Próximo destino… Portugal

Como referi na semana passada, a nossa volta ao mundo para assinalar os 500 anos da chegada dos portugueses a terras chinesas e promover a cultura portuguesa tem de ser interrompida por tempo indeterminado. Uma certeza fica: esta pausa será temporária e logo que a situação estiver normalizada a viagem será retomada no ponto em que é interrompida.

Curaçao será o local onde a nossa casa nestes quase três anos de mar ficará a aguardar o nosso regresso de Portugal.

A situação que nos leva a tomar esta decisão é de cariz pessoal e envolve a saúde de um dos membros da tripulação. Uma situação que requer atenção imediata e que nada tem a ver com a vida no mar.

O Dee vai ficar fora de água e nos últimos dias tem sido preparado para tal. Tudo o que estava no exterior do veleiro, vasilhame para armazenamento de água e de gasóleo (cerca de quinhentos litros no total!), velas, balsa salva-vidas e muitos outros itens tiveram que ser armazenados no interior do barco até voltarmos para a água.

No interior procedeu-se igualmente a uma completa remodelação, passando o quarto da Maria, o de proa, a servir de armazém. Livros, roupas, etc., foi tudo empacotado em sacos de plástico para tentar minimizar os efeitos da humidade durante o tempo que o veleiro irá ficar fechado. A condensação será um dos maiores problemas para o interior da embarcação por esta ser em fibra-de-vidro.

Ainda não sabemos ao certo quanto tempo iremos ficar em Portugal mas apontamos para entre seis meses a um ano. Um período demasiado longo para o barco ficar fechado. Infelizmente, no local onde o vamos deixar não está autorizada a entrada de pessoas – para além do proprietário do veleiro – que o possam abrir para ventilar e assim minimizar os efeitos da humidade e da condensação. Por um lado esta medida dá-nos uma sensação extra de segurança, por outro deixa-nos com a preocupação de saber como irá estar o barco e os nossos bens quando regressarmos. Daí a atenção que temos dado a todos estes preparativos.

No que diz respeito à comida, especialmente à comida empacotada e em lata que tínhamos a bordo, fizemos uma inspecção completa e temos tentado consumir tudo o que tem validade inferior a um ano e meio. Muitos produtos já foram oferecidos a amigos dos barcos que estão no ancoradouro, sendo que outros terão o mesmo final antes de retirarmos o barco da água, como, por exemplo, a nossa horta de plantas aromáticas que tanto custou a crescer.

As compras têm-se resumido ao essencial e sempre em quantidades que possam ser consumidas em um ou dois dias. Ao contrário do que fazíamos anteriormente, temos comido mais vezes em restaurantes – com alguma prudência pois não queremos aumentar os nossos gastos, principalmente numa altura em que iremos ter despesas acrescidas com a mudança para Portugal – evitando ter comida no veleiro.

A nível orçamental esta ida forçada é uma “machadada”. O que nos tem validos são os grandes amigos que temos e que sempre nos apoiaram. Muitos deles nunca concordaram com a nossa decisão de mudar de vida mas nunca nos voltaram as costas.

Temos o voo de regresso à Europa no próximo sábado, 17 de Setembro. Iremos voar de Curaçao para a Holanda e dali iremos de carro para Portugal com o meu irmão, que nos irá buscar de propósito. A decisão de cumprir a viagem de carro deve-se ao facto de não queremos forçar o Noel, o nosso cachorro, a fazer mais um voo. Além de ser demasiado difícil voar com ele devido à raça (bulldog francês) – neste voo foi necessário uma autorização especial para a TUI, a companhia aérea que nos irá levar a Amesterdão – está a ficar com uma idade em que temos de ser mais cautelosos.

Esta não é a última crónica sobre a nossa viagem, mas quando estivermos em Portugal a minha colaboração com O CLARIM assumirá outros moldes.

Quando estiverem a ler estas linhas devemos estar prontos para seguir para o desafio que nos espera na Europa. Para trás irão ficar quase três anos de mar, milhares de milhas náuticas, e muitas recordações e experiências, algo que nunca trocaríamos por nada deste mundo. Aliás, a decisão está tomada para voltar assim que for possível para retomar a nossa vida a bordo e continuar com este estilo de vida.

Todas as pessoas que sabem da nossa necessidade de ir para Portugal por motivos de saúde desejam-nos que regressemos o mais rapidamente possível, o que para nós tem servido de incentivo para enfrentar este contratempo.

Quando descobrimos o problema de saúde o primeiro pensamento que nos veio à cabeça foi vender o veleiro e desistir da viagem, mas depois de falarmos com diversas pessoas que nos aconselharam a não vender, se tivéssemos a oportunidade de o manter, decidimos que a nossa casa flutuante nunca será vendida. A própria família em Portugal foi a primeira a apoiar esta decisão, adiantando que, caso decidíssemos vender o barco por razões financeiras, logo que a saúde estivesse restabelecida nos ajudariam a procurar outro veleiro para retomar a viagem da nossa vida.

Estas manifestações de apoio, juntamente com as mensagens dos amigos, têm-nos dado força para enfrentar este percalço. Com o apoio dos amigos, da comunidade médica em Portugal, e com fé em Deus, iremos certamente ultrapassar este problema e surgir mais fortes como família e como pessoas.

JOÃO SANTOS GOMES

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