Da mais fina porcelana à terra que tesouros esconde
Em casa da mãe uma estatueta branca, de porcelana, esteve anos no mesmo lugar. Habituados a vê-la diariamente, era como se ali tivesse aparecido do nada. Mas não! Havia uma história por trás. Já havia viajado de Moçambique para Angola, e do país das palancas-negras para Portugal.
Anos mais tarde, já em Macau, fez-se luz: era a deusa A-Má.
A porcelana, hoje espalhada por todo o mundo, foi da China para o Médio Oriente, depois para a Europa e para África. Com as rotas marítimas, chegou ao Novo Mundo e tornou-se material sinónimo de bom-gosto.
Foi em Jingdezhen, na Província de Jiangxi, que a arte do fabrico da porcelana terá começado. Hoje, continua – e cada vez mais – a atrair compradores, artistas e turistas de vários cantos do mundo. Ali se pode visitar uma fábrica-museu, em que segredos de outrora nos são revelados.
Mas se o viajante pensa que Jiangxi, por ser uma província do interior, se resume a um ofício, está enganado. O desenvolvimento económico há muito que preza a sustentabilidade ambiental, sendo disso exemplo o Monte Lu (Lushan).
Com as suas montanhas verdejantes, muitas vezes escondidas por denso nevoeiro, foi (e é) inspiração de poetas, filósofos e artistas. Lushan foi conciliador de ideias e ideais contra a dificuldade, sempre que os mais preeminentes adversários políticos enfrentaram o inimigo comum.
A-Má, deusa que dá nome a Macau – a tal que em casa da mãe é feita de porcelana – é em Xiushui parte integrante de uma exposição permanente, na qual são realçados os contributos da RAEM em várias áreas na cidade de Jiujiang. Entre outros estabelecimentos de Ensino de Macau, encontram-se na lista das benfeitorias, realizadas em entidades congéneres do Continente, as Escolas São Paulo e Santa Rosa de Lima (Secção Chinesa).
Para além do Ensino, as parcerias estendem-se, por exemplo, ao cultivo em estufa e aos cuidados de saúde pediátricos.
Três horas de autocarro ligam Xiushui a Nanchang, capital da Província de Jiangxi. O Pavilhão de Tengwang é o ex-líbris da cidade. Localizado na zona histórica e comercial, é uma das muitas réplicas que foram sendo feitas a partir do desenho original e o ponto de observação preferido dos turistas.
Como qualquer outra metrópole da China moderna, há um centro dedicado ao desenvolvimento urbano e ambiental, apresentando este uma inovação. A par dos desenhos e dos projectos de construção e de preservação do ambiente, há a manifestação política de pensar a urbe tendo em conta três vectores: História, Cultura e Ciência.
Num ecrã surge Matteo (Mateus) Ricci. Terá chegado a Nanchang em 1595, já depois de ter estado em Macau (1582). Ao seu lado, funcionários imperiais observam os astros com os instrumentos que os jesuítas foram desenvolvendo no Império do Meio.
Depois de sentida a presença institucional da Escola São Paulo em Xiushui, a referência a Matteo Ricci por parte das autoridades oficiais deixa uma certeza: a China continua a ser local de Missão.
A transmissão de conhecimento é também tarefa dos Meios de Comunicação Social e o jornal Jiangxi Daily fá-lo desde 1949. Da Província que serve, cresceu para o resto da China e, por meio das redes sociais, expandiu ao mundo.
Iniciado este texto com porcelana, é concluído com terra. A que durante anos escondeu o túmulo do imperador Liu He, o nono monarca da Dinastia Han. Reinou somente 27 dias, mas com a morte deixou um tesouro para a eternidade.
De volta a casa – à de Macau – A-Má espera no Alto de Coloane. E continua em boa companhia. Talvez por a estadia fora de Macau ter sido boa, mas intensa, a imagem de Nossa Senhora de Fátima e a Via-Sacra que a ladeia parecem mais bonitas do que nunca.
José Miguel Encarnação
Em Jiangxi a convite do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM

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