A Ressurreição impele-nos ao Amor e a Fé

DOMINGO DE PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR – Ano C – 20 de Abril

A Ressurreição impele-nos ao Amor e a Fé

A ressurreição de Jesus que celebramos hoje é o pilar da fé cristã católica. Sem acreditar na ressurreição ninguém pode apresentar-se como cristão. São Paulo chega a dizer que se Cristo não ressuscitou, a nossa fé e pregação são em vão (cf. 1 Cor., 15, 14-15). Mas o que de facto aconteceu e como podemos explicar a ressurreição de Jesus?

Os próprios discípulos foram confrontados com uma realidade inteiramente nova, algo muito além do limite imaginado pela experiência humana. Apesar dos vários milagres e da pregação de Jesus sobre a Sua futura ressurreição, eles estavam diante de algo inédito. Na transfiguração, por exemplo, Jesus mostrou como Ele seria na eternidade, mas Ele ainda estava vivo. Esse dogma ainda ultrapassa o que já havia sido visto anteriormente como o avivamento do filho da viúva de Naim (cf. Lc., 7, 11-17), da filha de Jairo (cf. Mc., 5, 22-24, 35-43) e de Lázaro (cf. Jo., 11, 1-44). Ao contrário desses episódios, a ressurreição, segundo o Papa Bento XVI, é uma nova forma de vida, não mais sujeita às leis biológicas, mas aberta a uma nova dimensão da existência humana, uma realidade com Deus de onde Jesus se revela aos Seus discípulos. Essa nova e eterna forma de vida na presença de Deus inaugurado por Jesus é o estado em que a pessoa humana é chamada a participar e encontrará a sua plena e eterna realização.

Uma das referências bíblicas para a fé cristã na ressurreição encontra-se no Evangelho da liturgia deste Domingo de Páscoa. O texto narrado por São João inicialmente afirma que no primeiro dia da semana Maria Madalena foi bem cedo ao encontro de Jesus. O primeiro dia da semana é Domingo. Baseado nesta verdade, a comunidade cristã, desde os seus primórdios, passa a celebrar o Domingo como dia litúrgico mais importante da semana. Madalena ter ido de madrugada ao encontro do Senhor recorda-nos a passagem do Cântico dos Cânticos em que a amada foi bem cedo ao encontro do seu Senhor (cf. Ct., 3, 1-2). Agora, Maria Madalena, como representante da Igreja, mostra que a nova comunidade de fé deveria buscar o Senhor logo cedo, ou seja, com todo o amor e primeira prioridade da sua vida. Isto acontece na vida dos católicos quando, impelidos pela fé de que Jesus vive, consagramos esse dia da semana especialmente a Ele.

Maria Madalena saiu a correr, foi ao encontro dos discípulos e encontrou-se com dois deles. Aquele que Jesus amava, representado pela tradição católica como João, e o outro, discípulo, Pedro, aparecem juntos nesta passagem do Evangelho. Madalena diz que tiraram o Senhor do túmulo e não se sabe onde O colocaram. Até aqui não se tinha clareza da ressurreição. Num contexto onde o testemunho das mulheres era questionável, os outros dois discípulos vão ver o que aconteceu. Pedro sai com o outro discípulo a caminho do túmulo do Senhor. O outro discípulo corre e chega primeiro, mas não entra, o que pode mostrar a liderança de Pedro, o primeiro Papa. Este sinal da autoridade de Pedro é realidade esplanada nos Evangelhos, o que revela a primazia do nome de Pedro nas listas de nomes dos apóstolos (cf. Mt,10, 2-5, Mc., 3, 16-19). Pedro entra, vê as faixas de linho deitadas no chão. O pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus está num lugar à parte. Agora não há mais véu, como quando Moisés viu Deus no Antigo Testamento com um véu no rosto, para o seu rosto não ser ofuscado (cf. Ex., 34, 33-35). Aqui, a glória de Deus transparece resplandecente no rosto de Jesus sem véu ou nada que possa separar Deus do ser humano.

Deus, na Sua infinita sabedoria, ensina-nos como a ressurreição impele-nos ao amor e a fé. O Amor divino é aqui representado na atitude destas três personagens. Para Amar devemos estar presentes, como Maria Madalena se fez presente ao ir ao túmulo para cuidar do Senhor, Pedro mostrou mais uma vez a sua fé, como quem jamais ficou passivo diante das suas dúvidas, e o discípulo amado que correu, chegou primeiro, repestou os planos de Deus e amou sem condições, sem pedir nada em troca. Isto para nos dizer que não basta ter fé e acreditar, mas é preciso renascermos com Jesus para amarmos e estarmos unidos verdadeiramente em Deus e podermos participar nos Seus planos de uma forma única, cada um à sua maneira.

De facto, algo extraordinário aconteceu para transformar os corações medrosos dos discípulos em pessoas capazes de sacrificarem a vida pela verdade revelada que tinha sido selada na ressurreição. E é isso que Deus quer de cada um de nós: a nossa entrega verdadeira, num acto de fé livre e genuíno de acreditar que Ele vive, está presente entre nós e nos espera numa realidade nova onde o ser humano salvo será um com Deus. Que a alegria da ressurreição seja esperança e força para a nossa caminhada na fé diante dos desafios passageiros desta vida.

Pe. Daniel Ribeiro, SCJ

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