Família e Fé

Um tempo de profundo diálogo

Já estavam casados há três anos. Tinha sido um amor à primeira vista e, durante o namoro, não houve muito diálogo. O amor, como todos sabem, não se expressa com palavras, mas sim com sentimentos.

As palavras sobram – o coração entende tudo. Os sentimentos expressam o que de mais verdadeiro há no interior de cada pessoa.

No entanto, agora, ela sentia-se sozinha. Faltava o diálogo e sobrava o monólogo. Deu-se conta de que não o conhecia.

Parecia óbvio que ele iria mudar, mas não tinha mudado. Se pudesse voltar atrás… Se pudesse explicar aos jovens o sentido do namoro… Não quereriam ouvir nem acreditar. Pensariam que ela procurava roubar-lhes a felicidade que não tinha encontrado.

Esta história suscita perguntas importantes. Para que serve o namoro? Em que consiste essa preparação para o casamento? Porque é que o amor não se pode apoiar só nos sentimentos?

No Catecismo da Igreja Católica nº 2350 diz-se que o namoro é um tempo de prova.

Se é um tempo de prova é porque exige esforço. É preciso construí-lo com paciência. Não basta deixar-se levar pelo vento dos sentimentos, por muito sinceros que pareçam.

No namoro deve-se descobrir o respeito mútuo; aprender a ser fiel; esperar – sem stresses – receber-se um ao outro do próprio Deus quando chegar o momento oportuno. E esse momento chama-se casamento.

No entanto, respeitar-se mutuamente não é fácil. Desejar uma pessoa não é o mesmo que amá-la.

O amor vai sempre unido à capacidade de sacrifício pela pessoa amada. Esta capacidade é a prova dos nove do verdadeiro amor. E é uma prova que requer a purificação dos desejos instintivos.

Não superar essa prova é sinal de que, mais do que amar o outro, nos amamos unicamente a nós próprios.

Por isso, o namoro requer muito diálogo. Um diálogo gerador de um conhecimento profundo, que não se fundamenta somente nos sentimentos. É o único modo de compreender o outro e aceitá-lo como é. É um caminho seguro para preparar-se a sério para a grande aventura do casamento.

E com base nesse conhecimento mútuo ponderar – sem deixar Deus de lado – se aquela pessoa é ou não a escolhida para mim.

Deus não é ilógico. Se dá a uma pessoa uma vocação para se casar, dará a outra – do sexo oposto – uma vocação complementar. E facilitará o encontro mútuo pelos caminhos da vida.

Para um cristão, o casamento é uma vocação divina e o namoro é uma preparação para esse compromisso definitivo. Compromisso que é sempre total, fiel, exclusivo e fecundo.

Por isso, o namoro não pode ser nunca uma brincadeira. Deve ser, de verdade, um tempo de profundo diálogo.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria 

Doutor em Teologia

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