Fé: a Virtude Fundamental

REFLEXÃO

Fé: a Virtude Fundamental

A vida de um cristão autêntico é uma vida virtuosa: seguir o Virtuoso Jesus Cristo, Deus e Homem.

Uma vida virtuosa é a vida de um discípulo de Cristo que pratica as virtudes: as sete virtudes (e os seus respectivos aliados) que, segundo São Tomás de Aquino, fazem um bom cristão. As Sete Magníficas: Fé, Esperança e Caridade (as virtudes teologais), e Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança (as morais virtudes cardeais).

Pretendemos desenvolver, da melhor forma possível, as virtudes mais essenciais: as virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade. Devido à celebração do Ano Jubilar de 2025, reflectimos primeiro sobre a esperança cristã, pois o Ano Santo de 2025 é o Ano da Esperança. (Publicámos recentemente dez artigos sobre a esperança teologal). De seguida, meditamos sobre a fé, a virtude teologal fundamental.

Porque a fé é uma virtude teologal, na nossa primeira coluna descrevemos brevemente, e em primeiro lugar, a natureza da virtude e as espécies de virtudes; em segundo lugar, a estreita ligação da fé com as outras duas virtudes teologais: esperança e caridade.

1. DESCRIÇÃO DA VIRTUDE E DOS TIPOS DE VIRTUDES

A VIRTUDE é uma categoria ética fundamental e, por isso, continuamente importante na ética geral e na ética profissional, bem como na teologia moral e espiritual.

As virtudes dispõem o Ser Humano a agir com firmeza, de acordo com a sua natureza, e ajudam-no a desenvolver racional, emocional e criativamente as suas potencialidades.

Josef Pieper, um expoente lúcido das duas mais importantes autoridades em matéria de virtude, Aristóteles e São Tomás de Aquino, escreveu que a vida virtuosa é um processo interminável em direcção à excelência, à auto-realização e à felicidade. De facto, como dizia Spinoza, a virtude fascina.

Santo Agostinho afirma: “A única causa de toda a filosofia humana é alcançar a felicidade”. Para Aristóteles, o homem ou a mulher ideal é a pessoa feliz, e a pessoa feliz é a pessoa virtuosa. Querer ser feliz é um desejo natural da pessoa humana: a pessoa humana quer ser feliz por natureza. Para São Tomás, toda a busca moral é uma busca de felicidade. Para Aquino, a virtude é a causa da felicidade e o caminho para uma felicidade maior. Para ele, a felicidade consiste na praxis da virtude.

A virtude é uma qualidade que permite a um indivíduo avançar para a realização do telos (fim) especificamente humano, seja ele natural ou sobrenatural (Aristóteles, Novo Testamento, Aquino). Uma virtude é uma qualidade firme da alma que tem utilidade para alcançar o sucesso terreno e celestial (Benjamin Franklin). Precisamos de virtudes para corrigir as nossas deficiências morais, vencer as tentações, erradicar o mal e os vícios e, como Philippa Foot sublinha, a virtude é também correctiva por natureza (Virtudes e Vícios).

Tradicionalmente, a virtude é definida simplesmente como um bom hábito operativo. É um hábito, ou seja, uma disposição interna, uma qualidade humana que dispõe firmemente o potencial da pessoa humana para o bem ou para o mal. É um bom hábito que leva a pessoa a realizar boas acções. A qualidade da bondade distingue as virtudes dos vícios: enquanto os bons hábitos operativos estão em conformidade com a nossa natureza de seres humanos, os vícios, ou maus hábitos operativos, são contrários à nossa natureza. O hábito da compaixão, por exemplo, leva a pessoa compassiva a praticar actos de amor para com o próximo que esteja necessitado. A virtude é, além disso, um hábito operativo, isto é, dispõe firmemente a pessoa a agir de uma maneira agradável, pronta e fácil, num determinado campo da vida. Ela inclina o Ser Humano, intelectualmente e afectivamente, a realizar o seu firme propósito. Palavras para reflectir: “A virtude aumenta a visão, enquanto o vício escurece e finalmente cega” (Gilbert C. Meilaender, “The Theory and Practice of Virtue”).

