REINADO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS CONTINUA

REINADO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS CONTINUA

A Boa Nova do Amor Salvador de Deus derramado por nós em Jesus Cristo

O mês de Junho é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, uma devoção católica amplamente praticada e conhecida. O Sagrado Coração de Jesus também é amplamente considerado como um símbolo para inúmeras instituições, incluindo congregações religiosas. Hoje, existem mais de sessenta congregações ou institutos a trabalhar activamente em todo o mundo sob a protecção do Sagrado Coração. Os Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, ou “Dehonianos”, são um deles. Estão presentes em mais de quarenta países nos cinco continentes (Europa, África, América do Norte e do Sul e Ásia/Oceânia), incluindo Hong Kong e Macau. O CLARIM entrevistou os padres Eduardo Emilio Agüero, SCJ, e Daniel Ribeiro, SCJ, dois membros desta congregação que muito se mostraram dispostos a partilhar com os nossos leitores a ligação da sua congregação ao Sagrado Coração e como vivem e promovem esta espiritualidade na sua missão.

O CLARIM – Padre Daniel, o senhor pertence a uma congregação dedicada ao Sagrado Coração. Pode dizer-nos por que escolheu esta congregação? Por que se juntou a esta congregação em vez de outra?

PADRE DANIEL – No Brasil, a Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus inclui vários padres que trabalham na Comunicação Social. Em 1999, enquanto era catequista de Crisma, fiz um retiro com o falecido Padre Léo, um padre dehoniano que desempenhou um papel fundamental no aprofundamento da minha fé. Meses depois, outro sacerdote dehoniano, o padre Joãozinho, apresentava um programa de televisão e mencionou que um jovem que assistia ao programa estava a ser chamado para o Sacerdócio. Essa mensagem tocou-me profundamente. Ele partilhou o número de telefone do Seminário e eu liguei imediatamente. Fui visitar o Seminário, gostei muito e nem sequer pensei em procurar uma segunda opção.

CL – Padre Eduardo, pode falar-nos brevemente sobre o seu fundador e como ele formou uma missão na Igreja dedicada ao Evangelho do Amor e ao Sagrado Coração de Jesus?

PADRE EDUARDO – O Padre Leo John Dehon, fundador dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, nasceu em 1843 numa família abastada do Norte de França. Foi a mãe que primeiro cultivou nele a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, uma devoção que marcou profundamente a sua infância. Enquanto estudante de Direito nos subúrbios de Paris, esta devoção inicial amadureceu gradualmente, transformando-se numa espiritualidade pessoal – uma forma de se relacionar com Deus através do coração de Cristo e de viver como membro activo da Igreja. Após a sua ordenação como sacerdote diocesano e a sua nomeação em Saint-Quentin, mergulhou nas realidades sociais daquela época. Vivia-se a Era da Revolução Industrial, quando inúmeros trabalhadores – incluindo jovens e crianças – suportavam longas jornadas em condições perigosas por salários miseráveis que não davam para sustentar as suas famílias. Movido pelo amor compassivo de Cristo, o Padre Dehon sentiu um profundo chamamento para ajudar, especialmente os jovens. Ele acreditava que a compaixão do coração de Cristo devia ser vivida de maneira concreta. Isso levou-o a fundar o Clube de São José – um espaço acolhedor para os jovens trabalhadores se reunirem para recreação, estudo, oração e, acima de tudo, para aprofundar a sua compreensão da fé. A missão era ajudá-los a conhecer, amar e seguir Jesus. A intimidade do Padre Dehon com o Coração de Cristo e a sua empatia pelo sofrimento, levaram-no a dedicar-se ao apostolado social da Igreja. Por fim, a sua visão expandiu-se para além de França e enviou missionários por todo o mundo para que todos pudessem experimentar o amor infinito do Sagrado Coração. O seu trabalho foi profundamente influenciado pela Encíclica Rerum novarum do Papa Leão XIII, que o inspirou a abraçar ainda mais a dimensão encarnacional da espiritualidade do Sagrado Coração – um apelo a viver o amor de Cristo através da justiça, da compaixão e do serviço concreto.

CL – Como é que esta identidade e devoção ao Sagrado Coração se expressam no seu carisma, espiritualidade e nas suas obras na Igreja e no mundo?

