VIII CONGRESSO DOS LÍDERES DAS RELIGIÕES MUNDIAIS E TRADICIONAIS

VIII CONGRESSO DOS LÍDERES DAS RELIGIÕES MUNDIAIS E TRADICIONAIS REALIZA-SE NO CAZAQUISTÃO

À procura de marcos humanos comuns

Nos dias 17 e 18 do corrente mês, o Cazaquistão volta a acolher o Congresso dos Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais. O evento, que já vai na oitava edição e reunirá representantes de todos os credos, é de novo realizado em Astana, estando a organização a cargo da Nunciatura Apostólica.

Este fórum inter-religioso global deverá reunir mais de cem delegações de cerca de sessenta países, incluindo importantes líderes espirituais do Cristianismo, Islamismo, Budismo, Judaísmo, Hinduísmo, Taoísmo, Zoroastrismo e Xintoísmo, bem como representantes de organizações internacionais, académicos e figuras públicas. Entre os participantes mais notáveis, destacam-se o Patriarca Cirilo I de Moscovo e o Grão-Imã de al-Azhar, Sheik Ahmed Mohamed el-Tayeb. A sessão inaugural terá lugar na noite 16 a Setembro e será liderada pelo presidente do Senado cazaque, Maulen Ashimbayev, seguindo-se depois uma sessão especial da Aliança das Civilizações da ONU, subordinada ao tema “A protecção dos locais religiosos”. A sessão plenária de 17 de Setembro incidirá sobre o “Diálogo das Religiões: Sinergia para o Futuro”, constituindo um ponto de partida para vários debates sobre os muitos desafios globais. O evento encerrará no dia seguinte com o II Fórum de Jovens Líderes Religiosos, centrado no “envolvimento da juventude na promoção da coexistência pacífica”.

O congresso foi o tema principal da recente conversa entre o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros cazaque, Arman Isetov, e o núncio apostólico no Cazaquistão, arcebispo D. George Panamtundil. Como enfatizou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país da Ásia Central, este encontro “confirma uma vez mais a natureza cordial e frutífera das relações entre o Cazaquistão e a Santa Sé, baseadas no respeito mútuo, na confiança e no desejo de um diálogo construtivo”.

De acordo com o porta-voz do Governo, o Congresso, enquanto fórum internacional, “já se tornou uma plataforma onde a Igreja, juntamente com representantes de diversas confissões religiosas de todo o mundo, testemunha o valor da paz, da compreensão mútua e da harmonia”. E, por isso, as autoridades locais expressaram já gratidão à Santa Sé “pela sua participação contínua e activa na vida do Congresso”.

Durante o encontro, o núncio e o ministro discutiram ainda os vários acordos de cooperação que o Cazaquistão assinou com instituições afiliadas na Santa Sé, nas áreas da Educação e da Ciência, e destacaram “o sucesso dos projectos entre o Instituto de Estudos Orientais R.B. Suleimenov e a Biblioteca e Arquivos Apostólicos do Vaticano, um importante testemunho de que o estudo e a preservação do património espiritual unem estudiosos e fiéis de ambos os lados”.

As discussões abordaram também a colaboração com o Hospital Infantil Bambino Gesù, em Roma, um centro clínico onde serão desenvolvidos “projectos conjuntos na área da neurologia pediátrica e epileptologia”, o ramo da Medicina que trata da epilepsia e respectivas complicações.

A primeira edição do Congresso dos Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais realizou-se, pela primeira vez, em Setembro de 2003, precisamente em Astana, por iniciativa do primeiro Presidente da República do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev. No seu discurso de 13 de Fevereiro desse mesmo ano, no âmbito de uma conferência internacional dedicada à paz e à concórdia – esta viria a desempenhar um papel importante na aproximação entre religiões, culturas e povos, e na qual participaram representantes de organizações cristãs, muçulmanas e judaicas –, o líder cazaque pedira aos representantes de todas as religiões que aderissem à sua ideia de realizar o Congresso dos Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais no seu país. Os representantes da Igreja Católica foram dos primeiros a apoiar a iniciativa, e assumiram esse seu compromisso durante a visita do então Presidente do Cazaquistão ao Vaticano.

A procura de marcos humanos comuns nas religiões mundiais e tradicionais e o bom funcionamento de “uma instituição inter-religiosa internacional permanente para o diálogo entre religiões e a adopção de decisões acordadas” foram – e são – os motes do congresso, cujas prioridades passamos a listar: o estabelecimento da paz, da harmonia e da tolerância como princípios inabaláveis da existência humana; a luta pelo respeito mútuo e a tolerância entre religiões, confissões, nações e grupos étnicos; e o impedimento da utilização dos sentimentos religiosos das pessoas para a escalada de conflitos e hostilidades.

Assim, são objectivos inabaláveis o fortalecimento das tradições de diálogo inter-religioso e interconfessional, sob a forma de congressos inter-religiosos; a criação de um órgão permanente do Congresso para “a preparação coordenada, objectiva e competente da ideologia e do conceito dos futuros congressos”; a cooperação e interacção com todas as organizações e estruturas internacionais destinadas a promover o diálogo entre religiões, culturas e civilizações; a expansão do diálogo entre representantes de diferentes culturas e religiões com o envolvimento de representantes dos Meios de Comunicação Social seculares e religiosos, associações juvenis, cientistas e criativos da actualidade; o aprofundamento e reforço da compreensão e do respeito mútuos entre as comunidades religiosas como contrapeso à ideologia do ódio e do extremismo; o combate à prevalência de teses sobre “choque de civilizações”, expressas na oposição de religiões e na maior politização das disputas teológicas, bem como nas tentativas de desacreditar uma religião em detrimento de outra; e, finalmente, pugnar pela promoção do diálogo global entre civilizações, culturas e religiões.

Recorde-se que VII Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais decorreu aquando da visita apostólica do Papa Francisco ao Cazaquistão, em Setembro de 2022, tendo o Santo Padre discursado perante os participantes reunidos na capital do País.

Joaquim Magalhães de Castro

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