2. VIRTUDES TEOLÓGICAS: FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE
A vida de um cristão autêntico é uma vida virtuosa: seguir o Virtuoso Jesus Cristo, Deus e Homem.
Uma vida virtuosa é a vida de um discípulo de Cristo que pratica as virtudes: as Sete Virtudes Magníficas que, segundo São Tomás de Aquino, fazem um bom cristão. A saber: fé, esperança e caridade (as virtudes teologais) e prudência, justiça, fortaleza e temperança (as morais virtudes cardeais).
Pretendemos desenvolver, da melhor forma possível, as virtudes mais essenciais: as virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade. Devido à celebração do Ano Jubilar de 2025, reflectimos primeiro sobre a esperança, pois o Ano Santo de 2025 é o Jubileu da Esperança. A seguir, meditamos sobre a fé, a virtude teologal fundamental.
Como a fé é uma virtude teologal, na nossa primeira coluna descrevemos brevemente a natureza da virtude e os tipos de virtudes. Nesta coluna – a segunda sobre a fé – reflectimos brevemente sobre a estreita ligação entre as três virtudes teologais.
Todo o ser humano possui, em algum grau, as virtudes humanas da fé, esperança e amor: as três são naturais à pessoa humana, são parte da sua identidade.
Como seres humanos, precisamos de ter virtudes humanas, ou disposições firmes da alma, como a justiça e a solidariedade. Como cristãos, em particular, precisamos acima de tudo das virtudes teologais, que não são adquiridas, mas infundidas por Deus. São dons de Deus para nós – para todos. O Deus omnipotente e misericordioso dá graças suficientes a todos: para poder obter a salvação, o céu. Ninguém poderá dizer: “Senhor, não me ajudaste o suficiente!”. Ele ajuda-nos sempre e muito mais do que o suficiente.
O dom radical de Deus é a graça, que eleva o nosso ser à vida sobrenatural ou divina. Na teologia, a graça está relacionada com o princípio estável e entitativo da vida, enquanto as virtudes teologais – e outras virtudes infundidas – com os princípios operativos e dinâmicos que produzem boas acções para a salvação. São Tomás escreve: “A fé gera a esperança, e a esperança gera a caridade”.
As três virtudes teologais da fé, esperança e caridade são três maneiras de responder a Deus: a fé é a raiz da vida cristã; a esperança é a sua orientação; e a caridade é a sua substância (Hans Urs von Balthasar). O teólogo protestante Jonathan Wilson descreve a fé como a maneira cristã de conhecer; a esperança como a maneira cristã de ser; e a caridade como a maneira cristã de agir. As três virtudes teologais estão inseparavelmente unidas: dadas por Deus e focadas em Deus. A esperança está intimamente ligada à fé e à caridade; a fé garante as bênçãos da esperança (cf. Hb., 11, 1); a esperança não é enganosa porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações (cf. Rm., 5, 5).
São Paulo fala das três virtudes teologais como a grande tríade das virtudes cristãs (cf. I Cor., 13, 13; Col., 3, 14). A maior das três é a caridade. Na tradição cristã, só a caridade dá perfeição à fé e à esperança – e a todas as virtudes! Sem caridade, as outras duas virtudes teologais, fé e esperança, não podem ser fecundas. Fé e esperança sem caridade não têm valor para o Reino. A caridade é a forma, a vida de todas as virtudes, especialmente das suas duas irmãs, ou seja, da fé e da esperança. São João da Cruz escreveu que “sem caridade, nenhuma virtude é graciosa diante de Deus” (“Noche oscura”, II, 21).
Três virtudes teologais, nem mais nem menos. Porquê? São Tomás de Aquino responde: porque “a salvação humana consiste em conhecer a verdade [fé]…, na intenção de um fim adequado [esperança]…, na observância da justiça [caridade]” (“Compendium Theologiae”).
A fé aperfeiçoa o intelecto, e a esperança e a caridade aperfeiçoam a vontade. Uma vez que estas virtudes são inclinações sobrenaturais, elas elevam e aperfeiçoam as inclinações naturais. A fé aperfeiçoa a inclinação natural para compreender a verdade. A esperança aperfeiçoa a inclinação natural para amar a si mesmo, e a caridade aperfeiçoa a inclinação natural para amar os outros. “A fé causa uma participação sobrenatural no conhecimento divino, e a esperança e a caridade causam uma participação sobrenatural no amor divino”. “Portanto, embora a fé cause a esperança, que causa a caridade, a caridade aperfeiçoa tanto a fé como a esperança” (John Sziha, “The Christian Moral Life. Directions”, 2017).
A fé é considerada a virtude mais básica; a caridade, a mais perfeita; e a esperança, talvez a mais necessária na nossa vida terrena: esperança fiel e amorosa. Dizia-se: “Dum spiro, spero” – “Enquanto respirar, espero”. Santo Agostinho disse: “Vita vitae mortalis, spes est vitae immortalis” – “A vida da vida mortal é a esperança da vida imortal”. Qual é a resposta à situação real da existência humana? É principalmente a esperança: “A virtude da esperança é a virtude primária correspondente ao ‘status viatoris’; é a virtude autêntica do ‘ainda não’” (J. Pieper). Afinal, as pessoas não podem viver sem esperança… As pessoas podem viver sem fé e, aparentemente, muitas vivem assim. Muitas também vivem sem amor. Mas sem esperança, sem algo que nos impulsione para a frente, simplesmente não podemos continuar (Michael Downey, “Hope Begins Where Hope Begins”).
Somos naturalmente inclinados a acreditar nos outros e a confiar neles. A fé acredita e confia em Deus. Caso contrário, não poderíamos viver vidas autênticas. Alguém escreveu: Não há vida sem fé. Se eu não acreditar em ninguém, mais cedo ou mais tarde ficarei louco. A esperança também é necessária para um ser humano autêntico e próspero. Ela dá sentido à vida e razão para continuar a viver. A caridade (o amor divino em nós), como também o verdadeiro amor humano, proporciona o sentido mais profundo da vida: “Viver é amar” (E. Mounier). “Uma vida humana sem amor é inimaginável” (Gaspar Ortega Villaizán). Uma vida cristã sem caridade é vazia e superficial. De facto, eu amo, portanto, existo verdadeiramente.
As virtudes humanas da fé, esperança e amor não conduzem às virtudes teologais, que estão – como a graça – além e acima do alcance humano: “Entre a fé humana e a fé cristã existe um abismo”. Para saltar da fé humana para a fé cristã, é necessária “uma certa experiência de Deus e da sua ajuda” (G. Ortega).
E PARA CONCLUIR, palavras para reflectir: “E assim, se a passagem da fé para a esperança aprofunda a imersão na narrativa cristã desde a Encarnação até à cruz, então a passagem da esperança para a caridade aprofunda ainda mais a imersão desde a cruz até à ressurreição” (Dominic F. Doyle, “The Promise of Christian Humanism, Thomas Aquinas on Hope”). Portanto, a caridade é a virtude número um. Ela precisa da fé como base, da esperança como anseio e das outras virtudes infundidas como pés e mãos. A fé encontra a sua expressão no amor. E a esperança não decepciona «porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm., 5, 5).
Pe. Fausto Gomez, OP