Enquanto estudante de Teologia, comecei a adquirir o hábito de anotar frases que considerava relevantes para a minha vida como peregrino, com mil destinos mais Um: as esperanças humanas na terra e a esperança cristã no céu, respectivamente. A seguir, gostaria de partilhar algumas frases marcantes que me ajudaram na minha jornada de vida. Essas frases – muitas das quais talvez conheçam – são como sinais no caminho da vida dos peregrinos da esperança. Elas apontam a estrada tranquila à frente, a estrada acidentada, as curvas perigosas, a parte iluminada e os quilómetros escuros. Meus queridos co-peregrinos da esperança: BOA VIAGEM!
O Evangelho diz-nos que Maria, a Mãe do Filho de Deus, Jesus Cristo, meditava, contemplava e reflectia sobre tudo o que acontecia em torno do seu Filho. Somos convidados a fazer algo semelhante quando lemos estas palavras, ou sinais, ao longo da nossa jornada. Concentramo-nos principalmente em três: vida, amor, oração.
VIDA
A vida é o direito humano fundamental que todos nós temos. Sem ela, todos os outros direitos humanos não têm sentido. Portanto, o direito humano fundamental é respeitar e proteger a vida – sempre!
“A vida humana deve ser defendida desde o momento da concepção até à morte natural” (Cardeal D. Joseph Bernardin): desde o seu início, na concepção, até ao seu fim, a morte natural. Não ao aborto, à eutanásia, à pena de morte, ao homicídio e ao suicídio… Deus é o Senhor da vida e da morte. Com o devido respeito a todas as pessoas (mas não ao mal, que deve ser combatido pacificamente), é trágico e terrível não perceber que a vida começa com a concepção e termina com a morte natural. A vida dos idosos e dos doentes deve ser respeitada. A vida humana também deve ser defendida entre o início e o fim: uma vida digna para todos.
“Não há vento favorável para quem não sabe para onde vai” (Séneca). Somos peregrinos da esperança. A primeira pergunta a que um peregrino deve responder é: para onde vou? Assim, São Tomás de Aquino começa a sua Teologia Moral com o fim: bem-aventurança, felicidade, glória, céu – Deus. Depois disso, vem a pergunta: quais são os meios para chegar ao céu, o fim da vida? Maravilhoso: “Toda a busca moral é um anseio pela felicidade” (São Tomás de Aquino). Somos “cidadãos do céu” (São Paulo). “No final da nossa jornada, seremos examinados sobre o amor” (São João da Cruz).
«Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jesus Cristo). Para um discípulo de Jesus, Ele é tudo: o caminho a seguir, a verdade a conhecer e a vida a viver. O Senhor é também a luz que ilumina o nosso caminho, os nossos corações, a nossa vida. Sem Ele, nada podemos fazer. Com Ele, podemos escalar qualquer muro.
“Saber e não fazer, ainda não é saber” (provérbio budista). Eu acredito em Cristo, mas não O sigo. Então, eu não acredito realmente. A nossa vida implica saber e fazer, teoria e prática: ortodoxia e ortopraxia. E fazer é mais importante do que saber.
“Estou agora onde Deus quer que eu esteja?”. Pergunta o padre simples e pobre, protagonista do luminoso “Diário de um Pároco de Aldeia”, de G. Bernanos. Platão diz que “uma vida não examinada não vale a pena ser vivida”. De vez em quando, diariamente, temos de auto-examinarmo-nos para ver se estamos no caminho certo – o caminho que nos leva à felicidade. Estou, estás no caminho certo, no caminho de Jesus, que é o Caminho, o nosso único caminho?
“A vida é uma série de momentos vividos ou perdidos” (Budismo Zen). Ontem já passou, amanhã ainda não chegou, a única coisa que temos nas nossas mãos é o hoje: «Se hoje ouvires a Sua [de Deus] voz, não endureças o teu coração», diz-nos o salmista. Na verdade, só este momento, o agora, está nas nossas mãos. O que é perder o momento, o hoje? É colocar o eu em primeiro lugar, o “ego inflado” no que fazemos: eu, meu… O que significa viver o momento, o hoje? É colocar amor em tudo o que fazemos, grande ou pequeno. Quais são os seus planos para o futuro? Perguntaram a Santa Teresa de Calcutá. Respondeu: «– Ontem já passou; amanhã ainda não chegou. Só tenho o hoje para amar Jesus».
“Vamos viver com simplicidade, para que os outros possam simplesmente viver” (Bispos canadianos). Num mundo rico, que tem o suficiente para que todos tenham uma vida digna, há milhões de pessoas pobres, famintas e miseráveis que imploram a nossa ajuda. A nossa consciência e Nosso Senhor pedem-nos para não desperdiçar, não gastar em excesso, não consumir em excesso, não deitar fora coisas utilizáveis. Nesta situação injusta, somos chamados a viver um estilo de vida simples. As palavras de Jesus continuam a ressoar no meu coração: «O que fazes ao menor dos meus irmãos e irmãs, a mim o fazes».
