«Ajudamos quem professa outras crenças e religiões».
Situada numa das áreas mais pobres de Macau, a paróquia de Nossa Senhora de Fátima é caracterizada pela sua multiculturalidade, com incidência para os chineses, vietnamitas e falantes de língua inglesa. O pároco José Ángel Hernández quer fazer chegar a Palavra do Senhor a todos, razão pela qual tem as portas da igreja abertas a católicos e não-católicos, inclusivamente da comunidade de Fujian. Há também quem venha de Zhuhai. Para breve está agendada uma peregrinação ao Santuário de Fátima, em Portugal.
O CLARIM – É pároco da igreja de Nossa Senhora de Fátima há seis anos. Qual é a maior dificuldade com que se depara?
JOSÉ ÁNGEL HERNÁNDEZ – A maior dificuldade está relacionada com a organização das pessoas da comunidade em geral, que fazem parte da paróquia, para que se tornem num sinal do Reino de Deus. A Igreja é um instrumento do Reino de Deus. É um desafio pôr em prática esta vocação de Jesus na comunidade, assente no modo como devem viver a fé.
CL – Grande parte da comunidade é constituída por chineses de Macau. Será que estão receptivos a receber a Palavra de Deus? Ou será que, embora não professem o Catolicismo, estão dependentes dos serviços sociais prestados pela Igreja?
J.A.H. – No início havia apenas a comunidade chinesa em Fátima. Não era muito grande. Mais tarde desenvolveu-se a comunidade vietnamita. E porque também temos um padre vietnamita [Ho Lu Vien] foi ele quem passou a trazer a comunidade vietnamita de Macau aqui para Fátima. Há também a comunidade de língua inglesa, maioritariamente constituída por filipinos, mas também de outros países, tais como da Índia, e africanos.
CL – E quanto à comunidade chinesa?
J.A.H. – Não é nosso objectivo chegar apenas aos católicos [de etnia chinesa], até porque ajudamos quem professa outras crenças e religiões. Em redor desta área de Fátima – um dos locais de maior influência budista do território – tentamos fazer face às necessidades de pessoas não-católicas, incluindo mães solteiras e respectivos filhos.
CL – Prestam auxílio a muçulmanos?
J.A.H. – Não temos aqui muçulmanos. Mas também são bem-vindos. Neste momento ajudamos budistas, taoistas, quem professa as crenças populares chinesas e quem está imbuído pelo espírito de Cristo.
CL – Na paróquia de Fátima vivem muitas pessoas ligadas à comunidade de Fujian. Também procuram os serviços sociais e espirituais da igreja?
J.A.H. – Ajudamos quem vive nesta área [da paróquia]. Certamente, muitas poderão ser da comunidade de Fujian. Ajudamos todas as pessoas da comunidade de uma forma integral. Para quem passa por necessidades de cariz material visitamos as suas casas e fornecemos bens de primeira necessidade, basicamente comida, mas também mesas ou camas. Ajudamos as crianças, essencialmente quem frequenta o Ensino Primário. Às mães solteiras damos a conhecer o catecumenato. Algumas são já católicas. Foram baptizadas na última Páscoa. Para o ano temos um novo grupo.
CL – Há chineses de Zhuhai que comparecem às celebrações eucarísticas na igreja de Fátima…
J.A.H. – Sim! Também temos alguns católicos, especialmente da Igreja não-oficial [da China], em Zhuhai. Vêm também por altura das grandes celebrações, para fazerem o crisma e durante a Páscoa.
CL – O trabalho social desenvolvido pelo Governo da RAEM tem sido suficiente? Ou há lacunas a colmatar?
J.A.H. – Não tenho prestado muita atenção a esse aspecto. Todavia, sempre que é preciso há assistentes sociais [do Governo] que ajudam as famílias mais carenciadas.
CL – Quais são as principais necessidades da paróquia?
J.A.H. – Celebramos missas em Cantonense, Inglês e Vietnamita. Temos a participação de católicos que estão envolvidos na comunidade. Sentem-se parte dela e apoiam-na quando existem necessidades materiais. Temos alguns paroquianos que desejam preparar-se para serem catequistas, mas precisamos de mais ainda. Isto é muito importante. A igreja também está aberta à oração, mas é muito baixa a participação na adoração do Santíssimo Sacramento e nas confissões. É ainda preciso aumentar o número de vocações na Igreja.
CL – Como caracteriza a comunidade que serve?
J.A.H. – Está a desenvolver-se e a fazer um esforço para se tornar visível. Temos muitas actividades na paróquia. Por exemplo, no pátio da nossa igreja vamos organizar no sábado [amanhã], entre as 11 horas e 30 e as 13 horas e 30, juntamente com as Missionárias da Caridade, um almoço para os mais pobres, essencialmente para os sem-abrigo.
PEREGRINAÇÃO A PORTUGAL (CAIXA)
Um grupo de 36 fiéis liderados pelo padre José Ángel Hernández vai deslocar-se em peregrinação ao Santuário de Fátima, com o intuito de assinalar o Centésimo Aniversário das Aparições da Virgem Maria aos três pastorinhos na Cova da Iria. «A nossa paróquia está a organizar esta peregrinação. Entre os fiéis vão estar chineses, filipinos e alguns falantes de língua portuguesa», disse o sacerdote, acrescentando que a ida a Fátima tem como objectivo «fortalecer o significado da mensagem» que a Virgem Maria deixou sobre a «salvação da humanidade» e a «paz no mundo». A primeira etapa da viagem, com início marcado para 5 de Julho, é a cidade de Barcelona, onde o grupo irá visitar a Catedral da Sagrada Família. Dali desloca-se a Saragoça, Ávila e Santiago de Compostela, tendo como último destino Fátima. A peregrinação termina a 17 de Julho.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA