A alegria de trabalhar na vinha de Deus

25º DOMINGO COMUM – Ano A – 24 de Setembro

A alegria de trabalhar na vinha de Deus

Não faz muito tempo que a pandemia mergulhou Macau num longo sono. As ruas ficaram quase vazias e muitas empresas foram forçadas a fechar. Parece que esta triste imagem da nossa cidade ficou para sempre no passado. Agora há trabalho, valor fundamental para a retomada da vida familiar e social. Muitas empresas e lojas reabriram e pessoas de várias nacionalidades regressaram a Macau para aqui trabalharem novamente. Pessoas honestas que querem levar uma vida decente para si e para as suas famílias. O trabalho dignifica-os, e através do trabalho contribuem para o crescimento e desenvolvimento da nossa comunidade.

Houve manhãs em que tive de me deslocar até Coloane para celebrar Missa. Naquela época, o autocarro 52 estava lotado de trabalhadores da construção civil. Via-os descer no Cotai, onde havia uma grande construção em andamento. Há noite, voltava a vê-los no mesmo autocarro, já cansados, alguns deles até exaustos. Mas sabia, e sei, que cada um deles é um exemplo de dignidade. Como nos ensinou São João Paulo II: “O trabalho é um bem do homem – é um bem da sua humanidade – porque, mediante o trabalho, o homem não somente transforma a natureza, adaptando-a às suas próprias necessidades, mas também se realiza a si mesmo como homem e até, num certo sentido, ‘se torna mais homem’” (João Paulo II, Laborem Exercensnº 9).

No tempo de Jesus, muitos camponeses ficaram sem as suas terras devido aos pesados impostos que foram obrigados a pagar aos romanos e até às autoridades do Templo. Muitos agricultores expropriados tiveram que depender apenas do seu trabalho manual ou de algum proprietário de terras que os contratasse por um salário justo.

Porque esta é uma parábola do reino dos céus, precisamos compreender a sua lógica a partir da perspectiva de Deus: o trabalho, a videira, o proprietário da terra, os trabalhadores e os seus salários precisam ser encarados de um novo modo para compreender o ensinamento de Jesus.

Na parábola de Jesus, o proprietário contrata pessoas desde a madrugada até à décima primeira hora e envia-as para a sua vinha. Tendo acordado o salário habitual com o primeiro grupo de trabalhadores e dito aos outros que lhes daria o que é justo, deu-lhes a mesma quantia em dinheiro. À época, os seguidores de Jesus, e hoje a maioria de nós, concorda que a reclamação dos que trabalharam um dia inteiro faz algum sentido. «Estes últimos homens trabalharam apenas uma hora; apesar disso o senhor os igualou a nós que suportámos o peso do trabalho e o calor do dia» (Mt., 20, 12).

No contexto desta parábola, temos de olhar para as novas comunidades cristãs, compostas por muitos gentios convertidos e alguns cristãos judeus, que pensavam ter uma parcela maior da recompensa e dos dons de Deus do que os recém-chegados. Talvez ainda tenham tido a atitude “farisense” de fingir obter a salvação de Deus por mérito próprio, devido ao “trabalho” realizado, ou seja, ao cumprimento de todas as determinações da Lei.

Se falamos do trabalho que realizamos no escritório, na oficina, na loja ou em casa, é correcto pensar que a recompensa será proporcional ao tipo de trabalho que realizamos e ao tempo que trabalhamos. Espera-se que um aluno que estudou muito para passar no exame mereça uma boa nota. Mas é aqui que a parábola de Jesus toma outro rumo…

Na vinha do Senhor o que conta não é o tipo de trabalho que fazemos, quanto tempo trabalhamos, ou quão bom é o resultado dos nossos esforços. Jesus diz-nos que o proprietário é incompreendido pela primeira leva de trabalhadores por causa da sua bondade e generosidade: convida e acolhe os que estão ociosos, esperando estes quase impotentes até à última hora que alguém os contrate. O que realmente importa não é o que fazemos, mas O QUE DEUS FAZ EM NÓS: Ele convida-nos a participar da Sua obra de salvação e a fazer o nosso simples trabalho diário com gratidão no coração, sem reclamar ou “resmungar” como aqueles trabalhadores (Mt., 20, 11); permitimos pois que Ele trabalhe em nós, para nos transformar com o Seu amor. Ele também quer trabalhar através de nós, como disse aos Seus discípulos: «fareis obras ainda maiores» (Jo., 14, 12). Ele ordena que continuemos a Sua obra de amor: «Fazei isto em memória de mim» (Lc., 22, 19), ou seja, a oferta da nossa vida com Ele ao Pai, com o poder do Espírito pelo bem de todos os homens e mulheres. Nisto também nos encoraja Nossa Senhora: «Fazei tudo o que Ele vos disser» (Jo., 2, 5). Esta é a nossa vida sacramental. Nós, a Igreja de Cristo, somos um Sacramento do Seu amor.

Deus sempre nos convida a participar na Sua obra, mas não nos força a fazê-lo. Ele respeita profundamente a nossa liberdade. Esta é a nossa principal tarefa: acreditar Nele e viver segundo a Sua palavra (Jo., 15, 7.10), isto é, aceitar livremente o Seu convite e cooperar com a Sua Graça Santificadora. Depois, Deus fará o resto.

Como é bonito ver as nossas comunidades acolherem todos os anos os novos catecúmenos! Quão generoso é o trabalho dos nossos catequistas que os preparam para o Baptismo! No entanto, eles sabem muito bem que o Senhor também os abençoa e santifica no trabalho que dedicam a Ele e aos Seus filhos.

Alegro-me quando vejo famílias inteiras reunidas na Missa, com o objectivo de oferecer as suas alegrias e as suas tristezas no altar da Eucaristia. Sim, eles estão confiantes de que «aquele que iniciou boa obra em vós, há de concluí-la até o Dia de Cristo Jesus» (Filipenses 1, 6).

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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