«Educação é vital para que Macau enfrente os desafios da Grande Baía»
Mais do que oferecer novos cursos, a Universidade de São José quer consolidar os programas académicos que já disponibiliza. A posição foi avançada a’O CLARIMno passado fim-de-semana pelo reitor, padre Peter Stilwell, à margem da edição de 2019 do Dia Aberto da instituição de Ensino Superior.
O mau tempo que se abateu sobre Macau não ajudou ao sucesso da iniciativa, mas foram ainda assim dezenas os que se deslocaram ao campus da Ilha Verde, para se inteirarem dos cursos e das possibilidades oferecidas pela Universidade de São José (USJ) no próximo ano lectivo.
A criação de um novo centro de investigação focado na Educação e o lançamento de um mestrado pioneiro, que poderá instituir um novo paradigma do ponto de vista da cooperação académica, são as principais apostas da instituição liderada pelo padre Peter Stilwell para 2019/2020.
«Estamos a fazer uma experiência com um novo mestrado em Neurociência, com o propósito de perceber se algo que está previsto na nova Lei [do Ensino Superior]– e que é a criação conjunta de um programa académico por várias instituições de ensino – é ou não bem sucedido», disse o sacerdote. «No caso, o mestrado e o diploma serão atribuídos por três instituições. Parece-me que é a primeira vez que algo deste género é testado aqui em Macau. Estamos a tentar perceber que tipo de acolhimento recebe a proposta, sendo que desta feita a bola está no campo da Agência de Avaliação e de Acreditação do Ensino Superior de Portugal. Eles estão a analisar a proposta e nós estamos à espera de ver como reagem. Mas pode ser uma experiência interessante», acrescentou o padre Stilwell.
Caso a proposta para a atribuição tripartida do grau de Mestre seja bem recebida, a Universidade de São José pode vir a alargar o mesmo modelo pedagógico a outras áreas, nomeadamente da Economia e dos Negócios, e a um domínio em que a USJ “já dá cartas”, o do Ensino e da Educação. «Se esta experiência for bem sucedida, talvez possamos estendê-la a outras áreas, como os Negócios ou a Educação. Talvez fosse interessante avançar com algo do género no campo da Educação», admitiu ainda.
Segundo o padre Peter Stilwell, «a Educação é um aspecto vital para que Macau possa enfrentar com tranquilidade e sucesso os desafios que se lhe colocam no âmbito do projecto da Grande Baía[Guangdong-Hong Kong-Macau]. Para que a Educação melhore é necessário também reforçar as competências dos professores, e é o que estamos a procurar fazer com as nossas licenciaturas, pós-graduações, mestrados e doutoramentos. Estamos a ultimar o lançamento de um Centro de Investigação em Educação que vai impulsionar novas linhas de investigação em domínios que poderão ajudar as escolas de Macau a melhorar os serviços que facultam».
À ESPERA DE PEQUIM
O ano lectivo de 2019/2020 poderá ser também o primeiro em que a Universidade de São José receba estudantes provenientes da China Continental, ainda que de Pequim não tenha chegado qualquer indicação nesse sentido.
Inspirada pelo acordo de princípio assinado em Setembro entre a República Popular da China e o Vaticano, a USJ endereçou um pedido às autoridades chinesas, através do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, em que manifesta a disponibilidade para receber alunos chineses. O pedido, que se encontra a ser analisado por Pequim, ainda não suscitou qualquer reacção oficial, mas o padre Peter Stilwell está convicto que, mais tarde ou mais cedo, a Universidade de São José vai ser autorizada a receber alunos do Continente. «Há uma interacção contínua entre ambas as partes. Não há qualquer problema, não há qualquer obstáculo. O Gabinete de Ligação segue o trabalho que desenvolvemos com grande interesse e faz-nos chegar com frequência o seu apoio, de modo que não há qualquer problema», disse, sublinhando que «a única questão que prevalece é o facto da Universidade poder vir a ser eventualmente registada como uma Universidade onde as pessoas se podem matricular e para a qual podem obter um visto de estudante. Mas isso vai acontecer quando tiver que acontecer, estou certo».
Para já, o reitor não arrisca um prognóstico em relação ao eventual registo da instituição na base de dados das universidades que gozam de carta branca do Governo Central para receberem estudantes chineses, mas assegurou que a USJ mantém boas relações tanto com os representantes de Pequim no território, como com várias instituições de Ensino Superior do Continente. A cooperação que mantém com universidades chinesas em domínios como a Ciência e o Ambiente, mais o fomento das Indústrias Criativas é, no entender do sacerdote, um bom exemplo do carácter salutar dos laços que a Universidade construiu com entidades do outro lado das Portas do Cerco. «Estamos a trabalhar em vários dos nossos projectos com instituições de Ensino Superior da China. O nosso Instituto para a Ciência e o Ambiente está a conduzir vários projectos com laboratórios chineses. A nossa Faculdade de Indústrias Criativas trabalha muito de perto com instituições de Ensino Superior da China, nas quais encontram instalações que não é possível encontrar em Macau. Os nossos alunos viajam até lá e alguns dos estudantes deles visitam-nos com frequência. Há um intercâmbio contínuo», concluiu.
Religião pode ser uma fonte de tensão, mas também uma ponte
O número de estudantes leigos matriculados no curso de Teologia da Faculdade de Estudos Religiosos da Universidade de São José está a aumentar, sendo esta uma tendência que não surpreende o padre Peter Stilwell. O reitor da Universidade de São José considera que a religião é um aspecto importante de qualquer cultura, e só um conhecimento profundo dos princípios nos quais se alicerçam as crenças religiosas podem transformar as religiões em instrumentos de paz. «Há cada vez mais pessoas a estudar Teologia ou a enveredar por estudos religiosos, porque as pessoas têm consciência de que a religião é um aspecto relevante da cultura. Pode ser uma fonte de tensão, mas também pode ser uma ponte; parte da solução para o encontro das diferentes culturas», defende o sacerdote do Patriarcado de Lisboa.
«O estudo da Teologia é interessante porque a Teologia ensina-nos as raízes culturais e os valores que estão presentes na comunidade. Quando se trabalha de perto com pessoas de uma dada comunidade é essencial sermos capazes de nos relacionarmos com os seus valores, com as suas perspectivas de vida. A Teologia dá um contributo importante nesse sentido», disse.
Marco Carvalho