Rejeitar a veracidade dos factos é cego e irracional
Numa entrevista concedida à Aleteia, o escritor, teólogo e professor Paul Thigpen falou do seu livro “Saints Who Battled Satan”, publicado em Novembro de 2015, que considerou ser uma continuação do (também seu) best-seller “Manual for Spiritual Warfare”. A existência de Satanás e de outros espíritos malévolos está muito presente nas Sagradas Escrituras e é atestado pelo Catecismo da Igreja Católica, assim como por escritos dos Padres da Igreja. A presença destas entidades é também confirmada pelo testemunho de inúmeros santos, sendo este o tema central do livro de Paul Thigpen. Nesta obra conta-nos as histórias de dezassete santos (homens e mulheres de Deus) – escolhidos entre muitos outros – que enfrentaram o Demónio em diversos contextos históricos e geográficos.
Dadas as inúmeras narrativas de batalhas travadas por santos contra Satanás ao longo da história, uma das primeiras questões colocadas a Paul Thigpen teve a ver com o critério que utilizou para escolher os santos, até perfazer um total de dezassete. O escritor confessou que não foi uma tarefa fácil, em primeiro lugar porque quis enfatizar o carácter universal do combate espiritual. Pretendeu incluir santos de diversas culturas e de diversos contextos históricos. Os santos que escolheu são provenientes de doze países da Ásia, África, Europa, América do Norte e América do Sul. «Há representantes de cada século desde os primórdios do Cristianismo – excepto do século XXI, que acaba de começar».
A segunda preocupação foi incluir narrativas e passagens que pudessem ilustrar os princípios já abordados no seu livro anterior, “Manual for Spiritual Warfare”. «Desejava apresentar aos meus leitores as histórias de homens e mulheres de “carne e osso”, testemunhas directas das manifestações ordinárias e extraordinárias de Satanás».
Segundo ele, houve também a preocupação de mostrar como os santos fazem uso das “armas espirituais” no meio dos mais violentos confrontos, tais como a oração, o estudo das Sagradas Escrituras e os sacramentos. Nos momentos mais difíceis estes santos solicitavam a assistência de Jesus Cristo, bem como dos santos que travaram semelhantes batalhas – apelavam aos anjos e, em especial, à Virgem Santíssima.
Neste âmbito, explicou: «Ao ser tentado pela luxúria, recomendaria solicitar o auxílio de São Bento; nos momentos de cólera, pediria a assistência de São Jerónimo; para resistir ao pecado da soberba, recorreria a Santo Inácio de Loyola; para não desanimarmos na nossa caminhada, a intercessão de Santa Teresa de Ávila; e nos momentos de desespero, São Padre Pio, por exemplo».
Questionado quanto às virtudes mais importantes para mantermos o mal à distância, o professor deu a chave: «Desde os tempos mais remotos, um sem número de conselheiros espirituais cristãos tem recomendado a humildade como a virtude fundamental – é o solo no qual todas as demais virtudes florescem».
Algumas pessoas parecem ser mais tentadas pelo Demónio do que outras. Há um padrão que se repete nas biografias de muitos santos: Quando o Diabo percebe que uma pessoa irá causar danos importantes no seu império infernal, passa a atacá-la furiosamente. Foi assim com Santo Antão, ao demonstrar a sua firme decisão de viver como santo eremita no deserto, e também com Santa Catarina, quando decidiu consagrar-se a Cristo ainda em criança. O mesmo ocorreu a São Padre Pio, no momento em que ingressou na Ordem dos Capuchinhos. «Foi nestes momentos da vida dos santos que o inimigo das suas almas realizou os mais violentos ataques, na tentativa de impedi-los».
Para evitar que nos tornemos obsessivos e excessivamente preocupados com o mal, Thigpen remeteu-nos para as Escrituras, que falam a respeito da nossa batalha contra o “mundo”, a “carne” e contra Satanás (Tg., 4:1-7): «Acredito que se formos capazes de cultivar o hábito de reconhecer a origem dos nossos pensamentos, grande parte da nossa batalha já estará vencida». Este tipo de discernimento é cultivado por meio das disciplinas espirituais, tradicionalmente recomendadas pela Igreja: oração frequente, participação na Santa Missa, Adoração Eucarística, recepção regular dos sacramentos – em especial da Reconciliação e da Eucaristia, bem como o estudo das Sagradas Escrituras e o aconselhamento espiritual.
«Os santos, embora levassem o Diabo muito a sério, também demonstravam uma espécie de “desprezo sagrado” por ele; sabiam que, em última análise, tratava-se de um inimigo derrotado».
Há muitas pessoas – mesmo dentro da Igreja – que infelizmente não acreditam na existência de Satanás e dos seus demónios (anjos caídos), e estão mais expostas e desprotegidas. Povos de culturas muito diferentes e das mais diversas regiões do globo têm afirmado a existência de espíritos malignos: «Mesmo nos dias de hoje ouvimos pessoas cultas e inteligentes testemunharem encontros pessoais com forças demoníacas. Ora, esta parece ser uma ideia tão universalmente aceite que deve ter algum fundamento», sublinhou.
O entrevistado ressalvou ainda que muitas doenças e transtornos mentais são muitas vezes – de modo errado – atribuídos à influência de demónios.
Os Evangelhos narram que o próprio Jesus Cristo dialogou com Satanás. Cristo referiu-se aos demónios em diversas ocasiões e a acção de expulsar os maus espíritos de pessoas endemoniadas constituiu um aspecto marcante e indispensável da sua missão. «Alguns estudiosos têm sugerido que nestes episódios Cristo estaria, na verdade e simplesmente, a curar enfermidades físicas ou psíquicas, erradamente tomadas por demónios pelas pessoas daquele tempo. Em resposta a tais argumentos, precisamos apenas lembrar que, conforme atesta o Evangelho – obedecendo a ordens de Cristo – os demónios abandonaram o seu hospedeiro humano, para invadir os corpos de animais. Ora, não se pode transferir uma desordem médica de um homem para uma vara de porcos», frisou.
Esta realidade e presença tem sido um elemento constante da doutrina da Igreja Católica, desde a sua instituição por Cristo, por meio dos seus apóstolos. Paul Thigpen acentuou que a existência de Satanás foi e continua a ser mencionada em diversas declarações de Papas e Concílios da Igreja.
A concluir, recuperou a mensagem do seu livro, no que respeita ao testemunho de um sem número de santos, que ao longo dos séculos lutaram contra agressores demoníacos: «A obstinação em continuar a rejeitar a veracidade destes factos, parece-me mais a expressão de uma crença cega e irracional».
Miguel Augusto