«Macau, só de férias».
«Sou um cidadão internacional. O meu pai é ribatejano. A minha mãe é mestiça, timorense e moçambicana», foi assim que António Mota se definiu a’O CLARIM poucos dias antes de regressar a Portugal, após completar 65 anos de idade e de se reformar da Polícia Judiciária (PJ) de Macau, mais concretamente de sub-gabinete da Interpol, onde era intérprete-tradutor.
A principal razão para que optasse por Portugal, em vez de continuar a viver no território, prendeu-se com as expectativas de futuro, pois «a qualidade de vida está cada vez pior em Macau, os preços das casas são exorbitantes e não há muitas alternativas para que as pessoas da minha idade ocupem os seus tempos livres».
«Para quem está reformado, Macau não é vida», afirmou António Mota, à imagem de vários portugueses sem habitação própria que nos últimos anos regressaram a Portugal, seja por atingirem o limite de idade na Função Pública, ou no sector privado, seja pelo custo de vida da RAEM.
A descaracterização do território, em contraste com a simplicidade de outrora, foi outro dos motivos que levou à decisão de António Mota: «Macau deixou de ser aquilo que conheci. Cheguei em 1991 e desde então o território desenvolveu-se de tal maneira que agora mal se pode andar nas ruas. E mesmo nos restaurantes os preços são extremamente exagerados».
«Tenho um apartamento pago em Portugal, um T2 confortável e espaçoso. Custou-me muito menos do que um parque de estacionamento na RAEM», confessou.
Assumindo que «Macau, só de férias» e que «depois de muitos anos» o território «também fica no coração», António Mota deixou bem claro que nem tudo é mau, a começar pelo «sentimento de segurança que as pessoas têm».
O CLARIM procurou que desvendasse algo relacionado com a sua actividade no sub-gabinete da Interpol, mas foi taxativo na abordagem ao tema da Segurança: «O que sei vai comigo para o caixão».
António Mota trabalhou no departamento de tráfego aéreo dos Transportes Aéreos de Timor, saindo antes da invasão indonésia. Trabalhou na Austrália entre 1975 e 1991, ano em que chegou a Macau, onde exerceu funções na PJ até 1999. Foi para a Interpol da PJ de Portugal, ao abrigo do contingente que pediu a integração na República, mas no ano seguinte, estando já reformado, decidiu ir para Inglaterra, onde foi director de uma empresa de construção civil. Um convite em 2002 fê-lo regressar a Macau para desempenhar as mesmas funções de outrora. No campo associativo, foi presidente da Associação de Amizade Macau-Timor. Regressa amanhã a Portugal, ao final da tarde.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
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