“Um dos maiores males que podemos fazer na vida é fazer os outros sofrer” (Albert Camus). A nossa humanidade e a nossa fé pedem-nos que carreguemos a nossa cruz pessoal (parte da nossa vida frágil) com paciência e esperança e, se pudermos, que ajudemos os outros a carregar as suas pesadas cruzes. Não devemos dar cruzes aos outros!
AMOR
Amor é a palavra mais usada – e abusada – em todas as línguas. O amor verdadeiro significa desejar o bem ao outro, fazer o bem aos outros, sair de nós mesmos para encontrar uma criança, uma mulher ou um homem de braços e coração abertos.
“Ame e faça o que quiser” (Santo Agostinho). Se alguém ama verdadeiramente, amará a bondade, a compaixão, a solidariedade, a humildade – a cruz.
“Ser é amar” (E. Mounier). “Ser humano é ser semelhante” (M. Buber). De facto, “aprendemos o que amamos” (J.L. Martin Descalzo). O amor, o amor apaixonado, é a grande motivação para fazer bem as coisas – e viver bem.
“Coloque amor onde não há amor e colherá amor” (São João da Cruz). Tentamos praticá-lo diariamente. Não falha.
“Perdoar e ser perdoado renova o mundo todos os dias” (Anónimo). O amor verdadeiro perdoa, esquece, cura.
“Não há caminho para a paz, a paz é o caminho” (Gandhi). O amor é pacífico. Dizia-se: “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”. A guerra nunca é totalmente boa. Portanto: “Se queres a paz, prepara-te para a paz”. Em meio há miséria, há fome e há morte. A chamada “dissuasão” ou o acumular de armas para defender o meu país contra outros é imoral, injusto.
“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos” (A. Saint-Exupéry). Diz a raposa ao Pequeno Príncipe. O amor é uma forma de conhecer, como é claramente demonstrado pelos místicos. Um amigo – e não os outros – conhece melhor o seu amigo.
“Seja tolerante com os intolerantes, mas não com os intoleráveis” (Paul Ricoer). Há males que clamam por refúgio: genocídios…, assassinatos de civis na guerra (os hipócritas “danos colaterais”).
“Somos pessoas da Páscoa e Aleluia é a nossa canção. (…) A alegria é uma qualidade da caridade, do amor verdadeiro, assim como é a paz e a misericórdia. A caridade, o amor de Deus nos nossos corações, é esperançosa: Deus é o futuro daqueles que sabem amar” (J.A. Pagola).
O amor verdadeiro é misericordioso, compassivo e partilha algo com os mais pequeninos: os pobres, os doentes, os marginalizados.
ORAÇÃO
A oração é a linguagem universal para comunicar com Deus, com o Ser Supremo, que está acima de todas as criaturas, o “totalmente Outro”. É um profundo anseio por Deus. É uma conversa com Deus, uma conversa para o louvar, para lhe agradecer, para lhe dar glória, para pedir a sua ajuda divina.
A oração é humilde, esperançosa, confiante e amorosa. O nosso pecado número um é o orgulho, que é curado com humildade, uma graça de Deus. Sem humildade, nada é valioso no caminho para o Reino. A humildade é uma virtude tão essencial: não é a mais perfeita (amor), não é a mais fundamental (fé), não é a mais urgente (esperança), mas é o fundamento de todas as virtudes. A oração é humilde. Perguntaram a São Bernardo quais as quatro virtudes mais importantes que devemos praticar. Ele respondeu: “Humildade, humildade, humildade, humildade”. São João da Cruz diz de forma criativa que “o humilde se esconde no seu próprio nada e sabe abandonar-se a Deus”.
“Nunca abandone a oração. Há sempre remédio para quem reza” (Santa Teresa de Ávila). Num mundo frio e violento, a oração é o fogo que nos mantém aquecidos. Por isso, rezamos para estar perto do fogo e assim não permitir que o vírus do mundo – a carne – o diabo nos contagie. Quanto mais perto estivermos do fogo da verdadeira oração, mais quentes e felizes seremos. Os santos, especialmente os místicos, provam-no sem sombra de dúvida.
E para concluir! Respeite a vida, pratique o amor e reze com humildade. Nunca nos arrependeremos. E seremos felizes – aqui relativamente, mas verdadeiramente; e no além, extremamente felizes.
Se tivesse de escolher uma frase entre as muitas que encontramos, escolheria uma que me ajudou muito, a mim e a outros: COLOQUE AMOR ONDE NÃO HÁ, E COLHERÁ AMOR.
Pe. Fausto Gomez, OP