Cáritas e Santa Casa da Misericórdia abrangidas por vaga solidária
Mais de cem milhões de patacas doados, quase dois milhões de máscaras canalizados para o Governo e uma onda de solidariedade nunca antes vista no território. As dificuldades com que o novo coronavírus confrontou Macau são de monta, mas a resposta solidária de alguns dos principais agentes económicos da RAEM não fica atrás. As concessionárias de jogo e a banca têm estado particularmente activas na réplica ao surto epidémico. Instituições como a Cáritas e a Santa Casa da Misericórdia estão entre os mais beneficiados.
«Desejamos uma rápida recuperação a todas as pessoas e a todas as economias afectadas pelo vírus». Foi desta forma que a presidente do Conselho de Administração da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), Daisy Ho, justificou a 5 de Fevereiro – no mesmo dia em que o Governo anunciou a suspensão, por um período de quinze dias, de todas as actividades de jogo – a atribuição de um donativo de vinte milhões de patacas às autoridades da província continental de Hubei, com o propósito de ajudar a disseminação do Covid-19 na região que está no epicentro do surto epidémico.
Na ocasião, a concessionária de jogo indicava que a doação se destinava a comprar equipamento de protecção e material médico para contribuir para os esforços de prevenção e de combate à doença em Hubei, onde os primeiros casos de infecção pelo novo coronavírus foram detectados em Dezembro de 2019.
A SJM foi uma das primeiras operadoras de jogo a associar-se aos esforços de contingência do vírus – apenas a Melco Resorts e o Galaxy Entertainment Group se anteciparam à concessionária que mais casinos opera na RAEM – e desde então têm sido várias as empresas e os agentes da sociedade civil do território que se mobilizaram no sentido de reforçar quer o combate à disseminação do surto epidémico, quer o apoio prestado aos mais desfavorecidos por instituições como a Cáritas, a Santa Casa da Misericórdia ou a Cruz Vermelha de Macau.
O Banco Nacional Ultramarino (BNU), entidade bancária que integra o universo da portuguesa Caixa Geral de Depósitos, tem estado particularmente activo neste capítulo, ao anunciar no período de pouco mais de uma semana a atribuição de donativos a três das mais activas instituições não-governamentais de solidariedade social em Macau.
Na quarta-feira, o BNU anunciou a atribuição à Cruz Vermelha de um donativo no valor de cem mil patacas. Em nota enviada à Comunicação Social, a entidade bancária liderada por Carlos Cid Álvares sublinha o trabalho desenvolvido pela Cruz Vermelha no território ao longo do último século, sobretudo no que toca à prestação de assistência humanitária à população mais desfavorecida: “No âmbito da sua estratégia de Responsabilidade Social, e à semelhança do que tem feito nos últimos dias, junto de outras instituições, o BNU doou 100.000 patacas à Cruz Vermelha, em resposta à epidemia Covid-19”, pode ler-se na missiva enviada às redacções.
O banco já tinha doado um valor similar à Cáritas e anunciado a abertura de uma conta de angariação de fundos a favor da organização liderada por Paul Pun. O secretário-geral da organização, que conta ao seu serviço com mais de mil e 300 colaboradores, disse há quinze dias a’O CLARIMque o surto epidémico colocou à prova a capacidade de gestão financeira da Cáritas. A instituição de solidariedade social viu-se obrigada a assegurar alimentação e alojamento em Macau a cerca de quatro centenas de funcionários que residem do outro lado das Portas do Cerco.
No final da semana passada, o BNU já havia anunciado a atribuição de uma doação, no mesmo valor, desta vez à Santa Casa da Misericórdia. Fundada em 1569, a obra social da mais antiga instituição de caridade do território abrange áreas como o apoio social a deficientes e cegos, a idosos e a crianças. A Santa Casa administra ainda uma loja social que, uma vez por mês, distribui cabazes alimentares por dezenas de famílias desfavorecidas.
Em comunicado de Imprensa, o BNU garante que a missão solidária não se vai ficar pelas três instituições já beneficiadas. O banco assegura que vai continuar a apoiar organizações humanitárias e a implementar medidas “que visem ajudar os cidadãos e as Pequenas e Médias Empresas de Macau neste período difícil”.
JOGO SOLIDÁRIO
Com uma vasta rede de apoio social, a Cáritas Macau foi também abrangida por um outro pacote financeiro de apoio, anunciado no início do surto por uma das seis concessionárias e sub-concessionárias de jogo. Na segunda-feira, a Sands China anunciou a atribuição de um donativo de um milhão de patacas a quatro organizações governamentais com o propósito de ajudar as famílias locais que foram mais afectadas pela epidemia. As quatro instituições beneficiárias – à Cáritas acrescem a Sociedade Fuhong de Macau, a Macau Special Olympics e a Associação dos Familiares Encarregados dos Deficientes Mentais de Macau – vão receber cada uma 250 mil patacas. O montante deverá ser suficiente para prestar apoio económico a cerca de meio milhar de famílias carenciadas. “As Organizações Não-Governamentais de Macau tiveram desde sempre uma importância incontornável na prestação de apoio a alguns dos mais vulneráveis membros da comunidade”, recorda Wilfred Wong num comunicado divulgado pela operadora. “Por facultarem este serviço público fundamental, estas organizações merecem a nossa gratitude”, sublinha ainda o presidente da Sands China. A concessionária de capitais norte-americanos anunciou, na quarta-feira, a atribuição de um novo donativo no valor de 1,65 milhões de patacas a 33 lares de idosos e centro de reabilitação sancionados pelo Instituto de Acção Social.
Entretanto, a Melco Resorts and Entertainment, liderada por Lawrence Ho, já tinha anunciado a constituição de um fundo no valor de cinco milhões de patacas para ajudar os trabalhadores que foram, directa ou indirectamente, afectados pelas medidas de contingência decretadas pelo Governo com o objectivo de refrear a progressão do coronavírus.
Das seis concessionárias e sub-concessionárias de jogo com operações em Macau, apenas a Wynn Resorts não anunciou até ao momento a atribuição de donativos de natureza financeira. A operadora de jogo fundada pelo magnata norte-americano Steve Wynn ofereceu, no entanto, em meados do mês, um milhão de máscaras ao Governo.
Marco Carvalho