30º DOMINGO COMUM – Ano C – 26 de Outubro

30º DOMINGO COMUM – Ano C – 26 de Outubro

Um coração humilde

As leituras deste Domingo lembram-nos que Deus vê o coração. Ele ouve aqueles que são humildes e clamam por justiça. Ele não se afasta dos pobres ou dos fracos. Em vez disso, Ele cuida daqueles que Nele confiam. Este Domingo mostra-nos ainda mais a diferença entre orgulho e humildade. A humildade envolve reconhecer o nosso verdadeiro lugar em relação a Deus e aos outros, evitar a arrogância e admitir quando estamos errados.

Um coronel do Exército recém-nomeado acabara de se mudar para o seu escritório quando um soldado de baixa patente (um soldado raso) entrou com uma caixa de ferramentas. Para impressionar o soldado, o coronel diz: «– Já estou, soldado! Recebo uma chamada quando está a bater à porta…». Então pega no telefone e responde: «– General, é o senhor! Como posso ajudá-lo?». Segue-se uma pausa dramática e o coronel continua: «– Não há problema. Vou ligar para o Palácio Presidencial e falar com o Presidente sobre isso». Desliga o telefone e dirige-se ao soldado: «– Pois bem, o que posso fazer por si?». O soldado arrasta os pés e diz timidamente: «– Ó, é só uma coisinha, senhor. Mandaram-me ligar o seu telefone!».

As pessoas muitas vezes sentem-se desconfortáveis em considerar a humildade como uma virtude. É realmente bom sentir-se pequeno? Ou isso prejudica o nosso ego e a nossa auto-confiança? Talvez a palavra “humilde” seja frequentemente mal utilizada, aplicada sem muita reflexão a casas de má qualidade ou malcuidadas, a esforços que, na realidade, são fracassos por falta de entusiasmo, ou a personagens que adoptam uma postura de falsa modéstia para ganhar a aprovação de outrem. A humildade genuína é simplesmente reconhecer a verdade essencial sobre nós mesmos. É uma auto-avaliação honesta, na presença de Deus, sem fingimentos, máscaras ou poses. Na presença de Deus todo-Santo e todo-Poderoso, cada um de nós sabe que é fraco, imperfeito e, de facto, pecador; e com isso reconhecemos a nossa necessidade de misericórdia. Não há suborno que possamos oferecer para apagar a nossa culpa. Não há pressão que possamos exercer (como poderíamos entre nós) para ganhar um crédito que não merecemos. O nosso melhor recurso é um espírito humilde – atitude que atrairá para nós a misericórdia e a graça divinas. O publicano sentiu a necessidade de honestidade completa, enquanto estava no Templo de Deus. «Senhor, tem misericórdia», afirmou; e voltou para casa com os seus pecados perdoados e com alívio no coração.

Por outro lado, o que há de errado com a perspectiva deste fariseu no Evangelho, se é que há alguma coisa!? Afinal, ele leva uma vida admirável e dá um bom exemplo dentro da tradição judaica. De acordo com a sua auto-avaliação, cumpriu todas as regras, desde o jejum e a esmola até à honestidade e à pureza. Havia um esforço real, um compromisso com a santidade dentro da sua tradição. Mas as virtudes fizeram-no esquecer que continuava fraco e pecador, tal como as outras pessoas. O seu sentido de santidade meticulosa substituiu a oração. Chega ao ponto de desprezar os outros, enquanto dá graças pelos próprios méritos. E com esta atitude, mina as outras virtudes. O orgulho é como um verme que destrui a maçã no seu âmago. Na verdade, fez com que deixasse de falar com Deus e passasse a falar de si mesmo. A sua oração morreu.

Este aviso pode aplicar-se à atitude da nossa Igreja em relação a Deus e aos outros. No passado, não assumimos por vezes uma postura de orgulho colectivo em relação às pessoas de outras religiões? Afirmávamos que a nossa era a expressão mais completa da Igreja de Cristo, com os melhores padrões morais e prática sacramental, promovendo um vínculo mundial visível entre os crentes. Continuamos a valorizar estas coisas e queremos partilhá-las com pessoas que procuram a verdade. Mas devemos resistir à tentação de menosprezar os que estão de fora, de menosprezar os seus valores ou subestimar a sua sinceridade. Precisamos de nos proteger contra o catolicismo hipócrita e respeitar sinceramente outros caminhos de fé. Deixemos que seja Deus a julgar os méritos das outras pessoas e as suas fés. Basta-nos confiar na sua misericórdia, reconhecer as nossas próprias imperfeições e tentar viver segundo o espírito da compaixão.

Pe. Leonard Dollentas

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