«Os pais são os principais educadores».
D. Stephen Lee está empenhado em melhorar o ensino das escolas católicas, promovendo os valores morais e os laços familiares, através de um trabalho vincadamente pastoral. Num tom espontâneo falou a’O CLARIM sobre educação sexual, reiterou a vontade de ajudar os pais dos alunos do Colégio Diocesano de São José com dificuldades financeiras, e desvalorizou as críticas em torno das obras de restauro do património arquitectónico religioso.
O CLARIM – Instituiu há cerca de duas semanas a Comissão Diocesana da Educação Católica, de que é presidente. Qual é a finalidade deste novo órgão?
D. STEPHEN LEE – A intenção é coordenar, ao nível da Diocese, a Educação Católica de todas as escolas católicas. Não estou com isto a dizer que o desempenho não tem sido bom. No entanto, gostaria de pôr ênfase na Educação Católica, em termos da fé, dos valores morais, da evangelização, do ambiente da piedade e também em como promover as virtudes cristãs nas escolas.
CL – O objectivo é aumentar o número de jovens católicos ou incutir-lhes valores morais que tragam benefícios à vida em sociedade?
D.S.L. – Claro que pensamos nos valores morais. Quanto à evangelização, não é que não estejam a efectuá-la, mas é preciso coordenação entre as escolas para estudarem em conjunto uma estrutura de docência. Por vezes, os estabelecimentos de ensino têm muito com que se preocupar ao nível curricular, além de se debaterem com falta de recursos para ministrar a formação religiosa aos professores, tornando-se difícil transmitir esses conhecimentos aos alunos. A Comissão Diocesana da Educação Católica não vai supervisionar, mas sim exercer o papel de apoio às escolas a seguir os objectivos da Educação Católica.
CL – Há algum plano para diminuir o tempo que os alunos despendem no universo escolar? Também nas escolas católicas há jovens com muitos trabalhos de casa…
D.S.L. – Acima de tudo, o que está agora planeado é a nível da gestão. Ou seja, dos directores, dos professores mais antigos, etc. Vamos providenciar recursos; acções de formação ao nível diocesano para os dois tipos de escolas católicas, as diocesanas e as religiosas. No passado, algumas escolas tinham os seus recursos próprios para a Educação Católica, mas a Diocese vai agora ajudá-las com mais recursos.
CL – Também há duas semanas criou a Comissão Diocesana da Família, Casamento e Vida, que lidera. Há alguma ligação entre esta e a outra Comissão?
D.S.L. – Estão ambas relacionadas. Por um lado é a escola, que incute valores cristãos a todos os alunos, porque muitos não comungam desses valores. Dar-lhes a conhecer a educação religiosa pode ajudá-los sobremaneira no crescimento, como homens e mulheres, e a serem bons cidadãos. Por outro lado, é fora da escola, porque o ambiente familiar em casa também é muito importante. O que afecta o relacionamento em casa? O casamento, os pais… É preciso lembrar que os pais são os principais educadores. As escolas apenas ajudam os pais a educar os seus filhos. Se pusermos o foco nas escolas, é preciso ver que a atenção deve incidir ainda mais na Família, que é baseada no Casamento. Um casamento estável promove a estabilidade no seio familiar. E uma família estável, cresce normalmente…
CL – Será que os casais conseguem em termos gerais ter bons ambientes familiares, se tivermos em conta que os vícios e as tentações são duas das principais características de Macau?
D.S.L. – Sim, isso é possível, mas também há divórcios, muitas famílias destroçadas e mães solteiras, o que origina muitos problemas sociais. As famílias destroçadas causam problemas nos jovens, o que torna a educação muito difícil. Por isso, tentamos ir às raízes e lidar com os problemas. Cuidamos primeiro dos nossos católicos, mas estamos também abertos ao público em geral. A criação desta Comissão [Diocesana da Família, Casamento e Vida] dá a conhecer às pessoas que estamos a focar-nos nestas questões.
CL – De que forma?
D.S.L. – Em como construir um bom casamento, em como mantê-lo e, numa idade avançada, em como lidar com a relação conjugal. Também falamos sobre como introduzir a vida espiritual nas famílias. A vida é muito abrangente. Respeitar a vida é o mesmo que falar no aborto, na fertilização in vitro…
CL – Os professores vão falar sobre estes dois temas nas escolas?
D.S.L. – Claro que sim.
CL – Há algo planeado para a educação sexual?
D.S.L. – Sim, é parte da vida. A vida começa no nascimento. Por isso, falar dos problemas do aborto e da fertilização in vitro é estabelecer uma relação com a educação sexual. Aborda-se a educação para a vida, porque falar apenas de sexo é ridículo.
CL – E quanto a alertar os adolescentes para os perigos de uma vida sexual precoce?
D.S.L. – A educação para a vida começa desde o início, em como respeitar a vida no ventre materno. A vida é constituída pela relação sexual do casal. É esta a beleza da vida, por via do sexo; falar sobre a pureza, a castidade e o respeito pelos valores por parte dos jovens, evitando as drogas e o álcool. Está tudo relacionado.
Propinas e amarelo
CL – Alguns pais estão descontentes com o aumento do preço das propinas do Colégio Diocesano de São José. Vai promover um encontro para com eles debater o assunto?
D.S.L. – Já respondi através de uma carta. Não há necessidade [de um encontro]. A questão está a ser estudada. A solução temporária já é conhecida: para todos os pais com dificuldades em pagar o Governo está disposto a ajudá-los. O Colégio também disponibiliza apoio. No entanto, disseram-me que até ao momento não houve muitos a solicitar esse apoio. Porquê? Mas como podem queixar-se e não solicitam o apoio? Parece-me um mistério…
CL – O arquitecto Carlos Marreiros criticou, recentemente, a cor da fachada do edifício da Santa Infância. O amarelo não está bem?
D.S.L. – Quando cheguei já havia essa cor. Para mim, isso é realmente muito, muito secundário. A minha prioridade é o trabalho pastoral.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA