GUARDIÕES DAS CHAVES – 17

GUARDIÕES DAS CHAVES – 17

Tempos de paz: Félix, Eutiquiano e Caio

FÉLIX I

(5.I.269 – 30.XII.274)

O 26.º Pontífice Romano tinha nacionalidade romana. Seguindo a mesma linha do seu antecessor, Dionísio, o Papa Félix I afirmou a doutrina da união hipostática e defendeu a natureza divina de Jesus Cristo, contra Paulo de Samósata, bispo de Antioquia. Como vimos da última vez, os bispos da Ásia haviam-se reunido e condenado a doutrina de Paulo. No entanto, este último manteve a sua posição e recusou-se a ceder o lugar ao seu sucessor, Demétrio. Nessa altura, o imperador Aureliano tolerava o Cristianismo e parece ter ajudado a Igreja nesta questão. “O imperador Aureliano, de passagem por Antioquia, foi chamado a resolver a questão. O imperador decidiu que [Demétrio] era verdadeiramente o bispo que estava em comunhão com os bispos de Roma e Itália. E assim o ortodoxo Demétrio pôde assumir o lugar do herético Paulo de Samósata” (JS Brusher e E Borden, “Popes Through the Ages”, pág. 52).

O Liber Pontificalis refere que o Papa Félix “instituiu a celebração de missas sobre os sepulcros dos mártires”. JP Kirsche esclarece: “O autor desta entrada estava evidentemente a aludir ao costume de celebrar o Santo Sacrifício em privado, nos altares perto ou sobre os túmulos dos mártires nas criptas das catacumbas (missa ad corpus), enquanto a celebração solene dos Sagrados Mistérios tinha sempre lugar nas basílicas construídas sobre as catacumbas. Esta prática, ainda em vigor no final do Século IV, data aparentemente do período em que as grandes basílicas cemiteriais foram construídas em Roma, e deve a sua origem aos serviços solenes de comemoração dos mártires, realizados nos seus túmulos no aniversário do seu enterro, já no Século III. É provável que Félix não tenha promulgado tal decreto, mas o compilador do Liber Pontificalis atribuiu-o a ele porque não se afastou do costume em vigor no seu tempo” (Kirsch. 1909. Papa São Félix I. In “The Catholic Encyclopedia”. Nova Iorque. Robert Appleton Company).

Este costume de celebrar a Missa sobre os túmulos dos santos continua até aos nossos dias. O Código de Direito Canónico diz: “A antiga tradição de colocar relíquias de mártires ou outros santos sob um altar fixo deve ser preservada, de acordo com as normas dadas nos livros litúrgicos” (Cânone 1237 §2. cf. Sean Pilcher, “Who’s in My Altar and Why Does it Matter?” https://adoremus.org/2024/01/whos-in-my-altar-and-why-does-it-matter/).

O Liber Pontificalis também relata que o Papa Félix foi perseguido, martirizado e enterrado no seu próprio cemitério ao longo da via Aurélia, onde tinha construído uma basílica, mas os estudiosos modernos afirmam que provavelmente morreu de morte natural e foi enterrado nas Catacumbas de Calisto (cf. “Popes Through the Ages”, pág. 52).

SÃO EUTIQUIANO

(4.I.275 – 7.XII.283)

A época do Papa Eutiquiano foi de relativa paz e não se sabe muito sobre ele. Segundo o Liber Pontificalis, “ordenou que sempre que um fiel enterrasse um mártir, o enterrasse com uma dalmática ou uma túnica de púrpura” e que o facto lhe fosse comunicado. Parece pois certo que prestou uma atenção especial ao cuidado dos restos mortais dos mártires.

Nada se sabe em concreto o modo como morreu. O epitáfio do seu túmulo foi descoberto nas Catacumbas de Calisto (ver Kraus, “Roma sotterranea”, pág. 154 e seguintes).

SÃO CAIO

(17.XII.283 – 22.IV.296)

O Papa São Caio viveu num período de paz antes da última grande perseguição desencadeada por Diocleciano. Não se sabe muito sobre ele.

Decretou que para se chegar a bispo era necessário passar primeiro pelas ordens menores de porteiro, leitor, acólito, exorcista, subdiácono e, depois, pelas ordens maiores (ou sagradas) de diácono e sacerdote.

O Papa Caio trabalhou para alargar as catacumbas e construir pequenas igrejas sobre elas.

Os seus restos mortais encontram-se igualmente nas Catacumbas de Calisto.

Pe. José Mario Mandía

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *