Alimentando a nossa Esperança – 9
As virtudes crescem na pessoa que as possui, actualizando-as frequentemente. A nossa esperança cristã ou teologal aumenta de intensidade em nós quando praticamos actos de esperança, e quando rezamos – a oração é oração de esperança, particularmente a oração de petição.
A nossa esperança teologal cresce em particular através da prática das virtudes da paciência e da humildade. Escreve Bento XVI: “A esperança manifesta-se praticamente nas virtudes da paciência, que não esmorece no bem nem sequer diante de um aparente insucesso, e da humildade, que aceita o mistério de Deus e confia n’Ele mesmo na escuridão” (Deus caritas est n.º 39).
Como alimentar a minha esperança? A Sagrada Escritura continua a ser para nós a melhor palavra de esperança. “Senhor, a tua palavra é lâmpada para os meus pés, luz para o meu caminho” (cf. Sl., 119, 105). Um dos meus textos preferidos sobre a esperança é o de Isaías: «Aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam alto como águias; correm e não se fatigam, caminham e não se cansam» (Is., 40, 31). Os Evangelhos, em particular, continuam a consolar-nos no meio do mal do mundo e das fraquezas e sofrimentos pessoais. Apresentam – com os Actos e as Epístolas – um retrato de Jesus Cristo como nossa esperança, e da sua ressurreição como fundamento da nossa esperança. De facto, que melhores palavras inspiradoras do que estas: “Em Cristo vivemos, em Cristo morreremos e em Cristo esperamos viver para sempre” (cf. 1 Cor., 15, 20-22). «Espero chegar à ressurreição dos mortos» (Fil., 3, 11).
Nos Evangelhos, conhecemos Maria, a Mãe de Jesus, a Senhora do fiat e do magnificat, a nossa Mãe que nos diz sempre: «Fazei tudo o que Ele vos disser» (Jo., 2, 5). A minha devoção mariana, uma devoção essencialmente cristocêntrica, inclui o Rosário, uma oração contemplativa através da qual Maria nos guia para “ler” Cristo, descobrir os seus segredos e compreender a sua mensagem (cf. João Paulo II, Rosarium Virginis Mariae). A Virgem Santíssima, Mãe de Deus, é a melhor testemunha da esperança. Ela “nunca abandonou a sua esperança e a sua verdade em Deus”. Maria é a nossa Mãe da Esperança, Stella Maris no mar turbulento da nossa vida.
Um exemplo que continua a brilhar hoje: os mártires. “Precisamos de conservar o seu testemunho para tornar fecunda a nossa esperança” (Papa Francisco, Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025 n.º 20).
Os santos são excelentes companheiros de viagem. As suas vidas e obras reforçam a nossa esperança cristã. Como qualquer santo, Santo Agostinho era um cristão esperançoso – e escreveu de forma poderosa e elegante sobre a vida como uma peregrinação. As “Confissões” de Santo Agostinho são, cada vez que as medito, uma viagem renovada para uma conversão mais profunda – e para a esperança! “A felicidade não consiste em ter mais, mas em precisar de menos”; “Fizeste-nos para ti e o nosso coração está inquieto até repousar em ti”; “Todas as minhas esperanças estão na tua grande misericórdia e em mais nenhum lugar. Ó amor que é o meu Deus, incendeia-me!”.
Como dominicano, São Domingos, meu pai espiritual, o homem apostólico e evangélico, inspira a minha pregação e a minha vida: o grande Domingos, “nunca pedindo recompensa, só fala do Senhor”. Lendo “São Tomás de Aquino, o apóstolo da verdade (segundo João Paulo II)”, aprende-se sempre algo de novo: toda a verdade, escreve ele, “independentemente de quem a disse, vem do Espírito Santo”.
Continuo a alimentar as minhas raízes – e a minha vida cristã – com as obras de Santa Teresa de Ávila e de São João da Cruz. Teresa é uma mestre perene da oração, da oração humilde. Ela aconselha-nos a todos: “Nunca abandoneis a oração. Há sempre remédio para aqueles que rezam”. Ela consola-me: “Não deixes que nada te perturbe, / Não deixes que nada te assuste; / Tudo passa. / … A paciência tudo alcança;/ … Só Deus basta” (Solo Dios basta). São João da Cruz é um guia na noite escura da vida: “Ó noite que guia! / Ó noite mais bela que a aurora! / Ó noite que uniu / o Amante à sua amada, / transformando a amada no seu Amante!”.
Ao atravessar o deserto da vida, lembro-me das palavras de Urs von Balthasar: “Para o servo, Deus tem sempre razão!”. Perante uma guerra sangrenta – todas o são –, a morte de crianças inocentes – nascidas e por nascer –, os terríveis sofrimentos de um ente querido ou de uma alma adorável… somos tentados a discordar. Porquê o aparente silêncio de Deus? Não sei, mas sei – e acredito firmemente – que Ele se preocupa, porque nos ama e o seu Filho morreu por nós! E eu acredito e espero nele e na sua graça para mim, para nós – para todos.
Entre outros autores modernos úteis, gostaria de mencionar como mensageiros de esperança, como o são para mim, Henri Nouwen, Thomas Merton e Anthony de Mello.
A vida é por vezes – como gostava de dizer Santa Teresa de Ávila – uma má noite numa má estalagem. Por vezes, sinto-me no deserto, sozinho perante a aridez e a solidão da vida. Tento então perceber que a minha esperança é uma esperança a caminho – a caminho de Cristo, a caminho da cruz! A minha esperança cristã esforça-se por ser uma esperança paciente e perseverante, para esperar com os outros e para os outros – particularmente com e para os pobres. Na noite escura da vida, pergunto: “«Sentinela, quanto tempo ainda falta para a noite acabar?» (Is., 21, 11). Rezo a Deus – e peço aos outros que rezem por mim – para me ajudar a esperar contra a esperança, como Abraão (cf. Rm., 4, 18), para manter a minha esperança nos dias cinzentos (cf. Zc., 4, 10)”.
“Esperança é acreditar nas Bem-aventuranças apesar das aparências”. Com esta esperança, “aquele que chora é feliz agora, no momento presente”. É por isso que “esperamos contra a esperança” (Jacques Ellul, “Escritos Espirituais Selecionados” n.º 106). A esperança é acreditar em Cristo, Filho de Deus e nosso Salvador, que é a Bem-aventurança de Deus para nós, acreditar na sua ressurreição – e na minha e na tua.
E para concluir! Esperemos – sempre! Esperemos sempre com uma esperança humilde, paciente e perseverante. E com uma esperança profundamente orante e alegre. Em espírito de oração, e apesar dos nossos fracassos e pecados, nunca desesperemos. A nossa esperança impele-nos a tentar – uma e outra e outra vez – fazer o bem e combater o mal. Lembrem-se que tentar já é uma graça de Deus, que gosta dos nossos desejos firmes e bons. Esforcemo-nos e nunca desanimemos.
Palavras de consolação: Se o fim não te encontrar vitorioso, que te encontre lutando (cf. Santo Agostinho).
Pe. Fausto Gomez, OP