PADRE DANIEL – O Padre Dehon entendia o Sagrado Coração como um sinal do amor divino e humano de Jesus pela Humanidade. Este amor é capaz de oferecer a vida pela reconciliação da Humanidade com Deus. Esta verdade da fé tocou profundamente o coração do Padre Dehon, levando-o a responder a esse amor através da oblação reparadora. Assim, os sacerdotes dehonianos são chamados a reparar, de forma oblacionária, as infidelidades, injustiças e dores causadas pela Humanidade ao amor incondicional de Jesus. Esta oblação manifesta-se em gestos de sacrifício, renúncia e, acima de tudo, na capacidade de amar sem esperar nada em troca. O Padre Dehon nunca separou o amor ao Coração de Jesus do amor à Humanidade. Para ele, o amor a Deus centra-se no amor ao homem.

CL – Existem outras organizações religiosas que promovem o Sagrado Coração. Vós também procurais essa devoção? Qual é o foco e a expressão peculiar do compromisso da vossa congregação em promover essa espiritualidade?

PE. EDUARDO – Na experiência do nosso fundador, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus não é simplesmente uma prática; é o chamamento a um modo de vida particular, vivido em união com Cristo na sua total entrega ao Pai pela Humanidade. A Eucaristia está no centro da nossa vida quotidiana; reunimo-nos todos os dias para a adoração comunitária. É esta experiência vivida do amor de Cristo que nos impulsiona para a missão. O Padre Dehon citava frequentemente São Paulo, dizendo: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim» (Gal., 2, 20). Mais do que apenas promover uma devoção, a nossa congregação está especialmente empenhada em estender o Reino do Sagrado Coração na sociedade – alcançando de maneira particular os pobres, os marginalizados e aqueles em lugares distantes que ainda não encontraram Jesus.

CL – Em 1899, o Papa Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus. Desde então, os seus sucessores têm exortado os fiéis a recorrerem ao Sagrado Coração e a fazerem actos de consagração pessoal. Considera que a consagração, por si só, é suficiente? Que acções concretas considera que nós, católicos, devemos fazer para acelerar a devoção ao Sagrado Coração no mundo de hoje?

PE. DANIEL – A devoção ao Sagrado Coração deve servir de referência para traduzir os ensinamentos da fé em acções concretas. A prova disso encontra-se na afirmação do Padre Dehon: «Um amigo do Sagrado Coração deve fazer com que o Sagrado Coração volte a viver em si mesmo (…). A caridade mútua deve, portanto, dar forma à nossa vida, tal como a vivemos com os nossos irmãos… Ah! Ao amar-nos ternamente, amamos o Sagrado Coração que vive em nós (…) amamo-nos uns aos outros para que o Coração de Jesus que vive em nós, em tudo seja amor, amor puro e terno, porque devemos esquecer-nos de nós mesmos para viver apenas no Coração de Jesus, e o Coração de Jesus é só doçura e misericórdia». Este pensamento é aprofundado na Encíclica “Dilexit nos” do Papa Francisco através dos seguintes aspectos sociais: A) Solidariedade: a devoção enfatiza a importância de cuidar dos necessitados e promover a justiça social, reflectindo o amor de Cristo. B) Compaixão: o Sagrado Coração é um símbolo de compaixão e misericórdia, encorajando os fiéis a serem sensíveis às dores e sofrimentos dos outros. C) Comunidade: a devoção promove a unidade entre os membros da Igreja, destacando a importância de formar comunidades que vivam o amor de Cristo em acções concretas. D) Evangelização: a devoção é um apelo à evangelização, exortando os fiéis a partilhar a mensagem de amor e esperança com o mundo. E) Paz e reconciliação: o Sagrado Coração é um símbolo de paz, promovendo a reconciliação entre pessoas e nações em conflito. Estes aspectos enfatizam a necessidade de viver a fé de uma forma prática e transformadora. Só assim uma devoção bíblica que produziu frutos de santidade em várias partes do mundo pode evitar tornar-se um pensamento introspectivo desconectado da realidade.

CL – Como Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus em Hong Kong e Macau, o que crêem que Deus quer que a vossa congregação enfatize nos próximos cinco a dez anos nesta região?

PE. EDUARDO – A espiritualidade do Sagrado Coração está enraizada no mistério de Deus que se tornou um de nós – o Verbo feito carne, que habitou entre nós (João 1, 14). Como Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, somos chamados a conhecer e amar verdadeiramente o povo de Macau e Hong Kong. Esforçamo-nos por compreender a sua cultura, aprender as suas línguas e imergir profundamente na missão das dioceses às quais estamos designados. Trabalhamos em conjunto com o clero diocesano, com as comunidades religiosas e com os fiéis leigos. Oramos e trabalhamos pela unidade da Igreja – ecoando o desejo mais profundo do coração de Cristo quando Ele orou ao Pai: «Que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu estou em ti, que também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste» (Jo., 17, 21).

Pe. Leonard Dollentas

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