GUARDIÕES DAS CHAVES – 24

GUARDIÕES DAS CHAVES – 24

Confronto com bárbaros e pelagianos: Inocêncio I

SÃO INOCÊNCIO I

(22.XII.401 – 12.III.417)

Foi durante o Pontificado do 40.º Pontífice Romano, o Papa Inocêncio I, que Alarico, rei de uma das tribos germânicas, liderou os visigodos na pilhagem de Roma.

Para compreender como aconteceu, temos de recuar alguns anos até à época de Teodósio I, ou Teodósio, o Grande (392-395), nascido em Espanha. Naquela época, era o imperador do Oriente e do Ocidente, tendo designado o Cristianismo como religião oficial do império. Iniciou a convocação do Segundo Concílio Ecumênico em Constantinopla (381) durante o Pontificado do Papa São Dâmaso (366-384) para refinar ainda mais o Credo elaborado no Primeiro Concílio Ecuménico em Nicéia (325). Suprimiu o Paganismo e o Arianismo, pondo assim fim à tolerância religiosa no império. O próprio imperador levava uma vida devota e austera, exercia clemência e governava o império com eficácia. Infelizmente, os dois filhos que o sucederam – Honório no Ocidente e Arcádio no Oriente – foram governantes fracos.

Na época em que Honório era imperador do Ocidente, Alarico liderou o ataque a Roma. Era um poderoso líder militar que havia servido anteriormente no Exército Romano sob o imperador Teodósio. Como a cidade estava bem fortificada, falhou nas duas primeiras tentativas. O próprio Papa Inocêncio foi até ao imperador Honório para implorar por ajuda. Na época, o imperador estava seguro em Ravena e nada fez. Em 410, traidores dentro da cidade abriram um dos portões para Alarico, que entrou com as suas forças e saqueou Roma durante três dias. Quando o Papa Inocêncio regressou, encontrou uma cidade devastada.

O Papa Inocêncio I exerceu energicamente a sua autoridade suprema como sucessor de Pedro em várias ocasiões. Uma delas dizia respeito ao problema do Pelagianismo. Esta doutrina recebeu o nome de Pelágio (c. 354 – c. 418), um monge e filósofo britânico que defendia que o pecado original não afectava a natureza humana e, portanto, o homem podia ser salvo através do seu próprio esforço. Isto ia claramente contra a Doutrina Católica, que ensina que o pecado original feriu (mas não corrompeu) a natureza humana e, consequentemente, obscureceu o intelecto e enfraqueceu a vontade. Além disso, o homem precisa da Graça para viver uma vida recta e alcançar a Salvação. Mas Pelágio insistia que o Livre Arbítrio do homem era suficiente, a Graça não era necessária. É por isso que ele dizia que a vida de um crente deveria ser impecável, porque ele é capaz de ser perfeito por si mesmo.

Os bispos de África (Santo Agostinho era um deles) e de Jerusalém condenaram a heresia de Pelágio e defenderam a importância da Graça, e procuraram o Papa para confirmação. “Inocêncio, na sua resposta, elogiou os bispos africanos, porque, conscientes da autoridade da Sé Apostólica, recorreram à Cátedra de Pedro; ele rejeitou os ensinamentos de Pelágio e confirmou as decisões tomadas pelos Sínodos Africanos” (Kirsch, J.P. 1910. Papa Inocêncio I. In “The Catholic Encyclopedia”. Nova Iorque: Robert Appleton Company. http://www.newadvent.org/cathen/08011a.htm).

O Concílio de Cartago (418) condenou decisivamente o pelagianismo. No final do Século XVI, porém, o problema voltaria a surgir na controvérsia entre dominicanos e jesuítas sobre os papéis respectivos da Graça e do Livre Arbítrio. A questão arrastou-se por pelo menos vinte anos, envolvendo inúmeras discussões e conferências privadas e públicas. Muitas pessoas importantes estiveram envolvidas, incluindo o cardeal jesuíta Robert Bellarmine e Francisco de Sales (bispo de Genebra), que aconselharam o Papa a não fazer uma declaração definitiva. Em 5 de Setembro de 1607, o Santo Padre Paulo V permitiu que dominicanos e jesuítas mantivessem as suas respectivas opiniões e teorias, sem censurar ou condenar a opinião contrária. Exortou-os a aguardar a decisão final da Santa Sé. Mas, seguindo São Roberto Belarmino e São Francisco de Sales, o Papa não deu a palavra final.

Em questões de Governo, o Papa Inocêncio I também se envolveu na tentativa de reintegrar São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla, à sua sé. Teófilo, Patriarca de Alexandria, conspirou com o fraco imperador Arcádio do Oriente para destituir João. O Papa Inocêncio escreveu uma forte repreensão a Teófilo para defender João. No entanto, não resolveu o problema. João Crisóstomo morreu no exílio.

O Santo Padre Inocêncio I morreu em 417 e foi sepultado na basílica acima da Catacumba de Pontiano.

Pe. José Mario Mandía

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