A Esperança em tempos de crise
O Evangelho de Lucas (21, 5-19) apresenta uma mensagem profundamente relevante para os dias actuais. Jesus fala sobre a destruição do Templo de Jerusalém, eventos apocalípticos e as tribulações que os seus seguidores enfrentarão, mas também sobre uma perspectiva de esperança e de encorajamento no meio das dificuldades, um tema que ressoa fortemente em tempos de incerteza e crise.
Jesus, ao observar o Templo, que era o coração da vida religiosa e cultural dos judeus, profetiza a sua destruição. Este templo, símbolo da presença de Deus entre o seu povo, seria devastado, o que iria gerar um profundo impacto no quotidiano religioso de Israel. Jesus prepara os seus discípulos para uma nova compreensão da presença de Deus, enfatizando a importância da perseverança na fé.
Em Lucas 21, 13, Jesus diz: «Isso vos será uma oportunidade para que deis testemunho». O Senhor assegura-nos que as dificuldades não são um sinal de abandono, mas uma oportunidade de confiarmos ainda mais profundamente e que, apesar das crises e tribulações, a fidelidade e a perseverança podem transformar-se em momentos de crescimento espiritual e de testemunho de fé.
Santo Agostinho, na sua obra “A Cidade de Deus”, lembra-nos que “nesta vida, os justos e os ímpios convivem, mas não são iguais nas suas esperanças”. Esta frase reforça a ideia de que, mesmo no meio do sofrimento e da incerteza, os que confiam em Deus têm uma esperança que transcende as circunstâncias. A esperança cristã não é uma expectativa ingénua de que tudo ficará bem, mas uma certeza fundamentada na presença de Deus nas nossas vidas, mesmo quando as tempestades se levantam.
Jesus também alerta sobre as tribulações que os seus seguidores enfrentarão, incluindo problemas materiais, físicos e perseguições. Contudo, Ele enfatiza que não devemos temer, pois «não se perderá um único fio de cabelo da vossa cabeça» (Lucas 21, 18). Esta protecção divina destaca a importância de permanecermos firmes na fé e na comunidade. A Igreja, como Corpo de Cristo, é um suporte vital em tempos de crise. Juntos, somos chamados a encorajar-nos uns aos outros, a partilhar a luz da esperança e a trabalhar pela justiça e pela paz a meio da adversidade.
O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 1816, define a esperança como “a expectativa de um bem que está por vir”. Esta virtude impulsiona-nos a olhar para além das dificuldades imediatas e a confiar na fidelidade de Deus. Em tempos de incerteza, a esperança cristã convida-nos a permanecer firmes, a resistir às tentações do desespero e a agir com coragem. Como podemos viver esta esperança no nosso dia-a-dia? Acredito que existem cinco pontos concretos que podem iluminar a nossa caminhada.
Primeiro, é fundamental aprofundar a nossa vida de oração, reservando um momento do dia para encontrar a presença de Deus entre as nossas preocupações e ansiedades. A oração é um meio poderoso de fortalecermos a fé e tornarmo-nos participantes da vida divina, o que permitirá experimentarmos a paz que vem de Deus.
Em segundo lugar, é importante não caminhar sozinhos. Devemos procurar viver em comunidade, envolvendo-nos nos trabalhos pastorais e nas actividades da paróquia. A nossa vida ganha mais sentido quando servimos Deus na Sua Igreja. Além do serviço, o apoio mútuo que encontramos num ambiente de fé é essencial, especialmente em tempos de crise.
Terceiro, devemos compartilhar e testemunhar a nossa fé com os outros. Seja um sinal de luz num mundo muitas vezes sombrio. Testemunhar a fé não se resume a falar sobre Deus, mas inclui vivermos de modo a que o Seu amor e compaixão se reflicta nas nossas acções diárias.
Quarto, é crucial estarmos atentos às necessidades daqueles que nos cercam. Muitas pessoas enfrentam desafios que podem não ser visíveis. Ofereçamos-lhes o nosso apoio, seja através de um ouvido atento, uma palavra de encorajamento ou uma acção concreta de ajuda. Pequenos gestos podem fazer uma grande diferença na vida de alguém.
Por fim, como visto anteriormente, reforçar a esperança é fundamental. Em momentos desafiadores, lembremo-nos das promessas de Jesus. A esperança fortalece-se quando a alimentamos com a Palavra, a Eucaristia e o exemplo dos Santos. Nutramos a esperança nas nossas vidas e nas vidas dos outros, sempre tendo em conta que – mesmo em tempos difíceis – Deus está connosco.
Neste Domingo, Jesus convida-nos a reflectir sobre a nossa resposta às crises da vida. Em vez de sucumbirmos ao medo e ao desespero, somos chamados a cultivar a esperança e a perseverar na fé. Que possamos ser testemunhas do amor e da fidelidade de Deus, mesmo em tempos de tribulação, e que, juntos, possamos apoiar-nos uns aos outros, fortalecendo a comunidade da fé. A mensagem de Jesus é clara: no meio da adversidade, a esperança brilha mais intensamente. Como nos lembra o Papa Francisco: “A esperança é uma força que nos leva a ir além”. Que esta virtude teologal, força do alto, nos guie no nosso caminho de fé.
Padre Daniel Ribeiro, SCJ

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