O tipo de fé necessário para persistir na oração
Ser perseguido por alguém é extremamente desagradável. Confiem em mim, infelizmente tenho tido algumas experiências perturbadoras a este respeito. Por conseguinte, compreendo perfeitamente a reacção do juiz injusto na parábola do Evangelho deste Domingo (Lc., 18, 1-8) que, respondendo àquela viúva irritante que continuava a vir incomodá-lo exigindo justiça, cedeu às suas exigências apenas para se ver livre dela.
Este tipo de persistência só se justifica totalmente em dois casos: a busca da justiça e da oração. Em qualquer outro caso, é apenas irritante. Ao juntar estes dois cenários com humor, Jesus provou ser um brilhante contador de histórias e deixou bem claro o seu ponto de vista.
Mas qual é o objectivo, exactamente? Compreendemos que o carácter do juiz injusto, «que não temia a Deus nem tinha respeito pelas pessoas» (versículo 5), é apenas retórico e certamente não pode ser usado como metáfora para descrever Deus. Infelizmente, muitas vezes experimentamos Deus como uma figura caprichosa que podemos manipular com a fórmula da oração “certa”, do ritual ou da devoção, pensando que a nossa insistência poderia magicamente convencê-lo a dar-nos o que queremos, independentemente da bondade do nosso pedido. A oração não é apenas pedir, mas também ouvir.
Para compreender esta parábola, concentremo-nos na fé da viúva. A viúva insistiu nas suas exigências porque estava totalmente convencida da bondade da sua causa. Ela tinha fé no facto de que estava a pedir a coisa certa.
Dado que Deus não é arbitrário e irreflectido como o referido juiz e que Ele considera cada um de nós como “O Seu Escolhido”, então podemos perguntar-nos: acredito verdadeiramente naquilo pelo qual estou a rezar? Estou aberto para refinar o conteúdo dos meus pedidos, enquanto Deus, através da oração, refina o meu coração?
Um exemplo: muitos de vós conhecem a história de Nick Vujicic, nascido em 1982 sem braços e pernas, numa família muito religiosa. Aos dez anos de idade pensou em tentar o suicídio. Ele não conseguia compreender como um Deus amoroso o podia criar com tantas falhas. Rezava insistentemente à noite, em lágrimas, pedindo a Deus que lhe crescessem milagrosamente braços e pernas…; na manhã seguinte apenas se deparava com a almofada molhada, ainda sem braços e pernas.
Uma reviravolta ocorreu aos quinze anos ao ler, no Evangelho, como Jesus curou o homem que nasceu cego (Jo., 9). Jesus disse que o homem havia nascido nessa condição para que as obras de Deus fossem reveladas através dele. Nick recorda: «naquele momento a fé apoderou-se de mim, e tangivelmente senti paz». Apercebeu-se então que não era o único a ter de enfrentar as suas lutas. Aceitou o facto de não ter membros e começou a desenvolver habilidades que lhe dariam um elevado grau de autonomia e competência profissional.
Tal como a viúva persistente, continuou a bater à porta de Deus, mas desta vez com a fé forte e invencível de que Deus não comete erros; de que Deus tinha um plano de bondade e alegria para ele e que ele fora perfeitamente e maravilhosamente feito para realizar esse plano. Ele só precisava de o descobrir…
Normalmente rezava, dizendo: «Deus, tu deves-me uma explicação!». As suas preces insistentes eram, pois, respondidas. Lentamente percebeu que o seu propósito de vida era dar esperança aos outros. «Vim a ver a minha falta de membros como um trunfo. Homens, mulheres e crianças que não sabem falar a minha língua só têm de me ver para saberem que superei muitos desafios. As minhas lições, eles sabem, não vieram facilmente».
Felizmente, hoje em dia, Nick Vujicic é casado, tem quatro filhos, é um autor “best-seller” e um orador motivacional muito procurado. Viaja para todo o mundo com o intuito de dar esperança às pessoas que sofrem e fortalecer a fé de muitos que estão à beira do desespero. «Por vezes esperamos por um milagre, mas por vezes Deus quer usar-nos como um milagre, mesmo que não consigamos o nosso», disse Nick.
A parábola da viúva persistente não é uma história sobre como rezar até conseguirmos o que queremos. É um encorajamento a rezarmos para que possamos alcançar a certeza de que através do que vivemos nas diferentes circunstâncias da vida, mesmo as mais difíceis, um destino de amor nos espera. Precisamos de acreditar que estamos neste mundo, com as nossas limitações e medos, para cumprir o plano de bondade e bênção de Deus para connosco e para com os outros. Um plano que torne a nossa vida, não importa como se revele, significativa e cheia de sentido de propósito.
Esta é a fé que Jesus espera de nós: ajoelharmo-nos pacientemente com as nossas limitações incapacitantes, lutas interiores e medos mais sombrios, não esperando que desapareçam magicamente, mas que se tornem o contexto em que Deus nos transforma para nos tornarmos “milagres de amor” para muitos neste mundo cruel que, como o juiz injusto, muitas vezes não tem medo de Deus nem respeito por ninguém.
Pe. Paolo Consonni, MCCJ