Qual a diferença entre Graça Santificante e Graça Actual?
Vamos falar um pouco mais sobre a Graça santificante. Dissemos que é como um “upgrade” no nosso “status”, do nível humano para o nível de Deus.
Para que possamos apreciar o que isto significa, imagine alguém com o poder de conceder a natureza humana a um animal, por exemplo, o seu cãozinho de estimação. Uma vez que o cão adquire natureza humana, adquire também todos os poderes e privilégios que a acompanham: a capacidade de pensar e amar, a capacidade de discutir questões; o direito de solicitar um documento de identidade, de encontrar um emprego, de abrir uma conta bancária… Sim, é isso que significa.
O Catecismo da Igreja Católica (CIC) refere no ponto 460: “O Verbo fez-Se carne, para nos tornar «participantes da natureza divina» (2 Pe., 1, 4): ‘Pois foi por essa razão que o Verbo Se fez homem, e o Filho de Deus Se fez Filho do Homem: foi para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo assim a adopção divina, se tornasse filho de Deus’ (Santo Ireneo de Lião, Adversus haereses). ‘Porque o Filho de Deus fez-Se homem, para nos fazer deuses’ (Santo Atanasio, De Incarnatione). ‘Unigenitus[…]Dei Filias, suae divinitatis volens nos esse participes, naturam nostram assumpsit, ut homines deos faceret factos homo– O Filho Unigénito de Deus, querendo que fôssemos participantes da sua divindade, assumiu a nossa natureza para que, feito homem, fizesse os homens deuses’ (Santo Atanasio, De Incarnatione)”.
Enquanto estamos aqui, na terra, a mudança de estatuto não nos é tão aparente – «agora, portanto, enxergamos apenas um reflexo obscuro, como em um material polido; entretanto, haverá o dia em que veremos face a face. Hoje, conheço em parte; então, conhecerei perfeitamente, da mesma maneira como plenamente sou conhecido»(I Coríntios 13:12). É somente na vida após a morte que podemos vê-la e desfrutá-la plenamente. «Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, todavia, sabemos que quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, pois o veremos como Ele é» (1 João 3:2). «No entanto, como está escrito: “Olho algum jamais viu, ouvido algum nunca ouviu e mente nenhuma imaginou o que Deus predispôs para aqueles que o amam”» (I Coríntios 2:9). O Salmo dá-nos um pequeno sinal: «Tu me fizeste conhecer o caminho da vida, a plena felicidade da tua presença e o eterno prazer de estar na tua destra» (Sl 16,11).
A Graça santificante concede-nos a vida divina. E quanto aos outros tipos de Graça?
A GRAÇA TAMBÉM É LUZ E AMOR (FORÇA) – A GRAÇA ACTUAL –Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC), “para além da graça habitual, existem: [1] as graças actuais (dons circunstanciais); [2] as graças sacramentais (dons próprios de cada sacramento); [3] as graças especiais ou carismas (que têm como fim o bem comum da Igreja), entre as quais as graças de estado, que acompanham o exercício dos ministérios eclesiais e das responsabilidades da vida”.
Para entender a diferença entre Graça santificante e Graça actual, podemos imaginar uma semente que plantamos no chão. A semente é vida; a Graça santificante é como a semente. Mas para crescer precisa dos nutrientes do solo, precisa de água, precisa de ar, precisa de Sol. As Graças actuais são, na prática, como todos estes factores que ajudam a semente a crescer.
Estas Graças, ao contrário da Graça santificante (um hábito entitativo), não afectam o nosso ser, mas sim as nossas operações ou acções. São hábitos que nos são concedidos por Deus; funcionam como vitaminas sobrenaturais para o intelecto e para a vontade. Porque os nossos actos surgem do nosso intelecto e da nossa vontade. São Graças que dão luz (para o intelecto) e força (para a vontade), para que possamos agir de acordo com o que é realmente verdadeiro e bom. Qual é a conexão entre o amor e a força? O amor é a maior fonte de força.
Estes hábitos, sobrenaturais, são aquilo a que também se refere o Catecismo da Igreja Católica no ponto 1996: “A graça é o favor, o socorro gratuito que Deus nos dá, a fim de respondermos ao seu chamamento para nos tornarmos filhos de Deus, filhos adoptivos, participantes da natureza divina e da vida eterna (João 1:12-18; 17:3; Romanos 8:14-17; II Pedro 1:3-4)”.
A Graça actual, em particular, acompanha-nos por todo o caminho que percorremos, desde a preparação até a conclusão do grande projecto de Deus que é a nossa santificação (CIC nº 2001). «Aquele que em vós começou a boa obra, há de completá-la» (Filipenses 1:6).
Deus dá-nos livremente, mas também nós temos que receber e responder de forma livre. O CIC explica no ponto 2002: “A livre iniciativa de Deus reclama a resposta livre do homem, porque Deus criou o homem à sua imagem, conferindo-lhe, com a liberdade, o poder de O conhecer e de O amar. Só livremente é que a sua alma entra na comunhão do amor”.
Pe. José Mario Mandía