Influente no mundo!?
A minha reacção inicial foi de surpresa e estupefacção ao saber que Joshua Wong fechava o top-10 dos líderes mais influentes do mundo na recente lista elaborada pela revista Fortune. Para além dos erros crassos de análise que estiveram na origem da escolha, percebi que neste mundo vale tudo para moldar a opinião pública.
Os referidos erros já foram escalpelizados pelo colunista Alex Lo, do South China Morning Post. «É raro conseguir-se tantos pontos-chave errados sobre um assunto no mesmo artigo. No entanto, parece que a Fortune conseguiu alcançar um padrão-dourado no seu artigo sobre Wong», salientava o editor-sénior, a 30 de Março, na edição electrónica do diário de Hong Kong.
Alex Lo fez ainda referência a uma citação da Fortune sobre Joshua Wong: «A sua mensagem de protesto não violento e idealismo energético galvanizou multidões que, durante meses, atingiram centenas de milhares [de pessoas]. Os protestos paralisaram Hong Kong durante três meses».
O editor-sénior passou ao contra-ataque: «A ideia toda do Occupy foi primeiramente idealizada por um professor universitário de Direito. Dos três locais principais do Occupy, apenas um – Admiralty – foi planeado e organizado pelos líderes estudantis. E destes, praticamente todos os líderes eram da Universidade de Hong Kong e da Federação de Estudantes, que representam os estudantes universitários».
De igual forma, lembrou que Joshua Wong «apelou ao boicote nas aulas do ensino secundário», acção que «foi profundamente vista como uma ofensa e repelida pela maioria de pais e professores», acrescentando que foi «a maioria dos estudantes universitários quem respondeu ao boicote escolar e se mobilizou para o Occupy».
Tenho sorte em viver perto de Hong Kong e de ter ido em reportagem no período mais quente do movimento popular, razão pela qual aproveitei a soberana oportunidade para ver e analisar “in loco” os acontecimentos sem correr o risco de ficar influenciado por determinadas cadeias de televisão ou jornais com bastante preponderância à escala planetária.
A revista norte-americana Fortune prestou um mau serviço ao mundo porque, ao eleger o adolescente Joshua Wong para o top-10, serviu-se do propósito muito bem definido de tentar desestabilizar a República Popular da China, país que morde cada vez mais os calcanhares aos Estados Unidos na hegemonia global.
Joshua Wong não é líder de coisa nenhuma, pois não tem qualquer tipo de experiência de governação, muito menos de liderança de massas. Torna-se preocupante que a Fortune entre no jogo de influenciar centenas de milhões de pessoas em todo o mundo de modo a incutir-lhes sentimentos antagónicos e de desconfiança perante a China.
O objectivo primordial funciona como uma ferramenta de pressão que vai ao encontro dos anseios da Administração Washington, que tem sido alvo de duras críticas do Poder Central sempre que interfere nos assuntos internos da RPC, como por exemplo as habituais condenações a favor dos valores democráticos que nada mais são do que hipocrisias sobre tudo o que é desfavorável ao interesse americano.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA