14º DOMINGO COMUM – Ano C – 6 de Julho

14º DOMINGO COMUM – Ano C – 6 de Julho

Sinais de um Cristão Verdadeiro

No Evangelho deste Domingo, Jesus envia à sua frente 72 discípulos, dois a dois, a todas as cidades e lugares que Ele havia de visitar. Este número, apresentado pelo evangelista São Lucas, representa o total de nações pagãs conforme imaginado pelos judeus (cf. Gn., 10). O envio destes discípulos a lugares pagãos, realidade que os outros evangelistas apresentam apenas após a Páscoa, revela o desejo de São Lucas de enfatizar desde o início a universalidade da missão de Jesus e dos Apóstolos.

Para que a Igreja, inicialmente representada pelos discípulos, pudesse permanecer fiel aos ensinamentos do Mestre e estivesse preparada para naufragar nas águas mais desafiadores da História, no Evangelho de hoje Jesus deixa algumas lições. Antes de os enviar em missão, Jesus forma os seus apóstolos com os valores e princípios que um verdadeiro apóstolo deve ter. E é sobre esses valores e princípios, que são igualmente relevantes para nós que somos os membros da sua Igreja presente na terra nos dias de hoje, que proponho que meditemos.

Em primeiro lugar, Jesus mostra-nos que os Apóstolos foram enviados dois a dois. Recordo-me de que, quando era criança e estava na escola, não gostava de trabalhos em grupo, pois achava isso muito injusto. Sempre havia alguns alunos que quase não faziam nada e, no entanto, recebiam a mesma nota dos que se esforçavam mais. Embora isso seja verdade, Deus não deseja que ninguém esteja isolado. Apesar do trabalho em comunidade ser muitas vezes mais exigente, ele educa e santifica. Quando as coisas não vão bem, encontraremos apoio. Quando as coisas correm bem, saberemos que o mérito não é apenas nosso. A vida e as missões, quando compartilhadas, exigem humildade e paciência. Embora possa parecer injusto e mais trabalhoso, é isso que nos salva. Assim, ao enviar os discípulos dois a dois, Jesus também desejava ensinar-nos que ninguém vai para o céu sozinho; ou levamos alguém connosco ou não iremos.

Uma segunda lição é que somos enviados como ovelhas no meio de lobos. Às vezes, surpreendo-me com a inocência de algumas pessoas. Frequentemente, leigos reclamam das injustiças no mundo do trabalho, na sociedade, e muitas vezes nas famílias e nos meios eclesiásticos. Ouço-os com atenção e lembro-lhes das palavras de Jesus no Evangelho de hoje. Claro que desejamos um mundo pacífico, justo e habitado por pessoas mais humanas, mas a realidade do pecado original marca o Ser Humano de tal forma que não conseguiremos aqui na terra aquilo que sonhamos e imaginamos nos relacionamentos humanos. Em vez de nos tornar pessimistas, essa realidade deve motivar-nos a desejar ainda mais o céu.

Jesus pede também aos seus discípulos que sejam simples, não levando alforge nem sandálias. Aqui, é claro o ensinamento sobre o desprendimento e a importância de acreditarmos na providência de Deus. Naturalmente, pessoas casadas e com família devem saber interpretar este ensinamento da forma correcta. Contudo, a lição principal é que a nossa confiança e apoio devem estar, acima de tudo, em Deus. O Doutor da Igreja, São Francisco de Sales, costumava dizer que a medida da Providência Divina é a confiança que temos nela. Para que essa confiança amadureça, deve ser exercitada em momentos de privação material, de saúde física ou até de distância física de pessoas queridas.

Uma quarta e última lição reside no ensinamento de Jesus para que os Apóstolos não demorassem a saudar as pessoas pelo caminho e, quando não fossem bem recebidos, seguissem em frente, sacudindo a poeira dos pés. Isso demonstra que a nossa missão, o nosso apostolado, não deve estar atada a resultados humanos. A nossa motivação deve centrar-se unicamente em agradar a Deus. Não podemos depender de consolações humanas, de resultados numéricos, e muito menos ter a motivação para evangelizar baseada em sentimentos humanos. Este ensinamento de Jesus é enriquecedor. Num mundo onde as pessoas são tão frágeis, inconstantes e sentimentais, Jesus deseja preparar pessoas fortes. Como dizia São Bernardo, a razão de servir a Deus deve ser Deus mesmo, e a medida de amá-Lo deve ser amá-Lo sem medida.

Neste Evangelho, Jesus mostra-nos a importância de não vivermos isolados, tendo clareza de que injustiças e conflitos fazem parte de todo o tipo de relacionamento humano. É fundamental fazermos o nosso melhor e confiarmos na providência de Deus, pois isso nos tornará pessoas mais livres, além de nos permitir evangelizar sem estarmos dependentes da validação humana. Jesus alerta-nos sobre as dificuldades do mundo, mas ensina-nos que a confiança em Deus e o desapego das seguranças humanas são essenciais para uma missão autêntica. Estes ensinamentos formam pessoas maduras na fé e resilientes para perseverar no caminho do Senhor. Quando os Apóstolos voltaram felizes, compartilhando o sucesso da missão, pudemos concluir que os ensinamentos de Jesus são exigentes; às vezes, podem até parecer exagerados, mas, quando vividos com amor e confiança, não decepcionam.

Peçamos ao Senhor a graça de nos mantermos fiéis à vontade do Pai e que possamos viver as nossas missões diárias com alegria, tal como os Apóstolos, não pelos resultados ou aplausos alcançados, mas por termos sido instrumentos da graça de Deus na vida dos que nos rodeiam.

Pe. Daniel Ribeiro, SCJ

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