«A nossa principal preocupação é a formação de jovens líderes no seio da Igreja Católica»
O ano de 2020 é o segundo de três que a diocese de Macau dedica aos jovens do território, mas o surto epidémico do novo coronavírus acabou inevitavelmente por afectar o trabalho desenvolvido pelo Centro Pastoral Diocesano para a Juventude em prol das gerações mais novas. A formação espiritual de jovens que se possam assumir como líderes no seio da comunidade católica de Macau continua a ser a prioridade do organismo, explicou Tammy Chio a’O CLARIM. A secretária-geral do CPDJ, em discurso directo.
O CLARIM– Temos vindo a viver tempos de incerteza. Esta crise de saúde pública forçou a Igreja Católica a reinventar-se. Como é que afectou o Centro Pastoral Diocesano para a Juventude? Como tem vindo a afectar o trabalho que a diocese de Macau promove de forma a chegar aos jovens?
TAMMY CHIO– Habitualmente, o Centro promove algumas iniciativas junto das escolas. Eu visito regularmente algumas das escolas de Macau de forma a manter o contacto com os jovens. Por outro lado, o nosso Centro está aberto todos os dias do início da tarde até ao início da noite. Por causa desta pandemia, ao longo dos últimos meses estivemos fechados e não temos a certeza de quando podemos reabrir. Durante estes meses fizemos uso de algumas plataformas digitais, como o Facebook, o Instagram ou o WeChat no sentido de manter o contacto com os jovens, não só com aqueles que estão em Macau, mas também com os que estão espalhados pelo mundo. O nosso foco principal é Macau, mas, como sabe, muitos estudantes universitários optaram por estudar no estrangeiro e, neste momento, há estudantes de Macau espalhados por todo o mundo. Há uns meses, tentei estabelecer contacto com eles através do WeChat ou do WhatsApp, com o propósito de perceber como estava a situação nos países onde se encontravam. Ao mesmo tempo, tivemos de cancelar todos os ajuntamentos que estavam planeados e convidámo-los a partilhar fotografias e a responder a algumas perguntas que lhes enviámos. A ideia era a de incentivar a partilha de experiências durante este período. Eles foram obrigados a ficar em casa e a cumprir quarentena nos países onde se encontram. Fizemos uso de recursos digitais para publicar vídeos e para partilhar medidas de encorajamento. Quando esta pandemia teve início, estávamos a preparar o período da Quaresma e pareceu-nos importante partilhar com eles algumas mensagens de encorajamento.
CL– E que tipo de “feedback” recebeu o Centro? A Internet pode ou não contribuir para aproximar as pessoas?
T.C.– Há muito tempo que trabalho com a juventude de Macau. Faço este trabalho há mais de dez anos. Hoje em dia, as gerações mais jovens passam o tempo todo fechadas em casa. Os jovens teriam ficado enclausurados em casa mesmo que a pandemia não os tivesse obrigado. Eles gostam de estar em casa. Tento convencê-los a reunir-se e a socializar. Se passarem o tempo todo em casa, a tendência é para que se isolem. Tento que se juntem, que se encontrem cara-a-cara e que partilhem as preocupações que têm sobre a vida, sobre os estudos e sobre a nossa fé. A Internet, não me parece, não é um meio muito eficaz para fazer amigos ou para partilhar experiências. No entanto, durante a quarentena é provavelmente aquela que apresenta uma maior eficácia. Quando tudo isto acalmar, vamos fazer o que nos for possível para que as coisas regressem ao normal: vamos voltar a abordá-los no sentido de organizar e promover alguns encontros. O primeiro decorre já no próximo Domingo.
CL– Que tipo de actividades é que o Centro Pastoral Diocesano para a Juventude teve de cancelar devido ao novo coronavírus?
T.C.– Em Fevereiro devíamos ter promovido algumas actividades organizadas pelo Comité Preparatório Diocesano do Ano da Juventude, mas tivemos de as cancelar por causa do Covid-19. Também devíamos ter organizado reuniões mensais e encontros com os jovens locais, mas estas iniciativas também foram canceladas. Estamos a planear promover esses eventos talvez em Julho ou Agosto. De qualquer forma, queremos recomeçar a organizar actividades.
CL– A próxima edição das Jornadas Mundiais da Juventude estava planeada para Lisboa, mas acabou por ser adiada. Havia planos, por parte da diocese de Macau, de enviar a Lisboa alguns jovens de Macau?
T.C.– Sim, claro. O nosso bispo sempre teve essa intenção. Mas ainda não definimos nada de muito concreto, até porque as Jornadas Mundiais da Juventude foram adiados. A partir de agora, e de acordo com o nosso bispo D. Stephen Lee, o principal foco é a juventude local. Temos de ir além da participação nas Jornadas Mundiais da Juventude ou nas Jornadas Asiáticas da Juventude. Ao longo dos próximos anos a nossa principal preocupação é a formação de jovens líderes no seio da Igreja Católica do território. Vamos fazer um grande investimento na formação espiritual dos jovens.
CL– Ainda assim, é importante enviar a juventude de Macau a este tipo de eventos? Que tipo de valores podem adquirir com a participação, por exemplo, nas Jornadas Mundiais da Juventude?
T.C.– Antes de mais vai reforçar a identidade deles como chineses que nasceram e vivem em Macau, e ao mesmo tempo reforçar a convicção de integramos uma Igreja una e universal. Estes são valores muito importantes e são aspectos que queremos que eles assimilem e compreendam. É muito importante que os jovens de Macau possam estar certos da sua identidade, tanto no âmbito da nossa sociedade, como no âmbito da Igreja.
CL– Dizia que é importante que compreendam que são chineses, que são católicos, mas que também são parte da Igreja universal. Macau não é propriamente um local fácil para viver e para crescer. É uma cidade de casinos, onde subsiste a ideia de que é fácil alcançar as coisas e é também uma cidade de inúmeras tentações. Como é crescer como católico em Macau? Os jovens sentem-se tentados a seguir pela via mais fácil?
T.C.– Não creio que sintam essa tentação. Quando participam nestes grandes eventos internacionais compreendem que têm a sua própria identidade. Essa identidade é algo que os distingue nessas iniciativas, mas também em Macau, no seio da nossa própria sociedade. Falava do impacto que uma cidade como Macau tem no crescimento destes jovens, mas nós procuramos oferecer-lhes a oportunidade de se encontrarem a eles mesmos. São eles mesmos que têm de levar esse processo a bom porto. Não nos compete a nós dizer quem eles são. De qualquer forma, as gerações mais novas não se sentem muito inclinadas a acreditar no que lhes dizemos. Tentam encontrar as respostas por elas próprias.
CL– As instalações do Centro Pastoral Diocesano para a Juventude estiveram encerradas ao longo dos últimos meses. Dizia que o Centro habitualmente recebe nas suas instalações jovens e estudantes locais. Quando é que estas instalações vão voltar a reabrir?
T.C.– As nossas portas estão sempre abertas à sociedade. Por vezes, a comunidade pede-nos para fazer uso das nossas instalações. Durante os últimos meses estivemos fechados e não conseguimos dar resposta aos pedidos da comunidade. Talvez no próximo mês, em Junho, consigamos voltar a promover as nossas actividades como normalmente. Já estamos abertos, mas por agora só fazemos trabalho de coordenação. Talvez em Junho já consigamos estar totalmente operacionais de novo.
Marco Carvalho