Heresia versus Ortodoxia de Alexandria
A Escola de Alexandria floresceu com a liberdade religiosa que se seguiu ao Édito de Milão. Mas foi também em Alexandria que nasceu o Arianismo.
O surgimento do Arianismo é atribuído a Ário (256-336) que, na verdade, se formou noutra escola teológica, a de Antioquia (ver PADRES DA IGREJA, 17). Aí estudou com Luciano (240-312), que defendia o subordinarismo.
Luciano acreditava que o Logos, o Verbo, era uma mera criatura, mas era o Criador de todos os outros seres. Para além desta posição heterodoxa, Luciano era um homem de virtudes excepcionais e, de facto, morreu como mártir sob o Imperador Maximinus Daza.
Ário mudou-se para Alexandria, onde foi ordenado sacerdote. Em 318 começou a pregar uma doutrina teológica que seguia os ensinamentos de Luciano. Ário ensinava que Deus não é apenas incriado, mas também não gerado. Seguindo esta lógica, o Filho não pode ser Deus, porque ele é gerado. Ário dizia que o Logos é a primeira das criaturas de Deus e foi um instrumento para criar outras. Por sua vez, a primeira criatura do Logos é o Espírito Santo, que é inferior ao Logos. Para além disso, Ário não acreditava na união de duas naturezas (humana e divina) na Pessoa de Cristo. Pelo contrário, ele dizia que o Logos tomava o lugar da alma no homem Jesus Cristo, contrariando o ensinamento da Igreja de que Jesus tinha uma alma verdadeiramente humana, assim como tinha um corpo verdadeiramente humano.
A doutrina de Ário “é um produto típico do racionalismo teológico. Satisfazia em grande medida as mentes superficiais porque dava uma resposta simples e fácil à questão muito difícil da relação existente entre Deus Pai e Deus Filho. Poupou a Ário e aos seus seguidores o trabalho de investigar a vida interior de Deus, porque negava todas as relações divinas internas” (Quasten III, pág. 8).
Alexandre, que era bispo de Alexandria quando surgiu a controvérsia ariana, “começou por tentar a bondade e a admoestação paternal e tentou reconquistá-lo [Ário], mostrando que os seus pontos de vista eram contrários à tradição” (Quasten III, pág. 14). Contudo, Ário e os seus seguidores recusaram-se a retratar-se. Alexandre, com cerca de uma centena de bispos, convocou um Sínodo (318) que condenou a heresia e excomungou Ário e os que o seguiam. Mas este Sínodo não parece ter resolvido o problema.
Assim, o Imperador Constantino (na altura ainda pagão) convocou o Concílio de Niceia (325 – o primeiro Concílio ecuménico da História da Igreja; um Concílio ecuménico é uma reunião de bispos de toda a Igreja cujas decisões representam a Igreja universal), que confirmou as conclusões do Sínodo de 318.
Se quisermos contrastar as posições de Ário e da Igreja, podemos dizer que se tratava da diferença entre dois termos muito semelhantes: “homoiousios” (“semelhante”) e “homoousios” (“mesma substância”). O “i” muda completamente o significado. O Concílio confirmou o ensino da Igreja no Credo Niceno: “Creio num só Senhor Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos. Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial (‘homoousios) ao Pai…”. Ser consubstancial significa ter a mesma natureza: o Filho é Deus tal como o Pai é Deus. O Credo de Niceia também confirmou que o Espírito Santo é Deus: “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”.
Com a defesa de Alexandre da natureza divina de Jesus Cristo, ele também ensinou que Maria não é apenas Mãe de Cristo, mas Mãe de Deus – “Theotokos”.
Pe. José Mario Mandía