“Voz de Maria”, a outra voz de Macau
É a partir de um moderno estúdio, localizado na sub-cave de um insuspeito bloco de apartamentos da Rua da Barra, a dois passos da Casa do Mandarim, que a rádio “Voz de Maria” chega aos quatro cantos do mundo. Fundada há pouco mais de cinco anos, com o patrocínio do então bispo D. José Lai, a emissora, que integra a família daquela que é a maior rede mundial de rádios católicas e que transmite apenas através da Internet, viu a sua audiência crescer por causa da pandemia do Covid-19.
Um funcionário permanente, um técnico em “part-time”, cerca de quatro dezenas de voluntários e outros tantos colaboradores entre os sacerdotes, as freiras e outros religiosos de Macau. Qualquer que seja o ângulo por onde se olhe, os números afiguram-se sempre demasiado curtos para o trabalho desenvolvido pela única rádio privada da Região Administrativa Especial que emite de forma ininterrupta, ao longo das por vezes inesgotáveis 24 horas do dia.
Os ecos ritmados da “Voz de Maria”, uma entidade que continua a ser desconhecida de grande parte dos residentes do território, brotam das entranhas de um humilde bloco de apartamentos localizado a meio termo entre a Casa do Mandarim e o Templo de A-Má. É do recolhimento de uma sub-cave, uns bons dez metros abaixo do nível da rua, que a mensagem da rádio coordenada por Jacqueline Leung Chi Ian chega aos quatro cantos do mundo. A operar desde Julho de 2015, a “Voz de Maria” não tem presença no espaço hertziano, mas a Internet e as novas plataformas de divulgação de conteúdos permitiram que se abrisse uma importante janela de Macau para o mundo. «Bem, como referia, nós não somos verdadeiramente uma rádio. Transmitimos através de um portal electrónico e, como tal, as pessoas por todo o mundo podem ter acesso aos nossos conteúdos. Através de uma aplicação desenvolvida pela Rádio Maria, em Itália, as pessoas podem chegar até nós. Nessa aplicação, a “Voz de Maria” é identificada como Rádio Maria em Chinês», explica Jacqueline Chan, em declarações a’O CLARIM.
«Apesar de termos como alvo prioritário a comunidade chinesa de Macau, as comunidades espalhadas pelo mundo que compreendem a língua chinesa podem aceder aos nossos conteúdos. Temos um acordo de colaboração com um grupo de comunicação social de católicos chineses no Canadá. Esse acordo prevê que eles nos enviem informação e nos coloquem ao corrente de algumas novidades. Temos ainda um outro acordo com outro grupo de comunicação de Hong Kong, a “Living Spring”, com quem por vezes promovemos programas conjuntos», acrescenta a também directora executiva do Centro Maria.
A ideia de instalar em Macau uma rádio que pudesse transmitir sobretudo em Cantonense para todo o mundo surgiu em 2014, ao fim de vários meses de negociações com a Família Mundial da Rádio Maria. A organização reúne mais de oito dezenas de emissoras de radiodifusão que transmitem programação de conteúdo católico em todos os continentes do mundo, tendo como inspiração as mensagens da Virgem Maria transmitidas em Fátima e em Medjugorje.
A exemplo do que sucede com as demais emissoras que integram a rede mundial da Rádio Maria, a “Voz de Maria” opera tendo por base três grandes linhas mestras. «Temos como referência as indicações e as linhas mestras que nos foram transmitidas pela Rádio Maria. De acordo com estas linhas mestras, o dia está dividido em três grandes momentos: um é dedicado à oração, outro é dedicado à evangelização e o terceiro é dedicado à promoção de valores humanos e sociais», ilustra Jacqueline Leung. «Seguimos estas indicações e a nossa programação está estruturada de acordo com elas. Temos o Terço, temos as orações da manhã, as orações da tarde, a Oração do Ângelus e o Terço da Divina Misericórdia. Em termos de evangelização, temos entrevistas com diferentes comunidades da Igreja, convidamos diferentes sacerdotes para partilharem a homilia quotidiana connosco, temos programas de Catecismo e também transmitimos alguns dos mais importantes eventos locais, como por exemplo a Procissão de Nossa Senhora de Fátima», refere a coordenadora da emissora católica do território.
A “Voz de Maria” transmite maioritariamente em Cantonense, mas há espaço na programação da emissora também para alguns programas de Mandarim, para a transmissão ao vivo da Eucaristia ao fim-de-semana e também da celebração do Rosário. Durante o período inicial da pandemia, em que a vida em Macau esteve praticamente paralisada, a “Voz de Maria” foi, a par da própria Diocese, a única organização do território a acolher a celebração da Missa e o privilégio acabou por se reflectir num ganho em termos de audiências, adianta Jacqueline Leung: «Também convidámos o bispo D. Stephen Lee a visitar a capela da Divina Misericórdia todos os dias para rezar connosco e transmitimos esse momento ao vivo no Facebook. Não lhe vou dizer que foi uma estratégia bem sucedida, mas a verdade é que aumentou o número de pessoas que vêem os nossos conteúdos no Facebook», admite a directora executiva do Centro Maria. «Esse período, em particular, coincidiu com a Quaresma e nós trabalhámos com a Diocese para que pudéssemos promover alguns retiros com alguns sacerdotes. Gravámos esses retiros para depois os partilhar com os nossos ouvintes e os nossos seguidores, para que eles os pudessem acompanhar a partir de casa e pudessem optar também por promover uma espécie de retiro no seu próprio lar. Recebemos muitas reacções da parte dos nossos ouvintes, que nos disseram que o nosso trabalho foi para eles um grande apoio durante os tempos mais críticos da pandemia. Apesar de ter sido um período difícil, ajudou-nos a expandir a nossa rede e o número dos que ficaram a conhecer o nosso trabalho aumentou», remata Jacqueline Leung, que diz que nos próximos anos um dos objectivos da “Voz de Maria” passa por captar mais ouvintes jovens através de uma maior aposta em plataformas e redes sociais como o YouTube, o Facebook ou o Instagram.
Marco Carvalho