhas.
O Bom Pastor – no Grego antigo ποιμήν ὁ καλός, “poimḗn ho kalós” – é um dos termos ou “títulos” pelos quais Jesus se identifica nas sete alocuções de «Eu sou…», que se encontram no Evangelho segundo São João (no referido capítulo 10). Esta metáfora ilustra um dos aspectos da missão de Jesus, de reunir, orientar, procurar (os tresmalhados) e de dar a vida pelos outros. É o Bom Pastor que alimenta o Seu rebanho e resgata as ovelhas perdidas. Trata-se também de uma metáfora que provém do Antigo Testamento, por exemplo, do Salmo 23 (22) e do Livro de Ezequiel (34, 11-16), além de aparecer na Epístola aos Hebreus, na Primeira Epístola de Pedro e também no Apocalipse. A expressão está na origem da palavra “Pastor” usada no Cristianismo.
O Bom Pastor, recorde-se, foi desde sempre um tema importante na iconografia cristã, particularmente na arte cristã primitiva. A profusão de representações escultóricas e pictóricas do tema do pastor e das ovelhas na arte cristã primitiva é notável: foram identificadas até 892 representações. As imagens mais antigas datam do Século II, embora a maior quantidade remeta para os Séculos III e IV. Depois do Século V diminui e na Idade Média desaparece quase, embora na arte indo-portuguesa tenha sido um tema bastante recorrente na produção escultórica, pelos paralelismos e identificações com referências búdico-hindus da arte oriental.
Até 1970, no que se designa comummente como Igreja Católica tridentina, no antigo Rito Romano da Igreja Católica, o Domingo do Bom Pastor (actual 4.º da Páscoa) era oficialmente conhecido como o Terceiro Domingo depois da Páscoa. Também era denominado de Domingo de Jubileu devido ao “incipit” (“Iubilate Deo”) do introito atribuído a esse dia. Durante algum tempo (1847-1911), este Domingo também chegou a ser celebrado como Solenidade de São José, Padroeiro da Igreja universal. Em 1911, esta Festa foi transferida para a quarta-feira seguinte, onde permaneceu até ser totalmente suprimida em 1955.
Depois de 1970 do Missal Romano, na sequência do Concílio Pós-Vaticano II, até aos dias de hoje, este dia passou a ser designado como “Quarto Domingo de Páscoa”, e o introito “Iubilate Deo” deste Domingo foi trocado pelo do Domingo anterior. Assim, a leitura do Evangelho do Domingo anterior também foi transferida para este dia. Ora, sendo esta leitura do Evangelho a da parábola do Bom Pastor, o Quarto Domingo de Páscoa passou desde então a ser conhecido como Domingo do Bom Pastor (nome anteriormente dado ao Terceiro Domingo de Páscoa ao qual a leitura foi originalmente atribuída).
Acrescente-se que em 1964, o Papa Paulo VI instituiu um Dia Mundial de Oração pelas Vocações para coincidir com o Domingo do Bom Pastor, agora celebrado no Quarto Domingo de Páscoa. Por esta razão, este Domingo do Bom Pastor também é conhecido na Igreja Católica como Domingo das Vocações. A Igreja da Inglaterra também celebra o Domingo das Vocações neste dia.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa