CAPELA DE SÃO MIGUEL ARCANJO

CAPELA DE SÃO MIGUEL ARCANJO

Última morada terrena

Localizada no Cemitério de São Miguel Arcanjo, a capela dedicada a este santo foi fundada em 1875 e restaurada em 1898 e 1997.

Trata-se de uma igreja neogótica na arquitectura, leve no volume, sendo um exemplo deste revivalismo estético de final de Oitocentos. O seu exterior acompanha a leveza na cor verde límpida, com ocorrências de branco na arcaria, nos motivos decorativos e no debruado dos elementos e remates arquitectónicos. O interior é luminoso, equilibrado e suave na organização da luz e dos elementos arquitectónicos, para além das estruturas de apoio às celebrações. Na cabeceira por detrás do altar-mor, três fenestrações avitraladas, com policromia, em temas alusivos ao Juízo Final e à Salvação, de que o Arcanjo São Miguel, orago da capela, é patrono e medianeiro, pesando as lamas no julgamento e como vencedor de Lúcifer e do Mal. Maria, intercessora das almas do Purgatório e alívio das penas dos pecadores, consta também na iconografia vitralícia.

Dispõem-se depois aberturas com portadas e janelas ao longo do corpo da (única) nave, com uma frescura propiciada pelo pavimento branco com elementos geométricos negros (pequenos quadrados), sempre em bom estado de conservação, como aliás é pateteado por todo o conjunto. Sobre a entrada que dá para o cemitério, voltada a poente (para o Apocalipse e Juízo Final), acha-se uma espécie de coro, mas muito reduzido e sem atribuições funcionais do tipo coro-alto, a encimar dois lanços de escadas, cada uma a arrancar de um dos lados da porta.

A fachada tem no centro uma estrutura acastelada, em estilo de torre, com dois coruchéus de forma redonda e um laço de merlões com ameias entre ambos os referidos pináculos. Em cada um dos lados da igreja há uma estrutura de acesso ao interior, abobadada e aberta lateralmente em arcaria gótica, numa espécie de arcobotantes fechados.

A igreja encima um caminho ascensional por entre as sepulturas, apresentando-se mais ou menos no centro altaneiro do campo santo, onde pontificam espaços tumulares que dão sentido à arte cemiterial que o cemitério e a capela corporizam.

É o mais importante espaço cemiterial católico de Macau, onde se realizam os ritos funerários dos sepultados, a par de toda a liturgia fúnebre e exequial. A pequena capela, aponte-se, é um dos edifícios religiosos mais bem conservados em Macau.

O cemitério data de 1870. Não apenas portugueses estão ali sepultados, filhos ilustres da cidade ou habitantes famosos e de relevo na sua história, mas têm ali também a sua última morada terrena muitos cidadãos de várias nacionalidades, além de, claro, chineses.

Na sua coloração verde, numa ideia de antiguidade medieval, em jeito de revivalismo, no meio da antiga Macau, na confluência do burgo histórico português e da urbe erguida nos arrabaldes oitocentistas daquela, surge a tranquilidade cemiterial de São Miguel, a paz do campo santo católico, no meio do bulício urbano, um local afinal também de convergências e confluências, como sempre foi a Macau dos vivos.

As árvores silenciosas que rodeiam a capela, orlando também o cemitério e as moradas eternas, conferem uma harmonia visual e espiritual, a que alguns belos exemplares de arte cemiterial dão sentido, para além das memórias e da história que também se encerra.

Vítor Teixeira

Universidade Fernando Pessoa

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