Falta transparência e seriedade.
O Plano Quinquenal do Governo de Macau (2016-2020) é uma boa iniciativa, mas peca por falta de transparência e seriedade, disse a’O CLARIM o arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro, no rescaldo da mesa redonda da passada terça-feira que debateu o documento na Universidade de São José (USJ).
«Os pontos fortes do Plano são a consulta em si, pela oportunidade aberta a todos de comentarem as áreas de relevo para a vida em sociedade, tais como a Saúde, a Habitação, a Educação, o Trabalho, o Trânsito, o Turismo, etc.», explicou Vizeu Pinheiro, professor da Faculdade de Indústrias Criativas da USJ.
Contudo, «o Plano é demasiado genérico. Embora com muitas boas intenções, faltam objectivos concretos, assim como a base de todo o planeamento, que são as estatísticas da população, as tendências de crescimento e as projecções futuras para 2030 e 2050», frisou, ao destacar que «em termos comparativos o plano dos novos aterros tem muito mais detalhe».
Numa análise aos pontos fracos do Plano Quinquenal, realçou «o período tão curto da consulta, de apenas dois meses, ainda por cima nas férias do Verão», pelo que no seu entender «deveria estender-se por um período de quatro a seis meses».
«Trata-se de um plano de intenções, com algum sabor a plano estratégico. É uma manta de retalhos com diferentes contribuições e formatos de vários departamentos, com muita repetição de conteúdos “emprestados” das Linhas de Acção Governativa», asseverou.
«Alguns sectores, como o património, não têm praticamente nada mencionado, mostrando alguma falta de objectivos ou de transparência. Outro ponto fraco é não ter o documento de consulta em Inglês», sendo esta uma «queixa de vários académicos que não lêem o Chinês ou o Português, tal como grande parte da população local, ficando muitos residentes permanentes marginalizados da consulta».
«Até mesmo os residentes temporários deviam participar, pois contribuem e fazem parte do desenvolvimento de Macau. Se queremos transformar Macau num Centro Internacional de Turismo e Lazer, temos que ter mais informação, anúncios e notícias em Inglês», sublinhou Vizeu Pinheiro, que enalteceu «a consulta do plano do Turismo», que «está em Inglês», dando por isso os «parabéns» à iniciativa.
Quanto ao que poderá melhorar em Macau com o Plano Quinquenal, foi lacónico: «Tudo! Trânsito, ambiente, habitação… De resto, como ocorre nas cidades mais avançadas do mundo, tais como Singapura, Tóquio, Nova Iorque, Shenzhen e Xangai, entre muitas outras».
Para Vizeu Pinheiro, a utilidade da mesa redonda foi a de corresponder ao pedido do Governo para que as instituições e os cidadãos participem no Plano, conforme refere o documento. «Quanto maior for a participação, sobretudo nesta fase de analisar problemas e propor soluções, maiores as possibilidades dessas ideias serem incorporadas no planeamento futuro», referiu o arquitecto.
A mesa redonda, organizada pelo Instituto de Ciência e Ambiente da USJ, foi apresentada por Vizeu Pinheiro e moderada por David Gonçalves.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA