ENTREVISTA COM SUKRA BAI, CATEQUISTA DA TRIBO KUYI

ENTREVISTA COM SUKRA BAI, CATEQUISTA DA TRIBO KUYI

Fé por caminhos lamacentos

Na remota aldeia de Dudumbadore, situada no coração tribal de Orixá (Odisha), vive um homem cuja coragem silenciosa e fé inabalável ajudaram a transformar uma região. Sukra Bai, agricultor e pai de cinco filhos, é catequista na paróquia do Sagrado Coração de Kundra. Entre as 22 famílias católicas da tribo Kuyi, ele é um pilar de liderança espiritual e resiliência, sendo o coordenador paroquial dos catequistas. A jornada que vem cumprindo, desde missionário leigo a fundador da Paróquia, é marcada por dificuldades, perseguições e graças. Sentámo-nos com Sukra para ouvir a sua história.

O CLARIM – Sukra, obrigado por nos receber. Vamos começar com a sua vocação. Como e quando começou a servir a Igreja?

SUKRA BAI – Foi em 13 de Agosto de 2000. Eu morava em Rayagada quando o padre Mathew Onatt, CM, me convidou para ajudar numa organização social dedicada a servir os pobres. Naquela época, não havia paróquia na região. Eu era o único católico entre o grupo de líderes. Com o tempo, alguns dos outros líderes, movidos pelo testemunho do serviço cristão, expressaram o desejo de conhecer Jesus. Receberam instrução, foram baptizados e as suas famílias seguiram-nos. Em pouco tempo, cada aldeia tinha pelo menos um líder católico. Esses líderes não só coordenavam a ajuda – alimentando crianças, cuidando dos doentes, apoiando mulheres grávidas –, mas também semeavam as sementes do Evangelho nas suas comunidades. Aos poucos, mais famílias abraçaram a fé. Hoje, há aldeias onde quase toda a população é católica. O que começou como um grão de mostarda cresceu e tornou-se numa Igreja florescente.

CL – Como era a evangelização naqueles primeiros tempos?

S.B. – Muito difícil! Não havia estradas, apenas caminhos lamacentos. Caminhávamos longas distâncias, passávamos a noite nas aldeias, pregávamos e seguíamos em frente. Eu vim de Rayagada, onde havia muitos católicos. Aqui, o povo Kuyi seguia a sua religião animista tribal. Não havia cristãos. Nós ensinámos-lhes a rezar e o padre Mathew Onatt vinha celebrar Missa. Lentamente, eles foram recebendo os Sacramentos. Em 2012, Boipariguda tornou-se uma paróquia.

CL – Em 2008, Orixá enfrentou uma violenta perseguição. Como isso o afectou?

S.B. – Foi um período terrível. Depois que um swami hindu foi morto em Kandhamal, os cristãos foram falsamente acusados do crime. Na sequência dessa injustiça, grupos fundamentalistas desencadearam uma onda de violência – padres, religiosas, pastores e fiéis leigos foram atacados e muitos perderam a vida. Entre as comunidades tribais, muitos tinham começado a acreditar em Jesus, mas ainda não tinham recebido o baptismo. Eram o que chamávamos de “cristãos ocultos” – fiéis no coração, mas com medo de professar publicamente a sua fé devido à ameaça de perseguição. Certa noite, um grupo de extremistas veio à minha procura. Eu já era casado e tinha três filhos pequenos. Invadiram a nossa casa, espancaram-me e bateram-me violentamente na cabeça com um taco. Desmaiei, inconsciente, enquanto a minha esposa e os meus filhos gritavam aterrorizados. Talvez tenham pensado que eu estava morto, porque nos deixaram lá. Mas, pela misericórdia de Deus, a minha vida foi poupada.

CL – Deve ter sido traumático. Como a comunidade reagiu?

S.B. – Muitos cristãos fugiram para outras partes de Orixá. Foi doloroso, mas também providencial. Eles levaram o Evangelho para novos lugares. Alguns amigos hindus bondosos ajudaram a minha família. Nem todos os hindus eram violentos – apenas um grupo fanático. Mesmo agora, o Governo favorece o nacionalismo hindu, o que torna as coisas mais difíceis. Mas esse sofrimento fortaleceu a nossa fé. Rezámos. A Igreja rezou por nós. Sentimo-nos unidos a Cristo na Sua Paixão.

CL – E agora, como vê os frutos do seu trabalho?

S.B. – Estou muito feliz. Muitos kuyi agora conhecem e amam Cristo. O Bispo fundou a paróquia do Sagrado Coração de Kundra, a 30 de Junho de 2025, com a nossa igreja matriz aqui em Dudumbadore. Temos dois padres e um irmão dos Padres do Sagrado Coração a viver connosco. Além da igreja paroquial aqui em Dudumbadore, construímos capelas em Gumkapador e Kumbikakri. A Igreja está viva!

O testemunho de Sukra Bai é uma prova viva do poder do Evangelho entre os pobres e perseguidos. A sua jornada – marcada por caminhos lamacentos, línguas tribais e provações violentas – revela um coração enraizado em Cristo. Perante o medo, ele escolheu a fé. À sombra da violência, tornou-se uma luz. A sua fortaleza não é sua – é fruto da graça, da oração e da força tranquila de um homem que caminha com Deus.

Que a sua história nos inspire a servir com coragem, evangelizar com amor e sofrer com esperança. A Igreja em Orixá não é construída sobre pedra, mas sobre os corações de homens como Sukra Bai.

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

em Orixá (Índia)

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