Uma semente para fazer crescer o cuidado pela “Casa Comum”
Várias instituições de Macau, entre as quais a Universidade de São José, o Colégio Mateus Ricci, a Escola Estrela do Mar, a Cáritas e a Casa Ricci Serviços Sociais, uniram esforços e lançaram, na passada sexta-feira, 12 de Dezembro, a plataforma Green River Gate. Trata-se de um projecto “inter-religioso” e intersectorial, inspirado na Encíclica Laudato si’, publicada pelo Papa Francisco em Maio de 2025.
Apresentada no campus do NAPE da Universidade de São José (USJ), em cerimónia agraciada com a presença do bispo D. Stephen Lee, a plataforma Green River Gate tem como objectivo promover um maior diálogo e cooperação no seio da sociedade civil, procurando incentivar o que o padre Fernando Azpiroz, SJ, director da Casa Ricci Serviços Sociais e um dos principais dinamizadores do projecto, define como «uma transformação ecológica integral».
«A Green River Gate é uma plataforma ecológica integral, o que significa que propõe integrar iniciativas que já estão em andamento e fazer com que estas, de alguma forma, se coadunem, seja através de comunicação e colaboração conjunta, ou de aprendizagem conjunta. Já há muito a acontecer nesta área do ambiente e da ecologia, mas são iniciativas que decorrem de forma isolada. Há pessoas e instituições que estão a fazer a sua parte, mas não há aprendizagem mútua. Há alguma colaboração, mas não é significativa. O conceito de integralidade é muito importante e é um conceito que o Papa Francisco explora e desenvolve na Encíclica [Laudato si’]», explicou o padre Fernando a’O CLARIM, acrescentando: «Uma das razões porque nos deparamos actualmente com uma crise ecológica é precisamente devido a causas de desintegração. Precisamos de soluções integrais que resolvam os problemas dessa desintegração. O que a plataforma pretende fazer é identificar iniciativas já em andamento em Macau, oferecer-lhes alguma visibilidade, permitir que quem as desenvolve possa dar a conhecer o que está a fazer e depois nutrir uma maior colaboração e uma maior integração entre elas. Se estas diferentes iniciativas unirem esforços, o impacto que terão será maior».
A plataforma Green River Gate – terá como interface mais imediato um portal electrónico que irá agregar informação sobre os diferentes projectos em curso – surge de uma reflexão iniciada em 2020, inspirada na leitura da Encíclica Laudato si’ por parte de um grupo de amigos de diferentes denominações cristãs. O projecto foi formalmente lançado na passada sexta-feira por cinco instituições, que unem esforços para mudar hábitos e paradigmas. O propósito, reiterou o padre Fernando, não passa meramente pelo fomento de acções ambientais, mas também pela dinamização de uma ecologia integral junto das escolas, da família e da sociedade em geral.
«O projecto arranca agora com cinco instituições [fundadoras]. Há escolas envolvidas, o Instituto de Ciência e Ambiente da Universidade de São José e organizações não governamentais como a Cáritas, a Casa Ricci Serviços Sociais ou a Associação de Religiosos de Macau. Esperamos, no entanto, que o alcance da iniciativa possa ir além do universo da Igreja. Queremos aos poucos convidar outras instituições, outras organizações não governamentais e outras comunidades: comunidades cristãs, comunidades budistas… É esse o nosso objectivo», referiu o sacerdote. «O mais importante é mostrarmos aquilo que está a ser feito. Através da plataforma, estamos também a aprender. Vamos começar com um portal electrónico. Vai ser o nosso primeiro passo e vamos oferecer informação; vamos oferecer conteúdos para promover uma maior reflexão. Vamos informar as pessoas sobre as iniciativas que estão a decorrer, mas também vamos conduzir algumas entrevistas com algumas organizações, para fazer chegar o seu exemplo a um maior número de pessoas».
A cerimónia de lançamento da Green River Gate trouxe até Macau Peter Winston Ferreto, director da Faculdade de Arquitectura da Universidade Chinesa de Hong Kong. O académico aplaudiu o projecto, considerando que encarna na perfeição o tipo de acções que a nova plataforma tenciona acompanhar. Ferretto e alguns dos alunos que dirige estudaram e conceberam uma intervenção arquitectónica que deverá permitir a instalação de um espaço ajardinado no telhado do edifício principal do Colégio Mateus Ricci.
Segundo o padre Fernando, a Green River Gate está aberta à sociedade civil, apostando em áreas como a educação, a formação e a partilha de recursos no sentido de fomentar uma maior consciência ecológica. Numa primeira fase, o foco passa por despertar nos residentes de Macau um maior amor pela criação e um estilo de vida em maior consonância com o ambiente. A médio prazo, o âmbito de abrangência da iniciativa deverá estender-se às regiões vizinhas, adiantou: «É muito provável que dentro de pouco tempo possamos vir a agregar à plataforma actividades realizadas em Hong Kong. É esse, pelo menos, o nosso objectivo. Pouco a pouco, vamos também tentar informar sobre o que está a ser concebido na China, para que também possa ser conhecido em Macau».
Mais: «A ideia é que este projecto cubra também a Grande Baía. Não nos queremos cingir a Macau. Vamos começar em Macau, porque Macau é uma cidade pequena e tudo por cá é mais simples. É fácil comunicar uns com os outros. Macau é, de certa forma, uma semente. Esperamos que a plataforma possa ajudar essa semente a crescer, para que nos possamos expandir para o resto da Grande Baía», revelou o director da Casa Ricci Serviços Sociais.
Marco Carvalho
LEGENDA: O Padre Franz Gassner, SVD, assina um dos protocolos de parceria.

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