Cirilo de Jerusalém: Bispo e Catequista
Na Igreja primitiva, havia cinco patriarcados importantes. “Originalmente, estes patriarcados estavam localizados em importantes cidades romanas que eram significativas para os cristãos por várias razões. Primeiro, a comunidade cristã em cada cidade foi fundada por um dos Doze Apóstolos [com excepção de Alexandria]. Em segundo lugar, as cidades continham grandes comunidades cristãs lideradas por um bispo proeminente. Os cinco patriarcados e os seus fundadores são: Roma, fundada por Pedro; Constantinopla, fundada por André; Alexandria, fundada por Marcos; Antioquia, fundada por Pedro; e Jerusalém, fundada por Tiago.
Embora os cinco patriarcados ainda existam, vários factores contribuíram para a diminuição do seu papel no cristianismo…. No século VII, Jerusalém, Antioquia e Alexandria caíram nas mãos dos exércitos árabes muçulmanos…. E em Maio de 1453, Constantinopla, que tinha assumido o domínio dos restantes patriarcados orientais, caiu nas mãos dos turcos otomanos, deixando Roma como o único patriarcado nas mãos dos cristãos” (Elias D. Mallon, “Pentarchy” in https://cnewa.org).
Já nos debruçámos sobre os Padres de Roma, Antioquia e Alexandria. Agora, voltamos a nossa atenção para a Jerusalém do Século IV, onde encontramos Cirilo, o bispo conhecido pelas suas Conferências Catequéticas.
O Papa Bento XVI sublinha que a vida de São Cirilo “representa o enlace de duas dimensões: por um lado, a solicitude pastoral e, por outro, o envolvimento contra a sua vontade nas animadas controvérsias que atormentavam então a Igreja do Oriente” (Audiência Geral de 27 de Junho de 2007).
Nascido em 315 d.C., em Jerusalém ou nas suas proximidades, a formação de Cirilo baseou-se numa excelente educação literária, centrada no estudo da Sagrada Escritura. Foi ordenado bispo por Acácio, bispo de Cesareia, na Palestina, e apoiante do Arianismo. É por isso que se suspeita que Cirilo tenha abraçado o Arianismo, mas os seus escritos provam o contrário. De facto, surgiram conflitos entre Cirilo e Acácio, que levaram ao exílio de Cirilo.
O Papa Bento XVI confirmou que Cirilo foi exilado três vezes no espaço de vinte anos: “o primeiro em 357, com prévia disposição por parte de um Sínodo de Jerusalém, seguido em 360 por um segundo exílio por obra de Acácio, e por fim um terceiro, o mais longo durou onze anos em 367 por iniciativa do imperador filoariano Valente” (Audiência Geral de 27 de Junho de 2007).
Finalmente, Cirilo pôde retomar a posse da sua Sé em 378, trazendo paz e unidade aos fiéis.
Como já foi referido, São Cirilo de Jerusalém ficou conhecido pelas suas Conferências Catequéticas, proferidas na Basílica do Santo Sepulcro (ou Basílica da Ressurreição), em Jerusalém, por volta do ano 350 d.C.
As conferências podem ser divididas em dois grupos: o primeiro grupo era proferido durante a Quaresma e dirigido aos candidatos ao Baptismo, e o segundo grupo de conferências era proferido durante a Semana Santa e dirigido aos recém-baptizados.
O primeiro grupo tinha um Prólogo ou Procatéchese, seguido de dezoito Catequeses ou conferências com os seguintes temas: (1) Prelecção introdutória; (2) Sobre o pecado e o arrependimento; (3) Sobre o Baptismo; (4) Sobre os dez pontos da doutrina, um breve relato da fé; (5) Sobre a Fé; (6) O Creio em um só Deus; (7) O Pai; (8) Todo-Poderoso; (9) Criador do Céu e da Terra, e de Todas as Coisas Visíveis e Invisíveis; (10) E num só Senhor Jesus Cristo; (11) O Filho Unigénito de Deus, gerado pelo Pai, Deus Altíssimo, antes de todas as eras, por quem todas as coisas foram feitas; (12) Encarnado e feito homem; (13) Crucificado e sepultado; (14) E ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, e subiu aos céus, e sentou-se à direita do Pai; (15) E virá em glória para julgar os vivos e os mortos; (16) E num só Espírito Santo, o Consolador, que falou nos Profetas; (17) No Espírito Santo; (18) E numa só Santa Igreja Católica, e na Ressurreição da Carne, e na Vida Eterna.
O segundo grupo, chamado de Catequeses Mistagógicas (ou Catequeses sobre os Mistérios) era composto pelas seguintes palestras: (19) Renúncia a Satanás; (20) Sobre o Baptismo; (21) Sobre o Crisma; (22) Sobre o Corpo e o Sangue de Cristo; (23) Sobre a Sagrada Liturgia e a Comunhão. Aqui também foi incluída uma explicação da Oração do Senhor.
Os ensinamentos de São Cirilo sobre a Eucaristia marcam um desenvolvimento na doutrina, particularmente a sua clara exposição da Presença Real de Jesus na Eucaristia e o carácter sacrificial da Santa Missa. Relativamente à Presença Real, São Cirilo diz que, tal como Jesus transformou a água em vinho em Caná, também tem o poder de transformar o vinho no Seu próprio Sangue. Ensina, assim, que a mudança de substância ou transubstanciação (grego: μεταβάλλεσθαι – “metaballesthai”) é efectuada pelo próprio Cristo durante o Sacrifício da Missa.
Pe. José Mario Mandía