Padre João Lau, Director da Academia S. Pio X

«Macau precisa de uma Casa da Música»

O padre João Lau, ao traçar o panorama musical de Macau, disse que falta dinamizar a vertente cultural através de uma Casa da Música. Em entrevista a’O CLARIM, o director da Academia de Música S. Pio X falou sobre o legado da instituição na formação dos jovens e lembrou a obra do seu antecessor, o padre Lancelote Rodrigues.

O CLARIMÉ responsável pela Academia desde 18 de Julho de 2013. Qual o ponto da situação?

PADRE JOÃO LAU – Continuamos a trabalhar em prol da formação musical dos jovens, tal como antes. Há agora mais crianças com interesse pela música; em aprender violino porque temos dois professores russos. Antes só tínhamos piano, mas agora também temos violino. Ensinamos cerca de cento e cinquenta alunos. A maioria toca piano.

CL – Que projectos para o futuro?

J.L. – Estamos num andar por cima do Cineteatro. Gostaríamos de ter mais alunos, mas temos falta de espaço. Não há muito dinheiro. Temos apoio do Governo, mas também muitas despesas. Apesar dos alunos pagarem propinas, o montante não chega para todos os gastos.

CLDepreendo que precisam de mais apoios…

J.L. – Era bom se o Governo nos concedesse um espaço melhor. Já pedimos à Diocese, mas ainda não obtivemos resposta.

CLActualmente estão em condições de fornecer talentos para as orquestras do território?

J.L. – Depende. Depois de completarem o ensino secundário normalmente os jovens vão para a universidade, onde não seguem a música. Mas há também quem tenha passado pela Academia e esteja nas orquestras.

CLO panorama musical em Macau recomenda-se?

J.L. – Houve uma grande evolução nos últimos vinte anos. O Instituto Cultural tem a Escola de Música [do Conservatório de Macau], em frente à igreja de S. Lázaro. Para uma cidade tão pequena, já muito tem sido feito.

CLEmbora pequena, a aposta do Governo é tornar a cidade de Macau num centro mundial de turismo e lazer. Não faltará maior dinamismo cultural?

J.L. – Falta. Ainda há mais espaço para desenvolver a vertente cultural, com a música a ela associada. Há vários anos falei com o então presidente da Fundação Macau, o senhor [Victor] Ng, e perguntei-lhe: “por que razão o Governo, que tem tanto dinheiro, ainda não construiu uma Casa da Música?”. Nada foi ainda feito, mas Macau precisa desta infra-estrutura.

CLE os dois auditórios do Centro Cultural de Macau?

J.L. – O Centro Cultural não é o local apropriado, porque não se dedica exclusivamente à música, mas sim a várias actividades.

CLFundada em 1962 pelo padre Áureo Castro, a Academia de Música S. Pio X foi a primeira instituição a facultar treino sistemático de música aos jovens de Macau. O papel da instituição tem-se revelado importante, ao atribuir bolsas de estudo e proporcionar saídas profissionais…

J.L. – É melhor dizer que a Academia cria uma plataforma para orientar a qualidade e o interesse das crianças pela música. Há quem queria exercer a profissão de músico, e embora tenham jeito penso que é muito difícil conseguirem concretizar este desejo em Macau.

CLFaltam incentivos do Governo?

J.L. – Estes jovens pensam em como ganhar a vida e se vão consegui-lo, ou não, através da música. É difícil, mas há quem consiga. Se tiverem muito dinheiro então fica mais fácil…

CLA Academia já actuou com vários coros, entre os quais o Coro Perosi, na terra do padre Áureo, nos Açores, e o Coro Santa Rosa de Lima, em Macau. Este tipo de iniciativas é para continuar?

J.L. – Julgo que sim, porque é sempre bom aliar a música à voz.

CLSucedeu no cargo ao padre Lancelote Rodrigues…

J.L. – Quando o nosso estimado padre Lancelote ficou doente fui nomeado vice-director da Academia. Ele esteve sempre disponível para ajudar as pessoas. É conhecido o seu trabalho junto dos refugiados. Tivemos pouco contacto, porque ele tinha o seu escritório nos Serviços Sociais Católicos de Macau. Depois do seu falecimento, o senhor bispo [D. José Lai] nomeou-me director. Ao contrário de mim, o padre Lancelote tinha jeito para a música.

CLDê um exemplo!

J.L. – No passado dia 21 de Dezembro realizámos um concerto de Natal em sua memória, na igreja de São Domingos, que incluiu o Te Deum da sua autoria que foi cantado pela primeira vez, a 20 de Março de 1950, pelo Coro de Santa Cecília do Seminário, durante a primeira missa celebrada pelo padre Mendes [ex-director d’O CLARIM]. O Te Deum foi dirigido pelo próprio Lancelote e o padre Áureo tocou harmónio.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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