Síria, A Verdadeira História (9)

Força e felicidade, apesar das perseguições

Quando se deu o ataque de Paris – um acontecimento horrível – senti-me tão incomodada com a notícia de que as pessoas na Europa estavam com medo de irem às igrejas, que agora as igrejas europeias devem estar a ser menos frequentadas.

Pensei: “Como é tão diferente aqui”. Eles (os sírios) sofrem muito. E rezam também muito. Quanto mais sofrem, mais rezam. Quanto maior for o sofrimento, maior a necessidade da Graça de Deus. E temos que pedi-la a Deus. São perseguidos, e mesmo assim tornam-se mais fortes.

Olhem para estas raparigas (diz, apontando para uma fotografia). Sima era uma estudante universitária e escuteira. Tinha vinte anos de idade. Foi morta com a explosão de um rocket.

Nur (mostra outra fotografia) era treinadora de basquetebol, gostava muito de desporto. Também morreu no bairro cristão da cidade, quando um rocket explodiu.

Agora vejam a fotografia desta mulher (segura mais uma fotografia). Esta fotografia não é de Aleppo, mas da cidade de Racca. Talvez já tenham ouvido este nome, porque é a capital do califado que o Estado Islâmico está tentar implantar. Nessa cidade os cristãos são barbaramente assassinados. Mostro esta fotografia porque é uma das menos chocantes que tenho. É uma mulher cristã amarrada a um pilar, exposta para que todos os transeuntes lhe possam bater, até que ela peça para se converter ao Islamismo e se afaste da sua fé em Jesus Cristo. Contudo, não o fez.

É das coisas menos chocantes que vos posso mostrar, até porque podem ver os vídeos que o ISIS tem espalhado por todo o lado – as decapitações. Mas não quer dizer que só haja decapitações quando há vídeos. Há decapitações todos os dias, com ou sem vídeos. Crianças são enterradas vivas na presença das suas mães. São enterradas porque são cristãs. Ou então, são crucificadas.

Para vos dar uma ideia do que por lá se passa, podem usar um pouco de imaginação. Suponhamos que o que aconteceu em Paris, aquele ataque terrível numa sexta-feira – não sei se se lembram – voltasse a acontecer no sábado. Tentem apenas imaginar. Na sexta-feira a reacção dos Meios de Comunicação foi a de “apenas” falarem sobre o ataque em todo o Mundo.

Agora imaginem que voltava a acontecer no sábado, na mesma cidade de Paris, um outro ataque da mesma magnitude. E também no Domingo. E na segunda-feira. E na terça, e na quarta. E agora multipliquem essa situação… por quatro anos.

Eu estava na Argentina quando vi as reacções (do ataque de Paris) em todo o Mundo, incluindo a do mundo cristão. Vi que nas nossas paróquias se rezou pelas famílias das vítimas. E que se observou um minuto de silêncio aqui e ali; que a bandeira francesa foi içada a meia haste por todo o lado. E pensei: “Porque não houve a mesma reacção pelos nossos irmãos, os nossos irmãos mártires, da Síria e do Iraque durante estes quatro anos?”

Não estou a tentar minimizar o que se passou em Paris. Por favor, compreendam que não, não estou a fazer isso. Só queria alertá-los para o que este genocídio, que estamos a testemunhar, significa.

Olhem para esta fotografia. São as nossas pessoas (na Síria). Gosto muito desta fotografia porque tem um pouco de todo tipo de gente. Há crianças. Vejam as faces destas crianças. Há jovens. E também menos jovens e pessoas idosas. Vejam as suas faces. Podem ver algo nas suas faces? Estão a sorrir, não?

Quando mostrámos estas fotografias as pessoas disseram: «São fotografias muito bonitas, mas gostaríamos de ver fotografias (do tempo) da guerra». Mas estas fotografias são do tempo de guerra…

As pessoas perguntam: «Foram tiradas antes do conflito?» Não, são fotografias recentes. E estas pessoas sorriem, como se pode ver. E espantem-se, são sorrisos autênticos. Eu fui testemunha. Vivi com eles.

Irmã Maria da Guadalupe Rodrigo

(Tradução: Pe. José Mario Mandía e António R. Martins)

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