Testemunho de Cuidado em todo o Mundo
Iniciamos nesta edição a história dos Institutos Religiosos Femininos presentes em Macau, de acordo com a lista publicada no Directório Católico da Diocese.
Começamos com a mais antiga congregação feminina a laborar no território: as Filhas Canossianas da Caridade (FDCC), que têm uma missão verdadeiramente global e marcante. São uma semente de caridade que frutificou no mundo inteiro e cuja irradiação é um testemunho eloquente do vigor do seu carisma. Se a fundação em Verona foi o “berço”, a missão rapidamente se sentiu chamada a não ter fronteiras.
A fundadora das Filhas Canossianas da Caridade foi Santa Madalena de Canossa. Maddalena Gabriella, filha dos marqueses de Canossa, na actual Itália, nasceu em Verona a 1 de Março de 1774 e morreu na mesma cidade em 10 de Abril de 1835. Nobre italiana, foi canonizada pelo Papa João Paulo II em 1988.
Para além de ter fundado as Filhas Canossianas da Caridade, em 1808, na sua cidade-natal, também fundou os Filhos da Caridade no ano de 1831. Todos têm a missão específica de “servir Jesus Cristo nos pobres”. O carisma canossiano assenta em dois pilares fundamentais: a caridade, vivida no serviço directo aos doentes, órfãos e marginalizados, e a educação como meio de promoção integral da pessoa, especialmente das raparigas e jovens, que na época tinham menos oportunidades. O lema “Jesus Cristo só!” sintetiza a sua profunda motivação espiritual.
Ainda durante a vida de Madalena de Canossa, a Congregação começou a crescer. A primeira casa fora de Verona foi inaugurada em Veneza, em 1812. A própria Madalena, com um pequeno grupo de irmãs, partiu para Roma em 1828, com o objectivo de estabelecer uma comunidade. Este passo foi crucial, pois colocar a obra no coração da Igreja deu-lhe visibilidade e um impulso missionário inestimáveis. Após a morte da Fundadora em 1835, as suas filhas espirituais, guiadas pela sua regra de vida e pelo seu exemplo, continuaram a expansão. No Século XIX, as Canossianas estabeleceram-se firmemente em várias regiões de Itália, levando a missão educativa e caritativa a cidades como Génova, Milão e Nápoles.
O grande impulso missionário da Congregação começou na segunda metade do Século XIX, impulsionado pelo fervor missionário da época e pelas solicitações de bispos de territórios de missão. Este movimento seguiu, em grande parte, as rotas da diáspora italiana e da influência das potências coloniais europeias, mas sempre com o foco único nos mais pobres.
Nas Américas deu-se a primeira fundação fora da Europa. A primeira presença no Novo Continente ocorreu na Argentina. As Filhas Canossianas da Caridade chegaram primeiro a Buenos Aires, em 1853, a pedido do então representante do Governo da Sardenha (que antecedeu a unificação italiana). Foi na região do Rio da Prata que as primeiras irmãs se estabeleceram, enfrentando enormes dificuldades, incluindo a feroz oposição de grupos anticlericais. A obra inicial na Argentina centrou-se na educação de raparigas e em obras de caridade.
A fundação no Brasil veio mais tarde. Ali também existem comunidades e obras canossianas em vários Estados brasileiros. O Brasil é hoje um dos países com presença canossiana muito significativa e consolidada. Entretanto, estabeleceram-se noutros países como Chile, Bolívia e Peru. A emigração italiana para os Estados Unidos e o Canadá também levou as Canossianas a abrirem comunidades para servir estas populações no Século XX.
Em África a primeira fundação ocorreu em 1871, na Eritreia, então uma colónia italiana. Como em todo lado, dedicaram-se imediatamente à educação de raparigas e aos cuidados de saúde. Ao longo do Século XX expandiram para outros países africanos (Quénia, Tanzânia, Uganda, Moçambique, Angola e Etiópia). O trabalho missionário em África tem sido focado no combate à pobreza extrema por meio de escolas, dispensários, centros de nutrição e de formação profissional.
Na Ásia, a primeira casa foi fundada em Hong Kong (1860), mas não singrou. Na prática, poder-se-á dizer que o arranque da Congregação no Oriente deu-se em Macau, a 8 de Novembro de 1874. Um grupo de seis irmãs, liderado pela Madre Maria Stella, chegou à “Cidade do Santo Nome de Deus”, após uma viagem longa e árdua, com o primeiro objectivo de assumir a direcção do “Recolhimento da Santa Casa da Misericórdia”, instituição que acolhia órfãs, idosas e mulheres em situação de vulnerabilidade. Apesar das dificuldades iniciais, o seu múnus alargou-se em Macau, para além dos muros do Recolhimento. Hoje estão em Cheoc Wan, na ilha de Coloane, e na Rua de Francisco Xavier Pereira.
A partir de Macau entraram em Cantão e foi desta cidade que expandiram para o resto da China (1875). Haviam de regressar a Hong Kong em 1898, onde desenvolveram trabalho educativo e social.
Em 1959 lançaram-se nas Filipinas, onde se dedicaram à educação e à pastoral em paróquias, especialmente localizadas em áreas mais carentes. Em Timor-Leste fizeram-no em 1994, contribuindo para a reconstrução do País, com o foco a centrar-se na educação e na formação de mulheres. A missão canossiana na Austrália foi fundada em 1951, inicialmente para apoiar a comunidade italiana imigrante. Com o tempo, o seu trabalho alargou-se à população em geral, por meio de escolas e da pastoral paroquial.
Hoje, as Filhas Canossianas da Caridade estão activas em mais de trinta países, organizadas em Províncias e Delegações. Embora os diferentes projectos sejam adaptados às necessidades locais, as Canossianas mantêm a essência do carisma de Santa Madalena. Nos países desenvolvidos combatem a solidão, a pobreza escondida e a perda de sentido, através de centros de acolhimento, apoio a imigrantes e educação na fé; estão também na linha da frente no acesso à educação básica, aos cuidados de saúde primários e no combate à fome e à marginalização.
A sua espiritualidade centra-se na Paixão de Jesus e na Cruz, fonte do amor pelos sofredores, e na Eucaristia, o que constituem os impulsos para o serviço quotidiano. Ou seja, as Filhas Canossianas da Caridade são um pequeno fogo aceso em Verona que o vento do Espírito Santo espalhou por todo o mundo, iluminando os cantos mais sombrios da Humanidade com a luz terna e perseverante da Caridade. Onde há uma necessidade, uma filha de Santa Madalena de Canossa tentará, com certeza, estar presente para a colmatar.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa

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