VIRTUDES – Aquino acrescenta que as virtudes são disposições boas, conformes à natureza humana, que só podem produzir boas acções. As virtudes são princípios interiores de boas acções. As leis, por outro lado, são princípios exteriores de boas acções justas – desde que as leis sejam boas.

O lugar da virtude é o “coração”, o centro da moralidade; concretamente, a vontade, a razão e a sensibilidade (Pinckaers). Podemos descrever as virtudes como a prática da humanidade da pessoa humana (L. Boros), como sucessos na auto-realização (C. van der Poel), como fortes propensões que nos levam a viver como seres humanos florescentes (Peter Geach, “As Virtudes”). Através da prática das virtudes, a pessoa humana pode atingir “as potencialidades mais longínquas da natureza” (J. Pieper).

TIPOS DE VIRTUDES – Há diferentes tipos de virtudes. De acordo com a sua origem, distinguimo-las entre adquiridas e infusas; e de acordo com o seu objecto, entre virtudes teologais e morais.

Segundo a sua origem, distinguimos entre virtudes adquiridas e virtudes infusas. As virtudes humanas são adquiridas por uma pessoa através da repetição dos mesmos actos específicos, enquanto as virtudes infusas são dadas por Deus. “As virtudes cardeais infusas são como as virtudes cardeais adquiridas, excepto que são infusas por Deus e ordenadas à felicidade eterna. Por outras palavras, as virtudes cardeais infusas aperfeiçoam os mesmos poderes da alma que as virtudes adquiridas” (John Rziha, “The Christian Moral Life”). As virtudes adquiridas são elevadas, aperfeiçoadas pelas virtudes infusas, que se fundamentam na graça divina. As virtudes infusas são ajudadas pelas virtudes adquiridas, reforçando a inclinação agraciada para realizar boas acções específicas de uma forma fácil.

Na perspectiva cristã, na perspectiva do Reino de Deus – da vida eterna –, a virtude teologal do amor gracioso dá vida a todas as virtudes: a caridade – como amor divino em nós – é um amor fiel e esperançoso. “O modo tradicional de explicar a relação entre a caridade e as outras duas virtudes teologais, e as virtudes cardeais, é que a caridade é a forma de todas as virtudes. Por outras palavras, uma vez que a forma determina o objecto de uma acção, todas as acções decorrentes das virtudes cardeais infusas são actos de caridade” (John Rziha).

De acordo com o objecto, dividimos as virtudes em virtudes intelectuais, morais (cardeais) e teologais. O Papa Francisco gostava de sublinhar que existe uma hierarquia das virtudes e que a primazia pertence às virtudes teologais, que têm “Deus como objecto e motivo” (Gaudete et exultate). De facto, a maior virtude é a caridade ou o amor. Assim, Santo Agostinho define a virtude simplesmente como “o amor rectamente ordenado”. O Bispo de Hipona acrescenta: “Ora, se a virtude nos leva à vida bem-aventurada, atrever-me-ia a dizer que nada é virtude fora do amor de Deus” (in “Cidade de Deus”).

A nossa vida cristã, a nossa vida divina na terra, assenta na graça, que é um hábito sobrenatural estático (entitativo). A graça fundamenta as virtudes teologais e as virtudes morais infusas. Tudo isto não são hábitos estáticos, mas dinâmicos. A graça divina, que nos eleva à ordem divina – sobrenatural –, torna-se dinamicamente operativa nas virtudes morais teologais e infusas, e os Dons do Espírito Santo, os hábitos sobrenaturais infundidos pelo Espírito Santo, aperfeiçoam as sete magníficas virtudes de um cristão autêntico – testemunhal: as três virtudes teologais e as quatro virtudes morais cardeais.

PARA FINALIZAR! – A perspectiva divina e sobrenatural da vida cristã: a graça, as virtudes infusas (teologais e morais) e os Dons do Espírito Santo. Estes, no nosso coração, tornam a nossa vida verdadeiramente feliz. É por isso que os santos são as pessoas mais felizes que andam na terra. É difícil ser santo? Basta dar um passo para além da mediocridade e já se é santo (Leon Bloy).

Pe. Fausto Gomez, OP

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