«Os jovens não estão integrados».
A propósito do “Simpósio Macaense”, que decorre amanhã na Califórnia por ocasião da 41ª conferência da “Luso-American Education Foundation”, Arthur Britto falou a’O CLARIM sobre o evento e os seus intervenientes. Os problemas dos jovens macaenses e das instituições com sede na América do Norte foram outros dos assuntos abordados pelo presidente do “Macau Arts Culture and Heritage Institute”.
O CLARIM – Pode dar-nos a conhecer um pouco da “Luso-American Education Foundation”?
ARTHUR BRITTO – A LAEF organiza esta conferência, que é levada a cabo todos os anos em diferentes universidades da Califórnia, para os jovens portugueses se familiarizarem depois de completarem o Ensino Secundário. É uma filial da “Luso-American Financial Society” [LAFS], fundada em 1868 na Califórnia, sendo uma das mais antigas sociedades “fraternais” portuguesas nos Estados Unidos. A LAEF foi fundada em 1963 para fomentar, patrocinar e perpetuar a língua e cultura portuguesa nos Estados Unidos. Sendo uma fundação, atribui bolsas de estudo e bolsas educacionais em várias categorias. Apoia também programas de intercâmbio para estudantes, conferências educacionais anuais e campos de Verão para jovens.
CL – Qual é o seu envolvimento no “Simpósio Macaense”?
A.B. – Como membro do conselho consultivo da LAFS, ajudo a organizar este evento, do qual serei o moderador.
CL – É também fundador e presidente do “Macau Arts Culture and Heritage Institute”. Qual é o objectivo desta entidade?
A.B. – O objectivo do MACHI é dar a conhecer ao público a presença dos portugueses conhecidos como macaenses do Leste Asiático, através de seminários, conferências, música e exposições.
CL – Que opinião tem sobre o modo de vida dos macaenses na América do Norte?
A.B. – Só posso falar dos macaenses com quem tenho interagido. São muito positivos e sem queixumes da vida. Estão constantemente à procura e a seguir em frente.
CL – O que é preciso fazer para que os jovens macaenses continuem a seguir as tradições dos seus antepassados?
A.B. – É uma pergunta difícil. Espero não estar na mira deles quando souberem a minha opinião. Aqui nos Estados Unidos a maioria das instituições “fraternais” está em queda, em direcção ao fracasso e quase sem esperança de sobreviver. Não é nenhum segredo que há um declínio constante de adesões porque os jovens não estão integrados quando os seus pais os acompanham nos eventos culturais. As três Casas de Macau com membros adultos, nomeadamente a UMA [União Macaense Americana], a Casa de Macau USA e o Lusitano Club da Califórnia, estão na minha opinião a passar pelo mesmo, apesar dos jovens até não serem desprendidos quando participam nos eventos culturais organizados pelos mais velhos. Com efeito, deve ser aborrecido não terem voz activa…
CL – Há alguma medida para contrariar essa tendência?
A.B. – A LAFS, da qual faço parte do conselho consultivo, pode ter a solução com o “Conselho Luso-Juvenil”, para que os jovens tenham as suas próprias iniciativas tal como acontece com os mais velhos. E quando se tornarem adultos podem facilmente juntar-se aos seus pais. As três Casas que estão sob a alçada do Conselho das Comunidades Macaenses [CCM] e recebem subsídios desta instituição podiam ponderar algo semelhante ao que a LAFS está a fazer com os seus jovens. Contudo, sugeria que fosse organizado sob a égide das três Casas como um todo.
CL – Macau está muito longe. No entanto, de que maneira poderá apoiar-vos?
A.B. – Infelizmente o CCM não irá reconhecer o MACHI enquanto tiver as três Casas sob a sua alçada. Ou seja, a UMA, a Casa de Macau USA e o Lusitano Club da Califórnia. Todavia, o MACHI está registado em Macau como uma entidade sem fins lucrativos na Aliança Internacional Macaense, juntamente com outras instituições macaenses espalhadas pelo mundo que não estão no CCM e promovem a cultura macaense. Espero que a Fundação Macau apoie o meu instituto, bem como o CCM.
CL – Voltando ao “Simpósio Macaense”… Constam do programa vários oradores. Pode falar-nos do primeiro?
A.B. – Roy Eric Xavier vai abordar o tema “Um novo rumo para as instituições macaenses”. Formado na Universidade da Califórnia, Berkeley, é director do Projecto de Estudos Portugueses-Macaenses no “Institute for the Study of Societal Issues” da mesma universidade, onde efectua pesquisa sobre a história das comunidades macaenses em todo o mundo. Tem artigos em várias publicações.
CL – E o segundo?
A.B. – Ming K. Chan vai partilhar as suas ideias sobre “Macau da China, antes e agora”. Formado na Universidade de Stanford, é um bom amigo do Instituto Internacional de Macau. Entre outras realizações pessoais, é coordenador dos Arquivos Documentais de Hong Kong na “Hoover Institution”. Como tal, recolhe material de Hong Kong e Macau, e prepara dicionários históricos sobre os dois territórios.
CL – Segue-se António Jorge da Silva…
A.B. – Vai falar sobre “Os portugueses na China” e os “Macaenses”. É natural de Macau com descendência portuguesa. Embora seja arquitecto de profissão, a sua paixão pela história do povo português levou-o a escrever o primeiro livro “Os Portugueses”, seguindo-se “Diáspora Macaense para a Califórnia” e a “Comunidade Portuguesa de Hong Kong”, volumes 1 e 2.
CL – O derradeiro tema, “Macau na Califórnia”, estará a cargo de vários membros de instituições com legado cultural macaense, tais como Henrique Manhão, Chris da Rosa, Maria Roliz, Roy Eric Xavier e Frederic “Jim” Silva. Aqui irá falar na qualidade de presidente do MACHI…
A.B. – Foi uma boa ideia convidar alguns dirigentes de conhecidas instituições macaenses da baía de São Francisco para participarem no “Simpósio Macaense” com o objectivo de se darem a conhecer e de falarem um pouco das suas colectividades, tal como consta do programa.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA