Tam Szeto, Mestre de Feng Shui

O poder das ancestrais artes divinatórias.

Veste-se frequentemente de branco porque os seus amigos gostam. E fá-lo, sobretudo, quando está perante as câmaras da televisão por cabo de Hong Kong, onde apresenta um programa semanal. Tam Szeto, mestre de feng shui, foi eleito presidente da Federação Taoísta de Macau em 1997. Assíduo convidado de emissões de rádio e de televisão, assina também, na imprensa local e regional, inúmeras peças sobre a arte divinatória chinesa.

Até aos trinta e cinco anos foi um simples homem de negócios, vários deles, na China, Hong Kong e outras partes da Ásia. O feng shui era, na altura, simples motivo de curiosidade. A crise económica levou-o à bancarrota, optando Szeto por rumar às Filipinas, em busca de alternativas. Enquanto fazia contas à vida, traçando planos futuros, empenhou-se com afinco nessa sua antiga paixão: a arte divinatória. Adquiriu livros no bairro chinês de Manila, onde passou a residir, e aí foi trocando informações com outros membros da sua etnia. Estava decidido: seria mestre de feng shui. Corria o ano de 1985.

O feng shui está também ligada à predição? «Absolutamente», assegura mestre Tam. Feng shui vai muito mais além do que o saber posicionar um espelho à entrada de casa ou bem direccionar uma secretária para melhor estudar ou uma cama para melhor dormir. Feng shui envolve conhecimentos científicos, e até – quem diria – a utilização de instrumentos como a rosa-dos-ventos. A sua correcta aplicação contribui para fomentar a saúde nas pessoas, alterar-lhes a vida e, em termos gerais, atrair a boa sorte. «Numa casa com bom feng shui é possível dormir melhor, e, por conseguinte, obter mais energia para um novo dia de trabalho», diz.

Tam Szeto lembra que o feng shui não se resume ao modo de vida e filosofia oriental. Ele está presente no ocidente também, «simplesmente não lhe chamam feng shui, mas sim boas condições de ambiente, isto é: qualidade do ar, da luz, da cor, a arquitectura, a decoração, etc. Todos estes elementos são fundamentais para o equilíbrio do ser humano».

O feng shui de determinada habitação depende essencialmente do seu proprietário. Se ele é bafejado pela sorte, esta passa automaticamente para os restantes residentes. Por conseguinte, «há que encontrar, antes de tudo, o feng shui mais adequado para o dono de casa». Szeto dá um exemplo concreto: «caso alguém habite com os pais, deve primeiro fazer o feng shui deles. Dessa forma, a boa sorte que daí advir passará para ele».

Mas… basear-se-á também o feng shui no amor, nesse amor religioso que se traduz em compaixão pelo outro, tão querido aos princípios budistas? Szeto não tem dúvidas: «Se considerarmos o amor balanço, harmonia, sim, claro que sim». Mas nunca o amor paixão, que esse «é um amor fora de balanço». A harmonia que proporcionamos, o amor desinteressado que projectamos no outro, que o ajuda e contribui para a sua felicidade, esse é «o amor das ancestrais artes divinatórias».

Feng shui bebe muito na filosofia taoísta e encontra a sua melhor expressão no símbolo yin-yang, os opostos que, mais do que se contradizerem, se complementam. Tam Szeto assegura – com um sorriso que sempre ostenta – que não é apenas o dinheiro que o move, mas sim a oportunidade que tem de poder ajudar os outros. Esse o seu maior prazer. As pessoas que consulta provêm dos mais diversos escalões etários e estratos sociais. É contactado pelas mais variadas razões: problemas no amor, nos negócios, com a família, com a saúde. Digamos que Tam Szeto funciona, não raras vezes, mais como psicólogo, conselheiro ou até psiquiatra. «Procuro ouvir-lhes o coração e dar-lhes conselhos apropriados». Embora a maioria dos seus clientes, sobretudo de Hong Kong, busquem nele soluções para conseguir mais dinheiro, há quem, angustiado, lhe pergunte: «por que razão me sinto eu infeliz, se tenho dinheiro e tudo o que ambiciono na vida?» Szeto responde pedindo-lhes que não perguntem, antes olhem para o interior de si próprios. E recomenda o exercício regular de artes meditativas como o chi gong e o tai chi, e a leitura dos mantras da «nossa bíblia chinesa» e orações, muitas, a Kun Iam e a Buda.

Os princípios do Feng Shui derivam do clássico chinês “I Ching – o Livro das Mutações”, cuja autoria é atribuída à Fu Hsi. Os ensinamentos do Feng Shui estão contidos no livro “Tao Te Ching”, a base do Taoísmo, escrito entre os séculos VI e V a. C. pelo filósofo chinês Lao Tsé. Nele afirma-se que existe uma energia universal que cria e transforma todas as coisas e com a qual se deve estar em harmonia. As palavras Feng Shui significam, literalmente, Vento e Água. Juntas proporcionam o fluxo ideal dessa energia vital chamada Ch’i. Segundo a teoria chinesa das polaridades tudo tem o seu oposto e nem o Ch’i está livre dessa lei universal, pois o seu oposto é Sha, energia estagnada, geradora de discórdia e frustração. Para neutralizar Sha, dinamiza-se Ch’i e obtem-se paz e harmonia.

Joaquim Magalhães de Castro

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