Sacrifício, a chave para uma nova vida em Cristo
Época de renovação por excelência, a Páscoa é também um período de introspecção, reflexão e penitência. Para os católicos de Macau ouvidos pel’O CLARIM, é o momento de encarar, com entrega e humildade, a dimensão sacrificial da mensagem de Jesus Cristo, filho de Deus feito Homem.
É o mais central dos elementos na celebração da Páscoa cristã. Os católicos de todo o mundo comemoram este fim-de-semana o sacrifício a que Jesus Cristo se submeteu com o propósito de redimir os pecados cometidos pelo Homem e salvar a Humanidade. Por meio da Paixão, da Morte e da Ressurreição do filho de Deus feito Homem, a Humanidade ganhou uma segunda vida, mas a dimensão sacrificial da mensagem de Cristo só se cumpre, em toda a sua plenitude, através do sacrifício pessoal. Esta é a percepção dos católicos ouvidos nos últimos dias pel’O CLARIM.
Para eles, a vivência plena do Mistério Pascal só se torna possível pela prática de diferentes formas de jejum, de sacrifício e de penitência. A Páscoa é um período propício à introspecção, à reflexão e à valorização da relação que cada um mantém com Deus e com os outros.
Práticas como a abstinência e o jejum, a caridade ou a participação em liturgias específicas, são recomendadas pela Igreja Católica durante o período da Quaresma, mas Orlando Dias procura acrescentar uma dimensão extraordinária de sacrifício pessoal ao modo como se prepara para o mistério da Morte, Paixão e Ressurreição de Jesus Cristo. «A Páscoa é um período de reflexão, contemplação e penitência. Aproveitamos sempre este período da Quaresma para fazer mais: meditamos mais nos nossos defeitos, na forma como reflectimos com Deus e, principalmente, na Paixão de Cristo. Nesta altura, rezamos mais; é o período em que vivemos o programa mais intenso da nossa vida cristã, mesmo na forma como nos relacionamos com a Igreja», assume o dirigente do Movimento de Adoração Eucarística Perpétua, em declarações ao nosso jornal. «Fazemos tudo com mais intensidade. Pedimos com mais frequência perdão a nosso Senhor. Pessoalmente, procuro ter uma maior atenção à caridade nesta altura, não só através da esmola, mas também através de outros gestos, como visitas a lares de idosos ou a dispensa de uma atenção mais particular aos mais necessitados», acrescenta Orlando Dias.
Na caminhada de preparação para a Páscoa, a Igreja Católica recomenda moderação aos fiéis, com uma atenção particular à ingestão de alimentos e à limitação do número de refeições. Práticas de autodisciplina com foco penitencial, o jejum e a abstinência são, em casa de Orlando Dias, um hábito comum ao longo de todo o ano. Durante a Quaresma, o responsável encara a ideia de sacrifício com uma dimensão mais pessoal, ao procurar limitar o uso que faz da Internet. «No que diz respeito ao jejum e à abstinência, é uma prática que procuro cumprir durante todo o ano, às sextas-feiras. No período da Quaresma, esta prática fica ainda mais intensa», revela. «Para além do jejum e da abstinência, procuro também abster-me de alguns divertimentos. Navego menos na Internet, por exemplo. Jogo menos jogos. Em relação à Internet há sempre duas vias pelas quais podemos enveredar: a pesquisa de dados, para preparar alguma tarefa, ou o uso da Internet para diversão. Nesta altura faço possível para reduzir o uso da Internet nesse domínio do entretenimento, da mesma forma que faço o possível para participar menos em festas e convívios. No tempo da Quaresma, adiamos estas circunstâncias para depois da Páscoa», explica Orlando Dias.
VIVER A PÁSCOA EM COMUNIDADE
Para Tammy Chio, a dimensão sacrificial da Quaresma também vai para além dos cânones recomendados pela Igreja e traduz-se num gesto simples, mas significativo. Durante os quarenta dias de preparação para a Páscoa, a vice-directora da Comissão Diocesana da Juventude abdica de café logo a seguir ao almoço, renunciando assim a um dos pequenos prazeres quotidianos que oferece a si mesma. «No meu caso pessoal, este ano, durante o período da Quaresma, deixei de tomar café logo após o almoço. Na Comissão Diocesana da Juventude procuramos transmitir a importância destes valores às crianças e aos jovens com os quais trabalhamos. Convocamos os jovens e procuramos fomentar algumas reflexões sobre o verdadeiro significado da morte de Cristo. Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados, sacrificou-se por todos nós», acentua, em declarações a’O CLARIM.
A Comissão Diocesana da Juventude vai promover amanhã, 18 de Abril, ao início da noite, um encontro com um grupo de jovens, com idades compreendidas entre os 13 e os 35 anos, que irá focar a dimensão eucarística da Páscoa. A iniciativa, que se realiza pelo segundo ano consecutivo, tem como objectivo proporcionar aos mais jovens uma dimensão verdadeiramente católica do Mistério Pascal. «Vamos reunir para jejuarmos juntos. Depois, iremos ver um pequeno filme sobre a morte de Cristo e, de seguida, haverá um momento de oração e reflexão sobre o verdadeiro significado da Páscoa. Muitos destes jovens cresceram no seio de famílias não católicas e nem sempre é fácil para eles jejuar ou cumprir as normas da abstinência. Com esta iniciativa, esperamos oferecer-lhes uma vivência mais significativa da Sexta-feira Santa», refere Tammy Chio.
UMA NOVA VIDA NO SEIO DA IGREJA
Para seis jovens e adultos da paróquia da Sé, a celebração do mistério da Paixão, Morte e Ressureição terá um significado ainda mais especial, pois irá permitir – por meio do Sacramento do Baptismo – entrarem em pleno na vida cristã. O baptismo de catecúmenos, explica o padre Daniel Ribeiro, SCJ, era prática habitual na Igreja primitiva e atesta a vitalidade da vida da Igreja. «É uma tradição muito antiga que remonta aos primeiros séculos e que se mantém até hoje. Em muitos lugares, como em Portugal e no Brasil, como há poucos baptismos de adultos, pois a maioria dos baptismos são de crianças, é algo que não vemos muito. Mas em lugares onde os cristãos são a minoria e não há muitas famílias católicas, há muitos casos de conversão na idade adulta. Os catecúmenos preparam-se, fazem três escrutínios na época da Quaresma, no que é uma apresentação à comunidade, e normalmente recebem os três Sacramentos da iniciação cristã na mesma noite: o Baptismo, a Eucaristia (a Primeira Comunhão) e também o Crisma. Seis pessoas serão baptizadas aqui na Sé. Destas seis, três vão receber o Baptismo, fazer a Primeira Comunhão e o Crisma. Outras duas não, por causa da idade», sublinha o vigário paroquial da Sé Catedral para a comunidade de língua portuguesa.
De acordo com o sacerdote, «por meio da ressurreição, Jesus não volta somente a viver e a ganhar vida. Ele passa a existir de uma forma diferente, num estado de vida diferente, no qual a carne humana, o corpo humano, passa a viver na eternidade. Jesus antecipa aquilo que vai acontecer com cada um de nós. A nossa vida, aqui na Terra, precisa ser direccionada por algumas motivações; todos necessitamos de algum apoio e o maior apoio é esta certeza de que Deus nos cria para a eternidade», conclui.
Marco Carvalho