Arlon: de Waléran a Tessmar
Para além das línguas faladas no Luxemburgo, o modo de vida do Grão-Ducado é também resultado de influências provenientes dos seus países vizinhos (Alemanha, Bélgica, França), sendo que a religião é um dos aspectos mais marcantes.
Na maior cidade belga que se encontra junto à fronteira entre os dois países, Arlon, visitámos uma igreja que já nos haviam mencionado como um local a não perder. Assim, há pouco mais de quinze dias, decidimos atravessar a fronteira e descobrir esta igreja, também como forma de aproveitar o bom tempo que se faz sentir nesta época do ano.
De acordo com os registos históricos, Waléran, o primeiro Conde de Arlon, construiu um castelo fortificado no topo da colina, que hoje “domina” a cidade, durante o Século XI. Depois de saqueada em 1588, os Monges Capuchinhos chegaram finalmente a Arlon e em 1621 construíram uma abadia nas ruínas do castelo. Em 1681 acabaria por ser construída uma muralha, transformando a abadia em cidadela. Mais tarde, em 1719, em consequência de uma tempestade e de um incêndio, os religiosos decidiram dedicar a igreja a São Donato, que é também o patrono da cidade de Arlon.
As antigas instalações dos Capuchinhos foram abandonadas em definitivo no ano de 1796, tendo apenas sobrevivido a igreja, a qual foi restaurada já no Século XX.
Embora se consiga chegar de carro ao destino, a tradição obriga a cumprir o percurso a pé, tal como antigamente. A escadaria que conduz à igreja de São Donato, localizada a 450 metros de altitude, é ladeada por uma Via Sacra de pedra, construída no Século XIX.
Da torre sineira, a todas as horas, ecoa a melodia “Zur Arel op der Knipchen” – melodia que muitas vezes é confundida com o hino da província belga do Luxemburgo, da qual Arlon é a capital. A torre sineira foi erguida entre 1905 e 1907 com o objectivo de substituir o campanário original dos Capuchinhos, sendo este o verdadeiro emblema turístico da cidade. Está 35 metros acima da colina, proporcionando uma vista muito ampla sobre os telhados de Arlon, o planalto das Ardenas e os três países vizinhos do Luxemburgo.
A terminar, apenas alguns dados históricos: em 1793 as tropas revolucionárias francesas tomaram a cidade e expulsaram os Frades Capuchinhos, utilizando o convento e a igreja de São Donato como hospital. Em Junho de 1815, após a derrota de Napoleão na Batalha de Waterloo, Arlon voltou ao governo do Grão-Ducado e em 1839 ficaria a fazer parte do recém-criado Reino da Bélgica.
Arlon foi também um dos primeiros alvos das invasões alemãs em 1914. À época, foram executados 121 habitantes. A mortandade deu-se a 26 de Agosto, por ordem do coronel Richard Karl von Tessmar. A urbe viria a ser novamente uma das primeiras a ser invadidas no início da Segunda Guerra Mundial. Embora as tropas aliadas tenham dado todo o seu apoio contra o invasor, as tropas alemãs entraram em Arlon a 10 de Maio de 1940.
João Santos Gomes