O poder transformador da oração feita com fé, silêncio e perseverança
No Evangelho de hoje, Jesus deseja ensinar-nos sobre a importância da oração constante, utilizando o drama de uma viúva que pedia justiça a um juiz que não temia a Deus. Esta parábola convida-nos a reflectir sobre a qualidade da nossa vida de oração e do seu poder transformador.
No tempo de Jesus, as viúvas eram figuras vulneráveis, fragilizadas pela ausência do marido. Em situações de conflito judicial, especialmente diante de juízes sem escrúpulos, saíam frequentemente desfavorecidas. Os julgamentos ocorriam em locais públicos e, muitas vezes, a viúva não contava com o apoio de pessoas influentes da sociedade. A única saída que lhe restava era clamar incessantemente até que o juiz se compadecesse ou se cansasse do seu clamor, e concedesse o que pedia. Ela não se desespera; ela clama sem cessar.
O juiz, por sua vez, não queria fazer justiça, mas, egoisticamente, resolveu o problema apenas para não ser mais importunado. Aqui, Jesus apresenta um contraste à figura de Deus; Ele não deve ser comparado a este juiz injusto e egoísta, nem a qualquer juiz humano. Deus é justo e amoroso e conduz a nossa história, respeitando a nossa liberdade para nos oferecer o dom divino mais elevado: a salvação eterna. Diante desta verdade, o primeiro grande ensinamento que podemos extrair é que Deus também fará justiça, mas no Seu tempo. Às vezes, parece que Deus tolera injustiças e não age com a rapidez que desejamos. Neste momento, devemos lembrar que Ele permite que o joio e o trigo cresçam juntos, mas a colheita acontecerá (cf. Mt., 13, 24-30).
O Evangelho também nos ensina sobre a importância da perseverança na oração. Certa vez, encontrei uma senhora que afirmava rezar há mais de trinta anos pela conversão do marido, que continuava agressivo, alcoólatra e ateu. «– Por que Deus não ouviu a minha oração?», clamava. Eu respondi que ainda não se havia convertido, porque Deus respeita a liberdade do marido. No entanto, a senhora recebeu uma graça muito maior: uma fé madura, um amor a Deus perseverante, que não se baseia em sentimentalismos humanos. Deus sempre escuta a nossa prece; somos nós que não percebemos a maneira como Ele age.
A oração é o meio mais comum de encontro com Deus. É tão importante para a nossa vida que São Bento chegou a afirmar que «vive bem quem reza bem». Para rezarmos correctamente, precisamos de fé, silêncio e perseverança. Fé para acreditar que, quando rezamos, estamos diante de alguém que nos escuta e nos ama. Silêncio, porque Deus quer falar; para isso, precisa de espaço e de ser ouvido. Perseverança, porque normalmente Ele se manifesta de uma forma diferente da que esperamos ouvir. Quando somos perseverantes, aceitando o tempo de Deus, amamos a Deus por aquilo que Ele é, não apenas por interesse de receber algo. Tudo isso nos traz paz.
Recentemente, um jovem muito devoto procurou-me e contou sobre a dificuldade em evangelizar os amigos. Admitiu que perdia a paciência com frequência e que, por vezes, procrastinava para cumprir os seus compromissos, sentindo que não era um bom exemplo. Disse que pensava em convidar os amigos para a Missa, mas tinha dúvidas se eles a entenderiam e se sentiriam tocados. Então, exclamou: «– Já sei! Vou convidar mais amigos para virem à Adoração ao Santíssimo. Na adoração, encontramos silêncio e saímos da distracção e do barulho do mundo. Lá, Deus vai falar ao coração dos meus amigos». Confesso que fiquei surpreendido e lhe disse: «– Você entendeu! Rezar é deixar Deus falar em nosso coração».
No Evangelho de hoje, Jesus ensina-nos a importância de rezar sempre. Este é o primeiro passo; quando a oração é feita com fé, silêncio e perseverança, ela transforma-nos. Que possamos, então, perseverar na oração, confiando que Deus nos escuta e que, no Seu tempo, Ele agirá nas nossas vidas.
Padre Daniel Ribeiro, SCJ