Fórmula 1 – Época de 2015

De mal a pior?

Viu-se que os problemas que assolam a Fórmula 1 moderna, ironicamente causados no seu próprio seio, estão a levar a categoria mais prestigiada e prestigiante do automobilismo de competição a entrar em terreno muito perigoso.

No Grande Prémio da Austrália os espectadores assobiaram quando a grelha de largada foi fechada após a volta de aquecimento. Alinharam apenas 17 dos vinte carros previstos para o primeiro confronto desta temporada.

Valtteri Bottas, da Williams, sofreu uma lesão num disco da coluna durante as provas de qualificação e não pôde alinhar, assim como os dois Marussia, que apesar de todo o esforço e boa vontade não conseguiram preparar os seus carros a tempo de disputarem as provas de qualificação para a grelha de largada – teriam poupado a McLaren da humilhação de fecharem a grelha de largada.

De vinte carros a corrida estava destinada a ter apenas 17, mas na volta de formação o Red Bull Renault de Daniil Kvyat perdeu a força motriz e o McLaren de Kevin Magnussen teve um destino muito parecido, com o motor japonês a expirar pouco depois. Os dois McLaren qualificaram-se nos dois últimos lugares do “grid”, a mais de cinco segundos do Mercedes Benz de Lewis Hamilton. Jenson Button (McLaren) foi o último piloto a terminar a prova, a duas voltas de Hamilton. Aliás, os carros até ao sexto lugar foram dobrados pelo menos uma vez pelos quatro primeiros, com o quinto classificado já na mira dos dois Mercedes Benz, quando a corrida acabou…

As consequências deste descalabro não se fizeram esperar, com muitos dos comentadores a culparem a FIA pelas alterações constantes das regras e dos regulamentos, que levam ao aumento desmedido dos custos de uma disciplina que nunca foi “barata”. E com isso ao menor desenvolvimento dos carros e à “morte anunciada” das equipas mais pequenas, ou seja, todas as que estão posicionadas do meio do pelotão para baixo.

Por outro lado, a falta de apelo competitivo, em consequência directa das restrições e alterações dos regulamentos, leva a que os amantes do desporto motorizado, que não apenas da Fórmula 1, se virem para outras disciplinas, como fórmulas menores onde a competitividade “ainda” é de rigor; para as provas automobilísticas norte-americanas, acessíveis através da Internet ou de canais de televisão internacionais; para as provas de motonáutica, de motociclismo ou até mesmo de aviação.

Quando o Mundial de Fórmula 1 se disputava basicamente na Europa, os fãs acompanhavam os pilotos e equipas favoritas durante toda a temporada. Hoje, as “migrações” dos fãs são outras. Mudam-se para outras disciplinas, pois deixam de ter interesse na Fórmula 1. E com esse facto causam baixas muito significativas, não só nas bilheteiras dos circuitos, ou no valor dos patrocínios (cada vez mais difíceis de arranjar), mas também nas receitas das cadeias de televisão, que se ressentem da falta de audiências, o que se traduz, uma vez mais, na queda de apoios financeiros.

Os valores exigidos pelos administradores da Formula 1 – leia-se, Bernie Ecclestone – para poder seguir os Grandes Prémios ao “vivo” são cada vez mais elevados e tem-se vindo a destruir as provas tradicionais. Três exemplos: o Grande Prémio da França, onde o desporto automóvel nasceu, está fora do circo da Fórmula 1 há mais de dez; o Grande Prémio da Alemanha foi retirado do calendário deste ano; e o Grande Prémio de Monza irá desaparecer após 2016. Estas e outras decisões estão a matar a disciplina maior do automobilismo de competição. Os novos circuitos, ultra sofisticados, ultra ricos, e cada vez mais localizados em países exóticos – sem qualquer tradição no automobilismo, sem qualquer carisma – em detrimento da Europa, não são apelativos para os fãs (especialmente para os telespectadores). Estão pois a matar a Fórmula 1!

Enquanto se vai assistindo e este definhar, lento, mas aparentemente imparável, teremos já este fim de semana o Grande Prémio da Malásia. Um circuito muito rápido, descaracterizado, se bem que bonito e interessante para os pilotos, mas que apresenta desafios muito sui generis. O facto de invariavelmente chover com grande intensidade durante o horário das corridas faz com que as provas acabem a meio por falta de condições meteorológicas, como já aconteceu por mais de uma vez. O piso muito abrasivo, as curvas de alta velocidade e os “ganchos” obrigam os pneus a esforços muito elevados, obrigando algumas equipas a terem de efectuar três ou mais paragens para troca de pneus.

Quanto aos carros, a Mercedes Benz deverá colocar os dois bólides na primeira fila, e se tudo correr bem os seus dois pilotos nos dois lugares mais altos do pódio. Resta saber qual deles subirá ao degrau mais alto.

A Ferrari, que escamoteou as prestações reais dos seus carros, mostrou-se muito competitiva, se bem que Kimi Raikkonen não tenha passado das quarenta voltas com um problema não identificado. Já Sebastian Vettel voltou a sorrir, por ter sido o melhor “dos outros” – terceira posição, a 34 segundos de Nico Rosberg, este último no segundo carro da Mercedes Benz.

Esperemos que Max Verstappen e Carlos Sainz Jr. possam mostrar o que valem no circuito malaio e que ao menos haja um pouco mais de oposição ao domínio das “Flechas de Prata”.

Manuel dos Santos

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